NOTÍCIA
Experiências bem-sucedidas mostram a importância dos programas de idiomas e das parcerias com outras instituições
Publicado em 31/07/2019
A forma mais ativa de internacionalizar o ensino superior ainda é um movimento bastante recente e inicial no Brasil. O seu formato mais passivo, que indica a mobilidade de docentes e discentes para o exterior, é um pouco mais comum, mas, de qualquer maneira, programas mais integrados e fundamentados ainda caminham em busca de modelos eficientes e sustentáveis. E é exatamente essa concepção mais abrangente do modelo de atuação que vemos em países que têm o inglês como a língua mãe.
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Pontos como contar com o idioma universal como o oficial, o alto investimento em educação e a alta demanda de alunos estrangeiros que procuram os destinos para dar continuidade nos estudos fazem com que alguns países como Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e Austrália, que inclusive figuram dentre os mais procurados pelos brasileiros para os seus intercâmbios, tenham aderido a essa tendência há muito mais tempo, o que leva a um panorama de experiência em relação à promoção de cooperação acadêmica que tem bastante a nos inspirar.
Um desses exemplos que podemos citar é a Coventry University, no Reino Unido. A empregabilidade é um dos fatores de importância dentro do contexto do ensino superior, e o mercado de trabalho e o interesse das empresas em alunos recém-formados é exatamente o fio condutor do programa de internacionalização da instituição.
De um lado estão os alunos que almejam as melhores perspectivas de futuro, do outro estão as indústrias, que buscam as mentes mais brilhantes, capazes de desenvolver soluções criativas para suas questões, para compor as equipes. E ao conectar esses dois elos criou-se uma parceria de sucesso que funciona baseada no interesse em comum.
A internacionalização se apresenta por meio das companhias participantes, que estão localizadas ao redor de todo o mundo, enriquecendo o programa ao permitir a troca de conhecimento e de visão referente às relações locais, regionais e internacionais, valorizando o polo de pesquisa por meio do intercâmbio de informações e da visão global formada nos participantes.
Dentre as iniciativas trabalhadas nesse contexto estão o desenvolvimento de serviços para o setor de saúde de Yorkshire, o segmento automotivo e de veículos utilitários em Coventry e Londres, aviação e manufatura na Indonésia e no Brasil e colaboração entre indústria e universidade na China e na Índia.
E a consolidação dos programas internacionais também se expandiu com o tempo para nações não nativas no inglês que se estruturaram para oferecer experiências consolidadas. Isso fica bastante visível ao navegarmos pelo ranking da Times Higher Education.
A primeira colocada da lista dentre as universidades mais internacionais do mundo está a University of Hong Kong, que recentemente embarcou em uma missão para se tornar uma universidade global na Ásia e a meta é fazer com que 50% de seus alunos tenham a oportunidade de estudar fora de Hong Kong durante o ano de 2019.
Em segundo lugar no ranking aparece a ETH Zurich, a universidade possui mais de 19 mil estudantes de mais de 120 países e é considerada a melhor universidade da Europa continental.
A Holanda e a Alemanha, que historicamente possuem altos padrões de excelência na oferta de cursos de pós-graduação, mestrado e doutorado, também têm se destacado no exercício de implementar planos de igual qualidade para o ensino internacionalizado. No geral, o inglês é que permite o meio de instrução e de comunicação, a exemplo do que fazem praticamente todas as instituições de ensino superior que ingressam nesse modelo de atuação.
Mas, nessa trilha, também podemos destacar nomes que estão dentre os mais tradicionais e desejados, como a célebre Harvard University e a Chicago University, que são grandes referências em internacionalização do Ensino superior. O programa de MBA Chicago Booth é um case: com campus fora do país (em locais como Hong Kong e Londres), seu approach é totalmente voltado para a formação de executivos globais, sempre incluindo os aspectos internacionais em seus programas de formação.
Se buscarmos um algo em comum entre todas essas instituições que buscam a internacionalização, sejam as da América do Sul, que ainda estão começando a aderir ao movimento, as da Europa, que apesar de não ter o inglês como língua materna, possuem um grande aporte para apoio da educação, possibilitando que haja mais investimento na área, ou as de países como EUA, Canadá e Austrália, encontraremos dois pontos que merecem atenção.
Apesar de parecer corriqueiro, o primeiro deles é, sim, o idioma, que pode ser o grande entrave para que as iniciativas fluam e se mantenham sustentáveis. É inegável que a inovação chega primeiro no inglês e, por isso, ele se torna quase que uma plataforma que dá suporte para todas as outras coisas que acontecem.
Ou seja, um programa paralelo de idiomas, que desenvolve a proficiência não apenas dos alunos, mas principalmente as habilidades pedagógicas dos professores, é uma etapa inicial bastante importante. Ele se torna o meio pelo qual as experiências e os conhecimentos são trocados. E não estamos falando que a comunicação do currículo tenha que ser assim, mas sim que todos precisam estar preparados para lidar com alunos, bibliografias, professores, pesquisadores e pesquisas que fogem da sua língua materna.
O segundo são as parcerias. A internacionalização pressupõe troca e cooperação. O próprio nome já diz: o propósito é se conectar aos outros e se influenciar e embeber de uma troca rica de conhecimento. Então, é preciso ir além dos próprios limites geográficos para construir uma iniciativa viva que vá além dos muros de casa.
*Aberto Costa é Senior Assessment Manager de Cambridge Assessment English, departamento da Universidade de Cambridge especializado em certificação internacional de língua inglesa e preparo de professores.
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