NOTÍCIA
Aumentar a taxa de jovens de 18 a 24 anos inscritos em programas de graduação continua sendo um grande desafio
Publicado em 19/11/2018
No Brasil, o acesso ao ensino superior representa um grande desafio educacional, tanto que o Plano Nacional de Educação (PNE) incluiu entre as suas 20 metas o objetivo de aumentar o percentual de jovens de 18 a 24 anos matriculados em programas de nível superior. Atualmente, apenas 18,1% deles estão nessa condição, mas a expectativa é que este indicador chegue a 33% até 2024. A julgar pelo ritmo de expansão dos últimos anos, é pouco provável que o feito seja alcançado, avaliam os especialistas educacionais.
A restrição do Fies e a crise econômica fizeram com o número de matrículas no ensino superior caísse em 2016, algo que não acontecia desde 2009. O Censo da Educação Superior de 2017 sinalizou uma melhora da situação, mas somente nos cursos a distância. “Esse aumento de ingressantes no EAD é muito importante para aqueles que foram excluídos do ensino superior. Mas não resolve a questão dos jovens que estão terminando o ensino médio agora”, alerta Rodrigo Capelato, diretor executivo do Semesp.
Sua observação se deve às diferenças entre o perfil de alunos do presencial e o do EAD. Com base nos microdados do Enade, o executivo aponta que as modalidades têm públicos bem distintos entre si, o que coloca em dúvida a tese de que as pessoas estão migrando do presencial para o modelo a distância por causa da mensalidade mais baixa – uma justificativa que faria sentido nesse momento de crise econômica.
No presencial, os alunos têm 22 anos e pagam, em média, R$ 1.009 de mensalidade. São solteiros, escolhem o curso por vocação, não trabalham ou trabalham eventualmente e recebem a ajuda da família para financiar os gastos. A escolha da instituição de ensino é feita com base nos critérios ‘qualidade’ e ‘reputação’.
Já no EAD, os estudantes têm 30 anos e pagam, em média, R$ 295 de mensalidade. Eles são casados, escolhem o curso por valorização profissional, trabalham 40 horas semanais ou mais, têm renda e contribuem com o sustento da família. Na hora de optar por uma instituição de ensino, os critérios preço e mensalidade sobressaem.
Também chama a atenção o interesse deles pelos cursos tecnológicos. Entre os 20 cursos mais procurados, nove são desse tipo. Entre os 20 mais procurados pelos alunos do presencial, nenhum é tecnológico. Sobre esse ponto, também vale dizer que o grau tecnológico registrou a maior alta de ingressantes entre 2016 e 2017: 16,2%.
A melhora da educação básica é um dos pontos cruciais para resolver esse problema do acesso ao ensino superior. O Brasil apresenta uma das mais expressivas parcelas de adultos que não concluíram o ensino médio, de acordo com o relatório Education at a Glance 2018, que traz a comparação de dados educacionais de 40 países. Mais da metade da população de 25 a 64 anos não tem esse nível de estudo, um percentual superior ao de Argentina (39%), Chile (35%) e Colômbia (46%).
Na opinião de André Lázaro, diretor da Fundação Santillana, os indicadores do ensino médio estão melhorando, mas ainda em ritmo insuficiente. “O ensino médio precisa de atenção e acredito que essa reforma do ensino médio não vai resolver os problemas. Pelo contrário, ela vai piorar a situação”, avalia.
Isso porque o modelo apresentado pelo governo via Medida Provisória, e agora em discussão no Conselho Nacional de Educação (CNE), prevê a oferta de diferentes itinerários de formação aos jovens. “Porém, em 62% dos municípios, há apenas uma ou duas escolas de ensino médio. Nesses locais, os jovens não terão escolhas”, diz. “Apesar de toda a precariedade do sistema atual, todos se sentem em condições de prestar o Enem, mas isso pode mudar se a reforma for feita nos termos propostos. Muitos alunos vão sair perdendo”, acrescenta.
A falta de um sistema de financiamento adequado é outro fator fundamental na opinião do especialista, que faz críticas ao modelo antigo do Fies, mas também reconhece o papel que ele exerceu na inclusão de mais jovens no ensino superior.
Justamente por causa da insustentabilidade do modelo que vigorou até 2014, Naercio Menezes Filho, coordenador do Centro de Políticas Públicas (CPP) do Insper, avalia como “natural” essa queda no crescimento das matrículas. “Houve uma expansão exagerada, que gerou taxas altíssimas de inadimplência no Fies. Não era um crescimento sustentável”, afirma.
Em sua opinião, é preciso desenhar um novo modelo de financiamento, pois o “desejo de ter o diploma continua. O diploma também continua sendo um requisito para avançar em muitas carreiras”, reforça.
A retenção é outro tópico lembrado pelo diretor da Fundação Santillana para melhorar a atratividade do ensino superior. “Muitos são os primeiros de suas famílias a ingressar em um curso superior, mas as instituições não reconhecem o esforço que eles fizeram para chegar até lá. Só salientam o que eles não sabem, mas poderiam valorizar o fato de eles serem persistentes, lutadores. Tem um fator psicológico importante no acolhimento que está sendo desprezado”, conclui.
Procura por cursos a distância cresce quase 30%