NOTÍCIA
Pacto formaliza compromisso das instituições de educação com a saúde dos alunos
Publicado em 19/09/2016
Ainda há muito o que se descobrir sobre o Zika, mas existe um consenso entre os profissionais da saúde: a maneira mais eficaz e acessível de combater a doença atualmente é acabar com os criadouros do mosquito Aedes aegypti, vetor da doença. Para isso, o trabalho de mobilização é central – e, pelo contato próximo com a comunidade, a escola tem papel fundamental nesses esforços.
O Ministério da Educação (MEC) e 20 organizações que atuam no setor assinaram em Brasília, no começo deste ano, o Pacto da Educação Brasileira contra o Zika. O documento, espécie de carta de formalização de compromisso, aponta que são mais de 60 milhões de pessoas diretamente vinculadas à escola e que “a educação pode ter uma formação mais significativa no sentido de propiciar uma cultura de promoção à saúde, respeito ao meio ambiente e à prevenção por meio do enfrentamento à proliferação do mosquito”. Para além do discurso, contudo, é no ambiente da escola e no dia a dia dos municípios que as ações de prevenção tomam forma.
Iolanda Barbosa, presidente da seccional Paraíba da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e secretária de Educação do município de Campina Grande (PB), destaca a importância de haver uma ação intersetorial, envolvendo áreas como Saúde, Assistência Social, Defesa Civil e Educação. Como o município está no “olho do furacão” desde o ano passado, ações de prevenção começaram meses antes do pacto conduzido pelo MEC. Em 15 de dezembro de 2015, a mídia já noticiava 19 casos confirmados de microcefalia relacionada ao Zika no estado. Em 26 de fevereiro, eram 59 casos confirmados e 440 sob investigação.
Ainda em outubro do ano passado houve uma convocação das secretarias pela Prefeitura de Campina Grande. “Havia uma discussão sobre a dificuldade de chegar a todas as residências para informar sobre ações de prevenção. Temos 20 mil alunos do ensino fundamental. Se conseguíssemos fazer com que cada criança percorresse cinco residências por meio de alguma atividade, seria possível chegar a 100 mil lares.” Segundo Iolanda, a secretaria criou material didático para todas as séries e a ação foi lançada em dezembro de 2015, com um “aulão” de orientação sobre as atividades sugeridas. Na principal delas, as crianças receberam fichas de acompanhamento de residências da vizinhança em que moravam. Ao voltar para a escola, os alunos traziam informações sobre a saúde das famílias e se havia sinais de focos do mosquito nas residências. Por meio de um serviço chamado Dengue Zapp – número específico para receber pedidos de vistoria via WhatsApp –, os professores poderiam avisar a prefeitura sobre possíveis focos.
Com a volta às aulas em fevereiro de 2016, as atividades com as fichas continuaram, afirma Iolanda. “Hoje, é principalmente esse trabalho que tem feito a diferença.” Também foi definido um dia da semana, em cada escola, para atividades específicas de combate ao Aedes, como apresentações e monitoramento do ambiente da escola. A dirigente diz que, atualmente, a rede pública do município se esforça para levar o material didático desenvolvido também às escolas da rede privada, como forma de ter melhor acesso aos condomínios fechados da cidade.
Ana Maria Pereira da Silva, diretora da Escola Municipal Maria das Vitórias Pires Uchôa de Queiroz, de Campina Grande, afirma que a comunidade foi receptiva às ações realizadas pela instituição. “Hoje, passando pelas casas e pelos quintais, já notamos diferença.” Ela conta que a equipe da escola aproveita o momento em que familiares e alunos chegam para as aulas para dar orientações e acompanhar o trabalho de prevenção. “Temos consciência de que esse é um trabalho contínuo, sem prazo para acabar.”
Uma expectativa comum em parte do país é de que o número de mosquitos Aedes aegypti em circulação volte a aumentar com a chegada da primavera e de temperaturas mais altas. É consenso entre especialistas, contudo, que a manutenção das ações de prevenção no outono/inverno foi muito importante. A redução da temperatura deixa mais lento o desenvolvimento das larvas do inseto, mas não interrompe o ciclo de reprodução. Afinal, os ovos do mosquito são capazes de ficar dormentes por cerca de um ano.
Além disso, não devemos perder de vista que o Brasil é um país muito grande e diverso. Na região Norte, por exemplo, o inverno costuma ser chuvoso. Quem chama a atenção para isso é Marlete Lopes, presidente da seccional Acre da Undime e secretária de Educação do município de Bujari (AC). “Em nossa região, especificamente, precisamos manter um alerta constante. Fazemos uma varredura na escola pela manhã e à tarde já temos chuva forte, com possível acúmulo de poças.” A dirigente tem acompanhado os encontros em Brasília no âmbito do Pacto contra o Zika.
Quanto ao apoio oferecido pela Undime aos municípios, explica Marlete, o foco da organização está em ações de comunicação, como divulgação de informativos e acompanhamento das ações feitas nos municípios. Em levantamento feito pela Undime sobre as principais atividades realizadas pelas escolas no país, as ações mais frequentes são palestras, mutirões de limpeza, confecção de material informativo e dramatizações, conta a dirigente.
No Estado de São Paulo, a prefeitura de São José do Rio Preto anuncia as atividades realizadas pelas escolas em informes publicitários publicados em um portal de notícias. A Escola Municipal Roberto Jorge promoveu uma gincana para arrecadar latinhas vazias e pneus, objetos que podem acumular água quando armazenados em quintais. A prefeitura também divulga o número de telefone do setor de Educação do Departamento de Vigilância Ambiental da Secretaria de Saúde para escolas do município que queiram orientações sobre trabalhos educativos.
Rita Maria de Oliveira é professora de uma das turmas de quinto ano de outra instituição do município, a Escola Municipal Olga Mallouk Lopes. Um dos trabalhos realizados pelos alunos de Rita está disponível no YouTube (http://bit.ly/rapcontraoaedes): um rap, apresentado aos outros estudantes e aos familiares, com algumas das principais recomendações para combater a proliferação do Aedes aegypti.
Rita conta que o trabalho com a turma começou com notícias e imagens publicadas nos jornais e discussões sobre o que os alunos viam na TV sobre o Zika e as demais doenças transmitidas pelo mosquito. “Em seguida, continuamos a trabalhar com textos e infográficos que mostravam os sintomas das doenças e o ciclo de reprodução do mosquito.” A professora também trabalhou com seus alunos uma peça de teatro que ela encontrou na internet. O título: O Mosquitão – que, na versão dos alunos de São José do Rio Preto, tornou-se A Mosquitona. “Os alunos decidiram mudar o nome quando descobriram que é a fêmea do mosquito que pica e transmite as doenças.”
Os alunos também confeccionaram cartazes informativos que foram distribuídos em comércios da região. “A criança é uma multiplicadora. Todas as turmas da escola têm algum projeto”, conta Rita. “A proposta inicial partiu da prefeitura, mas cada instituição adaptou da maneira como achou melhor. Para existir engajamento dos alunos, o ideal é deixar que eles pensem que tipo de atividade querem fazer. Devemos propor, e não impor.” Segundo a professora, toda essa discussão deixou os alunos mais atentos também à questão do lixo: não acumular em casa e não descartar em ruas e calçadas.
Em meio à gravidade das doenças transmitidas pelo Aedes aegypti, ainda é possível tirar um resultado positivo da situação: o trabalho em torno da prevenção pode ajudar a mudar hábitos ruins – como no caso do lixo – e combater a desinformação. A abordagem do Zika em sala de aula, por exemplo, pode ser um gancho para falar sobre como identificar fontes confiáveis de informação e filtrar o que chega até nós por meio das redes sociais.
A Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp) publicou um conjunto de videoaulas, voltado a professores, sobre o vírus Zika. Um dos episódios aborda justamente os boatos difundidos on-line sobre a doença – entre eles, o de que a real causa da microcefalia seria uma vacina dada às grávidas. São boatos que apelam para o medo e que são facilmente derrubados ao se procurar informações confiáveis. Como afirma o professor Atila Iamarino na videoaula da Univesp, é preciso dar aos alunos ferramentas para julgar esses e os próximos boatos que aparecerem.
Veja onde encontrar materiais e informações sobre o vírus Zika e o combate ao Aedes Aegypti:
http://combateaedes.saude.gov.br/
Portal do Ministério da Saúde sobre Dengue, Chikungunya e Zika. Apresenta os sintomas e os tratamentos de cada doença, informações sobre ações de prevenção e combate ao mosquito Aedes aegypti e últimas notícias.
http://bit.ly/cartilha_zika
Cartilha em formato pdf, também publicada pelo Ministério da Saúde, com informações sobre o vírus Zika para o público em geral. Inclui detalhes sobre os cuidados com gestantes, recém-nascidos e bebês com microcefalia.
http://bit.ly/curso_zika_univesp
Curso produzido pela Univesp TV sobre como abordar o vírus Zika na escola. São cinco videoaulas, com cerca de dez minutos cada, voltadas a professores.
http://bit.ly/boatos_zika
Material produzido pelos alunos do Instituto de Biociências (IB) da Universidade de São Paulo (USP) voltado a professores. Traz material de apoio e propostas de atividades voltados ao esclarecimento sobre o Zika e à desconstrução de boatos sobre a doença.
http://bit.ly/drauzio_zika
Playlist de vídeos sobre o vírus Zika publicados no canal do médico Drauzio Varella no YouTube. Traz vídeos explicativos, bate-papos e respostas a perguntas enviadas por internautas.
Outro motivo de forte preocupação para os sistemas de educação e saúde brasileiros tem sido a Chikungunya, doença provocada pelo mesmo mosquito da Zika, o Aedes aegypti, e por um segundo inseto, o Aedes albopictus. A incidência de mortes em decorrência da ação da doença foi maior do que a da Zika no primeiro semestre deste ano, em especial no Nordeste. Como a dengue, a Chikungunya é de difícil diagnóstico. Há suspeitas quando a pessoa registra febre súbita maior do que 38 graus e tem dores articulares mais intensas e persistentes do que as provocadas pela dengue. O período de incubação varia de 2 a 10 dias.
O que é o Zika?
É um vírus transmitido pela picada da fêmea do mosquito Aedes aegypti. Segundo o Ministério da Saúde, foi identificado no Brasil em abril de 2015. Foi detectado pela primeira vez em 1947, em macacos na floresta Zika, em Uganda. A primeira forte epidemia ocorreu em 2007 na Micronésia, um grupo de ilhas no Oceano Pacífico. Um estudo publicado na revista Science levanta a hipótese de o vírus ter chegado ao Brasil em meados de 2013, durante a Copa das Confederações, por meio de viajantes que vieram da Polinésia Francesa.
Quais são os sintomas?
De acordo com o portal do Ministério da Saúde, cerca de 80% das pessoas infectadas pelo vírus Zika não desenvolvem manifestações clínicas. Quando ocorrem, os principais sintomas costumam ser febre baixa, dor de cabeça, dores nas articulações, coceira, manchas vermelhas na pele e vermelhidão nos olhos. Os sintomas normalmente desaparecem de forma espontânea após um período de 3 a 7 dias.
Qual o tratamento?
Para os casos sintomáticos, uso de paracetamol ou dipirona para controle da febre e da dor. Não é recomendado o uso de ácido acetilsalicílico e anti-inflamatórios por aumentarem o risco de eventuais complicações hemorrágicas. Vale lembrar que a automedicação é perigosa: apenas um médico pode informar o tratamento adequado para cada caso.
Por que o Zika preocupa?
Porque há fortes indícios – a Organização Mundial da Sáude (OMS) fala em “forte consenso” entre a comunidade científica – de que há relação entre a contaminação de gestantes pelo vírus Zika e a microcefalia em bebês. Cientistas também relacionam o vírus a casos da síndrome Guillain-Barré, uma doença inflamatória do sistema nervoso que causa fraqueza muscular progressiva, perda de movimentos e paralisia. Além disso, ainda há perguntas sem resposta sobre a dinâmica de transmissão do vírus. A velocidade inicial de disseminação, por exemplo, foi muito mais rápida no caso do Zika do que no da dengue e da Chikungunya – doenças que também podem ser transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti.
Como se prevenir?
A principal medida é o combate constante aos criadouros do mosquito Aedes aegypti. Entre os locais propícios a se tornarem foco de larvas do inseto estão reservatórios de água destampados, pneus, garrafas, sujeira que acumule água, ralos, canaletas, pratos de vasos de plantas, bandejas de ar-condicionado e geladeiras, baldes e lonas. Também são recomendados o uso de repelentes e a instalação de telas em janelas e portas.