NOTÍCIA
Desde 2008, quando o governo federal criou o Sistema de Seleção Unificada (SiSU) e transformou o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no principal meio de acesso às universidades federais, o número de candidatos na prova só cresceu. Foram sucessivos recordes, agora interrompidos com uma […]
Publicado em 31/08/2015
Desde 2008, quando o governo federal criou o Sistema de Seleção Unificada (SiSU) e transformou o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no principal meio de acesso às universidades federais, o número de candidatos na prova só cresceu. Foram sucessivos recordes, agora interrompidos com uma queda de quase 1 milhão no número de inscritos. De 8.722.356, o número de estudantes confirmados caiu 11,2%, atingindo 7.746.057.
O ministro Renato Janine Ribeiro descartou o aumento da taxa de inscrição (de R$ 35, o valor foi para R$ 63) como uma das causas. O mais provável, em sua opinião, é que os alunos indecisos tenham desistido da inscrição para evitar uma possível penalidade. Em função do alto número de faltantes, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) anunciou que inscritos não pagantes perderiam o direito à gratuidade no ano seguinte caso não comparecessem à prova.
Ocimar Alavarse, professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (Feusp) e coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisas em Avaliação Educacional (Gepave), tem outras quatro hipóteses para o caso. As mudanças no Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) seriam uma delas. Além dos impactos efetivos – o potencial de alunos com condições para solicitar o financiamento encolheu, assim como o orçamento do governo para o programa -, é possível que um “ruído” de comunicação tenha levado muitos alunos a supor que o programa não estava mais disponível e, consequentemente, a desistir do processo.
Também pode ter contribuído a tomada de consciência por parte de alguns estudantes quanto às reais condições de passar por algum processo seletivo com 500 pontos ou menos, a média da maioria. “As pessoas vão conversando umas com as outras e vão se dando conta de que têm poucas chances de fato”, aponta.
A eliminação de uso do Enem como certificado de conclusão do ensino médio para menores de 18 anos pode ter sido outro fator, já que havia um movimento forte de alunos do 1º e do 2º ano (EM) usando a certificação para encurtar, por vias judiciais, a distância ao ensino superior.
Também ligada à concessão de certificados, a quarta hipótese levantada pelo especialista diz respeito a um provável esgotamento do estoque de adultos que concluíram o 2º grau há muitos anos e hoje estão buscando ingressar no ensino superior usando a pontuação obtida na prova.
Todas essas possibilidades, que podem inclusive aparecer combinadas, já estariam se manifestando no alto número de alunos faltantes na prova, acredita Alavarse. Em 2014, 2,2 milhões de alunos, quase um quarto do total de inscritos, não compareceram à prova.