NOTÍCIA
Pesquisador na área de alfabetização propõe alternativa que lança mão do texto poético e da subversão da linguagem
Publicado em 09/12/2013
Em linha semelhante de raciocínio, porém com o foco no domínio da linguagem escrita, Belintane insere o leitor na discussão do que sejam o Sujeito, o Outro e a Linguagem na concepção lacaniana, traçando a relação entre duas dimensões fundamentais de toda linguagem – a comunicativa (por assim dizer, séria) e a poética (ou lúdica). Com a finalidade de dar conta, no entanto, de certa especificidade da linguagem escrita, o autor recorre a uma vasta bibliografia e conclui que há um corpo perdido na passagem da oralidade para a escrita.
Os três capítulos seguintes tentam esclarecer essa perda: no Capítulo 2, o autor faz menção crítica ao pragmatismo pernicioso presente nas escolas públicas, como resultado de propostas e programas governamentais; no Capítulo 3, discorre sobre sua proposta de valorização do trabalho com o texto poético; no Capítulo 4 apresenta relatos de duas experiências de aplicação da teoria em pauta.
É fato que na década de oitenta a pesquisadora americana Shirley Heath trouxe à tona em sua obra Ways with words: language, life, and work in communities and classrooms conclusões semelhantes à de Belintane, na medida em que apontam para problemáticas do desempenho oral cotidiano de crianças das camadas populares que poderiam afetar sua maior ou menor facilidade no acesso à escrita, propondo, também, a necessidade da ampliação do repertório de textos ficcionais. O mérito de Belintane, no entanto, reside na proposta ousada para a aplicação em sala de aula em que ao texto poético é atribuído o caráter da subversão da linguagem, e não apenas o da ampliação da capacidade abstrativa.
Trata-se, por isso tudo, de volume que traz contribuições significativas para a área de pesquisa e reflexão em torno de alfabetização e letramento nos anos iniciais, seja pela relevância dos dados de pesquisa que comporta, seja pela proposta alternativa com a ênfase no lúdico, na galhofa, no desejo, na transgressão, e não nas práticas ritualizadas centradas na demanda exigente do outro.
*Maria Sílvia Cintra Martins é professora do Departamento de Letras da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)