NOTÍCIA
Algumas características das redes sociais podem ser úteis para o aprendizado, mas, por questões de segurança e privacidade, escolas priorizam a criação de seus próprios ambientes de interação com os professores
Publicado em 08/11/2012
“Além de serem o hábitat dos alunos, elas oferecem um potencial muito grande de interação e colaboração”, destaca o professor João Mattar, mestre em tecnologia educacional pela Boise State University (EUA) e professor na Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo. Ele justifica por que vários estudos mostram que as redes podem ser eficientes como ferramenta pedagógica. “Elas são menos formais do que os Ambientes Virtuais de Aprendizagem [AVA], que acabam incomodando por sua rigidez. E permitem fazer quase tudo que um AVA faz.”
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Mas, apesar de reconhecer o potencial desse canal on-line, Mattar também aponta obstáculos para o seu uso pedagógico. “Há desafios como, por exemplo, não invadir o espaço de lazer e comunicação informal do jovem, além de questões como a ética e a segurança.”
Desafios na rede
Mesmo com alguns cuidados com a privacidade, como recursos que permitem restringir o acesso de informações a grupos de amigos ou colegas de classe, o Facebook enfrenta queixas relacionadas à segurança das informações publicadas, o que levanta questões sobre o uso desse tipo de ferramenta na educação.
Pesquisa realizada pela empresa de segurança de dados McAfee com estudantes via internet mostrou que mais de 90% dos entrevistados já presenciaram nas redes o chamado “ciberbullyng” (quando o internauta ofende ou trata de forma cruel outra pessoa). E a idade com que os estudantes têm acesso a esse tipo de ferramenta também preocupa. Segundo um levantamento feito em 2011 pela companhia de softwares para proteção Trend Micro, as crianças brasileiras são as que mais cedo entram nas redes sociais. Enquanto a média mundial é de 12 anos, os brasileiros já usam esses serviços com apenas 9 anos, sem maturidade para lidar com esse ambiente.
“O mundo virtual tem características muito parecidas com o real. E uma criança de 9 anos não está preparada para enfrentar o mundo real sozinha”, explica a pedagoga Valdenice Minatel, coordenadora de tecnologia educacional do colégio Dante Alighieri.
Preocupadas com a segurança da internet, algumas escolas criaram redes sociais próprias, nas quais monitoram o que é publicado e, se necessário, retiram textos e identificam os responsáveis. É o caso da Escola Parque, do Rio de Janeiro, que trabalha com mais de três mil alunos da educação infantil ao ensino médio. Em 2011, a escola lançou a EP2, rede social exclusiva aos seus alunos.
“Muitos estudantes já utilizavam o Facebook e alguns professores pensaram em usar essa ferramenta para atividades extras, com a oferta de conteúdos como vídeos ou mesmo exercícios”, lembra o psicólogo Giocondo Magalhães, coordenador do ensino fundamental. “Mas havia várias questões: os pais eram resistentes ao uso, apesar de muitos serem pressionados por seu filhos. Além disso, o Facebook não permitia o acesso de menores de 13 anos e não oferecia controle sobre o processo”, conta ele. Foi então que surgiu a ideia da rede própria, que seria um espaço protegido e voltado para aprendizagem. Na EP2 não há a possibilidade da criação de perfis falsos (o Facebook admite que mais de 80 milhões de contas de seu serviço não são verdadeiras), pois a senha de uso está associada ao aluno.
Resistências
Para o projeto, a escola reuniu estudantes de várias séries e pediu suas opiniões. Nesse ambiente, os alunos têm um perfil e aprendem como utilizar uma rede social, professores publicam atividades que consideram interessantes para os alunos e estudantes tiram dúvidas sobre as matérias. E quando há algo que foge do foco, como conteúdo ofensivo, há intervenção de moderadores. “A ideia não é punir, mas entender o que aconteceu”, afirma Magalhães.
Se, por um lado, a questão do controle é importante para manter o foco no objetivo educacional desse tipo de ferramenta, por outro, levanta questões associadas a limitações e à privacidade do usuário. “Para o aluno, fica a sensação do ‘julgamento’ do professor frente ao que ele coloca em sua página, que tipo de linguagem ele usa, que comentários faz, que erros comete”, aponta a fonoaudióloga Claudia Elisa Navacchia, especialista em linguagem e aprendizagem.
No caso da Escola Parque, por exemplo, é possível notar uma resistência maior ao uso da rede da escola por parte dos estudantes mais velhos. Como usam outros serviços sem as limitações de uma plataforma voltada para o estudo, eles participam de forma menos engajada que os menores, que não possuem essa vivência anterior.
Difícil competir
Apesar de achar difícil disputar a atenção dos alunos com outras redes sociais, Celso Maurício Hartmann, diretor da unidade do Colégio Positivo – Ângelo Sampaio, em Curitiba, acredita que oferecer um ambiente controlado é a melhor solução. A sua unidade é uma das primeiras da rede a adotar o novo formato de portal educacional, que será utilizado por mais de 300 escolas. Criado em 2000, o canal on-line passou por uma reformulação, influenciado por redes como Facebook, Orkut e Twitter. “Quase todos os nossos alunos têm acesso a esse tipo de serviço, e muitos professores começaram a interagir com estudantes por esse canal, até passando tarefas”, diz Hartmann.
A solução foi incorporar algumas características desses serviços, passando a ser a rede social de seus alunos para a educação. Os alunos têm perfis com fotos, expõem dúvidas e trocam ideias. Já os professores controlam a realização de tarefas de casa on-line, entre outras coisas. “Fico mais tempo na rede da escola do que no Facebook”, afirma Enrique Villend Fernandes Wanderley, de 14 anos, aluno da Positivo do primeiro ano do ensino médio. “Além de tirar dúvidas com os professores, faço pesquisas e exercícios”, explica.
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