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Ação publica

Relacionamento com ex-alunos fez escola estadual sobreviver

Publicado em 10/09/2011

por Celso Kinjô


Grafites desenhados no muro do Alves Cruz: ações integradas com a comunidade (Foto: Gustavo Morita)

O Alves Cruz pode estar muitos pontos abaixo das melhores escolas particulares, mas tem feito bonito no ranking das escolas públicas de São Paulo. Não chegou lá por obra do acaso ou do empenho de alguns professores. Mergulhou fundo na decadência iniciada décadas passadas no ensino médio público e chegou a ter o fechamento anunciado pelo pior dos motivos: falta de alunos. Localizada num bolsão privilegiado da cidade, entre a Vila Madalena dos bares e o Jardim das Bandeiras dos casarões, a escola foi socorrida por uma eficiente, talvez a melhor ferramenta de marketing: um grupo de ex-alunos.

Os especialistas da área sustentam que o testemunho funciona, para efeitos de publicidade, como um selo de qualidade e garantia. Foi a salvação do colégio, que ressurgiu como fênix – não por acaso, designação da ONG fundada com essa finalidade específica – e teve um dos dez melhores desempenhos no Enem entre as escolas públicas da capital paulista. No ano passado, alcançou o quarto lugar. Este ano, planeja subir ao pódio.

"O segredo é trabalhar com metas", ensina a diretora Solange Duquesi, 28 anos de magistério público e há três dirigindo o Alves Cruz. Por metas, entenda-se um controle de qualidade visando à melhoria do ambiente de ensino e aprendizado.
Experiente, com passagens por várias escolas de periferia, a diretora Solange afirma que não fez outra coisa senão melhorar o que já estava funcionando bem. Assim, bons professores foram prestigiados, e aqueles menos eficientes acabaram sendo removidos.


Famílias presentes


A APM (Associação de Pais e Mestres) foi revigorada, participando mais do cotidiano, por meio de reuniões tão frequentes quanto mobilizadoras. "Passamos aos alunos a educação de base e, por isso, a escola deve estar integrada com as famílias", diz a diretora.

Sua missão não é tão simples. A Alves Cruz é conhecida como ‘escola de passagem’, por estar localizada perto de um corredor que liga centro e zona oeste, sem citar o seu entorno economicamente privilegiado. Sua clientela é heterogênea, segundo a diretora. Conta com estudantes que residem nos arredores do espigão da Paulista, há muitos egressos de escolas particulares e outros que vêm da periferia e investem duas horas de viagem de ônibus.

Os atuais estudantes formam um grupo de 600 adolescentes que, em comum, revelam empatia com a escola. "Aqui, o aluno escolheu a escola de fato", admira-se o coordenador pedagógico, professor Daniel, apontando para os muros externos que, em lugar daquele pastel caiado e com pichações, exibem grafites desenhados por eles próprios. O aprendizado acontece nas oficinas mantidas pela ONG Fênix, com instrutores voluntários que vão ao Alves Cruz. Ao menos uma vez por ano, os muros recebem novos desenhos.

A escola funciona de manhã e à noite. O período vespertino fica por conta de oficinas, entre elas percussão, teatro, maracatu, RPG, violão, quadrinhos, grafite, afora cursos promovidos pelo Cidade Escola Aprendiz, ONG voltada para a educação comunitária. Dos cursos, com aulas também em fins de semana, podem participar aqueles que moram ou trabalham na região. Por essa razão, é conhecida como ‘escola que não fecha’, ou a escola aberta para todos do bairro.

A fidelidade dos ex-alunos acabou vindo à tona quando houve a ameaça de fechamento. A ONG Projeto Fênix se tornou o principal sustentáculo da escola em seu momento crítico. Entre seus líderes, o clínico-geral Zyun Masuda, o cineasta André Klotzel, os cantores Ná Ozzeti e Paulo Tatit. Reunidos numa festa de confraternização, em 2000, resolveram partir para a ação e, cada qual em sua área de atuação, buscaram recursos, apoios e conseguiram que a Secretaria de Educação reformasse o prédio.

A diretora Solange Duquesi defende a importância de tornar públicas as ações bem feitas. "Há diretores que fazem um trabalho muito bom na periferia, mas não mostram o que fazem", revela. "Talvez a diferença nossa seja acreditar naquilo que fazemos e em  tentar fazer o trabalho da melhor maneira possível".

Autor

Celso Kinjô


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