Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo aposta na expansão de público por meio da formação musical dos docentes da Educação Básica
Publicado em 10/09/2011
O maestro Antonio Carlos Neves Pinto com a Filarmônica de São Caetano do Sul durante um concerto didático |
"Com que roupa eu vou pro samba que você me convidou?". A dúvida enunciada no clássico samba de Noel Rosa poderia, tranquilamente, ser transposta para o universo de um grupo de garotos da 5ª série do ensino fundamental quando tomaram ciência de que fariam, no início deste ano, uma visita inédita: iriam assistir ao concerto didático "Carnaval dos Animais", apresentado pela Orquestra do Tucca/Sinfonieta Fortíssima na Sala São Paulo, novo templo paulista da música erudita. Dúvida e ansiedade talvez fossem apenas um pouco maiores que na música popular, pois, afinal, iriam se deslocar a um ambiente desconhecido, para ouvir uma orquestra que, sozinha, talvez tivesse mais músicos do que a maioria conhecera antes.
Já Laura Imenes, professora de educação artística da Emef Bartolomeu Lourenço de Gusmão, zona leste de São Paulo, surpreendeu-se com as descobertas de seus alunos da 3ª série em meio a outro concerto didático, "Passeio pela História da Dança", realizado no mesmo local com o maestro João Carlos Martins regendo a Orquestra Bachiana Filarmônica.
"Os sons eram leves e agudos", disse um aluno. "O maestro abaixava a mão e os músicos tocavam baixo, levantava e tocavam alto. Quando abria, tocavam médio", observou outro. "Eu os vi tocando junto um instrumento imaginário e ‘dançando’ nas poltronas. Depois, contaram que ficaram com vontade de aprender um instrumento", lembra Laura.
Criado em 2001 pela Coordenadoria de Programas Educacionais da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), o projeto
Descubra a orquestra
integra o Programa Caminho das Artes da Secretaria de Estado da Educação e oferece também cursos de formação musical para professores das redes municipais paulistas, estadual e particular.
O objetivo dos cursos, de acordo com o maestro Antonio Carlos Neves, coordenador- geral dos programas educacionais da Osesp e regente da Orquestra Filarmônica de São Caetano do Sul, não é formar professores de música, mas municiar de informações aqueles que querem trabalhar com o universo musical em sala de aula, além de proporcionar aos alunos momentos de fruição aos quais não costumam ter acesso.
"A meta principal é conquistar novos apreciadores de música sinfônica entre os alunos, mas para isso trabalhamos antes com os professores, munindo-os de informações que permitam transformar o meio em que atuam", diz Neves.
Outra maneira complementar de estimular os jovens é a oferta de concertos matinais ao preço de R$ 2. Foi por meio desse trabalho que os alunos de 5ª a 8ª da professora de língua portuguesa Imaculada Conceição, da EE Shisuko Ioshida Niwa, em Rio Grande da Serra, descobriram um novo universo musical. "Acharam que ia ser uma chatice, mas ficaram eufóricos com o evento e deslumbrados com a Sala São Paulo, com os músicos, a música e tudo o mais", conta.
O que motiva os professores a participar do curso da Osesp, que tem 68 horas de carga horária (30 presenciais, 30 on-line e oito de atividades pré-evento e evento), são as oportunidades de aquisição de novas ferramentas para o ensino, troca de informações e contato com outros profissionais.
Professor de educação artística, Elísio Zanotti leciona em três escolas públicas da capital e do interior de São Paulo. Sem ter conhecimentos específicos de música, precisava dar conta de quatro linguagens artísticas (artes plásticas, teatro, dança e música) para cumprir os PCNs. Optou por levar seus alunos de 6ª a 8ª séries da EE Sidrônia Nunes Pires, em Cotia, para conhecer a música sinfônica.
"O meu trabalho estava pautado no princípio de que não deveria ‘levar’ a música dita erudita até eles, mas deveríamos aprender juntos com o que cada um poderia trazer", conta. Assistir ao concerto didático era parte desse conhecer, mas antes disso os alunos tiveram a chance de mostrar o que ouviam de música em seu dia a dia. "Alguns trouxeram seus instrumentos para as aulas e tocaram, outros exibiram coreografias de street dance, ou fizeram apresentações de percussão corporal e cantaram suas composições", recorda. O resultado do trabalho de preparação foi que, no dia do concerto, os alunos ficaram deslumbrados com a orquestra e com a beleza e os recursos da Sala São Paulo.
Cursos diferenciados
As turmas de professores são formadas segundo seus conhecimentos prévios em música. Há classes de docentes com conhecimento musical, mas que nunca participaram dos cursos da Osesp; cursos para professores sem conhecimento musical nenhum e turmas de professores que já participaram de cursos da Osesp anteriormente e desejam aprofundar seus conhecimentos. Além disso, as turmas também são divididas conforme o nível de ensino com que trabalham: há classes de professores de ensino fundamental 1, de ensino fundamental 2 e outras de ensino médio e EJA.
O repertório dos concertos didáticos apresentados na Sala São Paulo muda a cada semestre. Por isso, o conteúdo também varia, já que um dos objetivos é dar subsídios ao professor para que prepare seus alunos para o concerto.
De forma geral, os cursos combinam teoria musical e sugestões de atividades pedagógico-musicais. É apresentado um referencial teórico, construído a partir da experiência de diversos educadores da primeira metade do século 20 que influenciaram a educação musical brasileira como o suíço Émile Dalcroze, o belga Edgar Willmens, o húngaro Zoltan Kodály e o alemão Carl Orff, além de alguns da atualidade como o inglês Keit Swanwick, o canadense Murray Shafer e a argentina Violeta Gainza. Esse referencial é confrontado com as ideias e pesquisas de educadores brasileiros como Teca Alencar de Brito, Carlos Kater, Ilza Joly e Esther Beyer.
A cada semestre, a professora Isamara Alves Carvalho, uma das responsáveis por ministrar o curso, pede aos participantes que, além de preparar os estudantes para os concertos, planejem alguma atividade musical, a partir das práticas e da teoria que tiveram nas aulas presenciais e a distância. Essas atividades podem ser realizadas nas disciplinas em que atuam – língua portuguesa, história, educação artística.
"Os professores fazem esse planejamento no curso a distância. Os colegas leem o seu plano de aula, comentam, criticam e opinam em fóruns e chats", conta Isamara. De acordo com a sua colega e formadora da Osesp, Maria Cecília Rodrigues Torres, muitos dos alunos-professores destacam que a música os auxilia no ensino de outras matérias e em projetos multidisciplinares e interdisciplinares.
Vagas e inscrições
Todo semestre a Osesp oferece cerca de 250 vagas para o "Descubra a Orquestra", que realiza cerca de 50 concertos didáticos ao ano. Cada professor pode trazer até 120 alunos para o concerto. Em 2008, mais de 54 mil alunos assistiram aos concertos didáticos. Cerca de 70% das vagas são destinadas a professores das escolas estaduais paulistas em função da parceira com a Secretaria de Educação. O restante é aberto a professores de escolas municipais ou particulares, desde que suas escolas arquem com o transporte para o concerto. Professores de escolas municipais e particulares também pagam uma taxa referente ao material e os alunos das escolas particulares pagam um ingresso de R$ 5,00.
As inscrições para os cursos do 2º semestre de 2009 acontecerão de 29 de junho a 3 de julho. Consulte o site
www.osesp.art.br/educacionais
ou ligue para (11) 3367-9572 para mais informações.
Viagem no Tempo |
Em 2008, as escolas já receberam os dois primeiros CDs da série: "Alma brasileira" e "Aurora luminosa". Com trilha sonora executada pela Orquestra Sinfônica Nacional, os CDs contam a história da música brasileira em paralelo com a história política e social do país. |
Orquestras Parceiras |
|