Pesquisa revela que 56,9% dos professores brasileiros estão satisfeitos com as condições de trabalho; apenas 13% acreditam que seus conhecimentos são objeto de valorização dos alunos
Publicado em 10/09/2011
Professores otimistas, satisfeitos com o seu trabalho e apaixonados pelo ensino. Aparentemente distante da realidade brasileira, essa descrição é exatamente o que se depreende da leitura de uma pesquisa realizada com mais de três mil professores brasileiros pela Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI) e pela Fundação SM, braço social do Grupo SM. Coordenada pela coordenadora-executiva do Centro de Educação e Documentação para Ação Comunitária (Cedac), Maria Tereza Perez, a pesquisa As Emoções e os Valores dos Professores Brasileiros traz números expressivos: 56,9% estão satisfeitos com suas condições de trabalho; 53% são professores porque gostam de ensinar; 73,1% afirmam ser positivos em relação ao seu trabalho; e 65,9% dos entrevistados não deixariam seu trabalho atual. "Mostramos que, ao contrário da percepção do senso comum, os professores têm compromisso e encaram o desafio de ensinar", afirma Maria Tereza.
Com o objetivo de mapear as emoções do professor e identificar quais são seus valores, o estudo aferiu a realidade de sete Estados (Ceará, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo) – sem a preocupação, por exemplo, de estabelecer critérios como "escola em região central" ou "em periferia". Para isso, enviou questionários fechados aos participantes (ou seja, ao responder à pergunta "está satisfeito com suas condições de trabalho", as condições de trabalho não foram especificadas). Num universo de 3.584 professores que responderam às perguntas, 45,7% são da rede particular e 54,3% da rede pública.
Maria Tereza Perez, do Cedac: "professores têm compromisso e encaram desafio de ensinar" |
A pesquisa também revelou que o nível de satisfação do professorado brasileiro aumenta em função do número de anos dedicados ao magistério. Assim, enquanto 59,9% dos docentes com menos de três anos de experiência estão satisfeitos, a porcentagem aumenta para 69% no caso dos professores com mais de 30 anos de profissão. Maria Sena do Nascimento, 64 anos, 27 deles dedicados ao magistério, é uma das professoras otimistas. Hoje afastada por problemas de saúde, ela cuida de outras tarefas nas duas escolas públicas em que trabalha. "Não sei o que precisaria acontecer para eu dizer que não quero mais ser professora. Sinto falta da sala de aula todos os dias", conta. Para a coordenadora do Cedac, a explicação para o número está na recente investida do governo federal em educação. "Os professores mais velhos estão animados com a injeção de investimentos na qualidade da educação, que aconteceu a partir da década de 90. Os professores mais novos sentem que os investimentos precisam avançar mais", aponta.
Inversão
No que diz respeito à relação do professor com seus alunos, a pesquisa levantou um dado revelador: apenas 13% dos docentes acreditam que os alunos valorizam seu conhecimento. "Como, se a escola é, prioritariamente, o lugar do conhecimento? Que professor é esse?", indaga a coordenadora. Mais importante que o conhecimento é a valorização do professor pelo aluno, opção do questionário que obteve 29,1% das respostas na pesquisa. A falta de respeito é considerada por 53,5% dos entrevistados o maior motivo de insatisfação em relação aos alunos. Mas Maria Tereza pondera que, antes de exigir respeito dos alunos, a escola e os professores devem instituir uma cultura de respeito na instituição. "Como estamos respeitando esses alunos?", pergunta.
Os números dos professores
Outros destaques do levantamento feito pela OEI e pela Fundação SM:
79,5 % dos professores consideram que a sociedade não valoriza os professores
51% também não se sentem valorizados pelos pais de alunos
74,5% consideram que a educação piorou bastante ou muito nos últimos anos
64,6% afirmam que seu principal defeito como professor é compreender os alunos mais difíceis
69,5% dizem participar de cursos de formação de professores freqüentemente
Na escola pública, outra percepção
Em contrapartida à pesquisa realizada pela Fundação SM e pela OEI, um outro levantamento, divulgado em meados de novembro pela Fundação Victor Civita e pelo Ibope, indica que apenas 21% dos professores estão satisfeitos. A pesquisa ouviu 500 docentes em todos os Estados brasileiros. Mas, diferentemente do outro estudo, este ficou circunscrito aos professores da rede pública. Um dos principais motivos de descontentamento é a instabilidade financeira. Enquanto apenas 32% dos professores afirmam ter conquistado estabilidade nesse quesito, 90% do total considera-a condição fundamental para uma boa qualidade de vida.
A pesquisa foi além: levantou que 90% dos professores afirmam ter boa didática de ensino, mas 70% dizem que a falta de motivação dos alunos é o principal problema em sala de aula. Para o professor Celso Favaretto, da Faculdade de Educação da USP, a falta de motivação está também na dupla jornada de muitos docentes, nas condições de trabalho precárias e com as salas de aula lotadas. "Essa insatisfação do professor com o trabalho está relacionada a uma má gestão de todo o sistema escolar", critica Favaretto.