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A paisagem é familiar: pilhas de provas meticulosamente preparadas, devidamente aplicadas, prontamente corrigidas e imediatamente despejadas nas lixeiras
Publicado em 10/09/2011
Avaliar mais e melhor: eis um dos imperativos categóricos que os tempos atuais têm decretado às práticas escolares, cuja imagem-síntese bem poderia ser a de um professor e seus alunos às voltas com as maratonas avaliativas de final de semestre. A paisagem é familiar: pilhas e pilhas de provas meticulosamente preparadas, devidamente aplicadas, prontamente corrigidas e imediatamente despejadas nas lixeiras. Imagem obtusa e melancólica, mas referendada por quase todos.
Tudo se passa como se a avaliação (ininterrupta, de preferência) fosse a única estratégia capaz de dispor um saber confiável, porque objetivo, sobre os itinerários da relação professor-aluno, apontando prognósticos desfavoráveis e alternativas corretivas, se necessário for. Daí o apogeu da era calculista nas escolas – estes tempos esquálidos marcados por uma espécie de fome normativa que não se farta.
Sem amarras de nenhuma ordem, a volúpia avaliatória se espraia. Já não basta apurar destrezas intelectuais, mas esquadrinhar "competências e habilidades", as quais remeteriam a determinadas predisposições psicológicas do aprendiz. O crivo avaliativo passa então a contemplar domínios não apenas conceituais, mas também procedimentais e atitudinais: é preciso aprender "a saber, a fazer, a conviver, a ser" – a lista pode se alongar ao incomensurável. Disto decorre que já não importa tanto o legado racional adquirido, mas a prontidão tácita para "aprender a aprender" – o enfadonho jargão de última hora.
Olhos voltados apenas para o aprendizado, qual então o paradeiro do ensino, esse solene esquecido?
Ora, se é correto supor que a avaliação, a mais pífia e inglória das ações escolares, vem se tornando a razão exclusiva ou prioritária do trabalho pedagógico, é correto também admitir que há em curso uma perniciosa inversão de polaridades: aquilo que antes era tido como efeito (o aprendizado) agora é alçado ao posto de causa (do ensino).
Condição necessária, porém não suficiente, do aprendizado, o ato de ensinar não se resume à averiguação das aquisições ou predisposições alheias, mas à oferta de uma ambiência intelectual instigante e sólida o bastante para que o aprendizado porventura ocorra. Uma oferta sem trégua, a despeito de sua eficácia tão possível quanto improvável.
Por mais que a profusão avaliativa contemporânea se esforce em provar o contrário, as razões de êxito da empreitada educativa são puro mistério. No limite, elas remetem ao quilate narrativo da intervenção docente, isto é, ao compromisso generoso de confiar um campo de idéias por e para outrem. Aquele desígnio de pensar em alto e bom som e de, ao fazê-lo, forjar interlocutores vida afora. Aquilo que, mesmo a distância ou pelo avesso, costumávamos reconhecer como a lida de um professor. Nada além.