O que torna a escola uma instituição de excelência
Publicado em 10/09/2011
Não há uma receita de escola ideal. Nessa busca, uma das armadilhas é o lugar-comum. “Nosso objetivo é a formação integral de cidadãos conscientes, críticos e atuantes, aptos a desempenhar seu papel na comunidade”, diz a declaração de princípios que mais se repete nos sites e nas publicações dos colégios brasileiros. Nada de errado, não fosse o vazio em que deságua aquilo que se repete de forma mecânica.
Na tentativa de identificar escolas particulares que, sem o lastro de uma marca construída em épocas de menos concorrência (leia-se até o final dos anos 70), estão fazendo a diferença, Educação sugeriu a alguns eminentes consultores do setor que apontassem os critérios e estabelecimentos que sobressaem na busca da qualidade, requisito básico dos dias atuais. Nesta e nas próximas cinco edições, a revista trará exemplos de escolas que têm se destacado.
O desempenho dos alunos no Enem ou no vestibular foi considerado, mas sobretudo como conseqüência do trabalho realizado, e não como referência central. Por coincidência, a escola que abre esta série, já escolhida antes da divulgação do Enem, esteve entre as melhores nessa avaliação.
Alguns critérios são evidentes: formação continuada de professores, infra-estrutura, gestão integrada, projeto pedagógico, articulação de projetos com a comunidade. Podem ser considerados a espinha dorsal da escola. E o que há além disso?
“Um dos avanços mais contundentes, protagonizado pelas grandes redes, é a profissionalização das lideranças e dos principais processos educacionais e administrativo-gerenciais, associado ao uso de sistemas integrados de gestão”, diz Marcelo Freitas, da Corporate Gestão Empresarial, de Belo Horizonte (MG), e coordenador do Movimento Escola Responsável, entidade que trabalha para o aperfeiçoamento do sistema educacional brasileiro. “Algumas escolas começaram a perceber que é preciso ter diferenciais consistentes para serem competitivas. Um bom projeto pedagógico, hoje, passou a ser commodity e qualidade tornou-se pré-requisito. Quem não atende à aspiração de seu público está fora do mercado.”
Segundo Marcelo Freitas, a infra-estrutura (laboratórios, auditórios e quadras esportivas) ainda é percebida como valor agregado, embora as escolas menores saibam que podem formar parcerias com clubes, salas de exibição e academias do entorno. “Alguns dos principais diferenciais que essas escolas têm apresentado estão ligados a aspectos, como o marketing de relacionamento, que até então somente circulavam em outros segmentos empresariais, para satisfazer os pais dos alunos”, acrescenta.
Mario Ghio, consultor do grupo Moderna-Santillana, acrescenta: “Liderança e constância de propósitos são diferenciais importantes em escolas que, mesmo passando por dificuldades, mantiveram o rumo e venceram”.
Maurício Berbel, da consultoria Alabama, de São Paulo, observa: “As escolas, antes de buscarem diferenciais, precisam alcançar padrões razoáveis de qualidade, com projeto pedagógico consistente, corpo docente capacitado, infra-estrutura básica e elementos de gestão escolar essenciais à sobrevivência”.
Segundo o consultor, o sucesso começa com os diferenciais básicos de qualidade: “E aí a questão se torna mais complexa e interessante. A pergunta sobre o que é uma boa escola deve ser respondida com outra pergunta: boa para que perfil de família-cliente? Os diferenciais competitivos são características que os clientes valorizam e são mais valiosos à medida que são mais difíceis de copiar. Portanto, o projeto pedagógico pode ser um diferencial, assim como a infra-estrutura e o corpo docente, desde que isso tudo tenha grande valor para as famílias e obtenha desempenho superior ao dos concorrentes”.