NOTÍCIA
A luta pela inclusão e a valorização do trabalho docente foram alguns dos temas presentes na conferência da Unesco
Publicado em 14/03/2024
Por Karina Tomelin*: A segunda manhã da Conferência Regional do Ensino Superior da América Latina e Caribe (CRES+5), em Brasília, começou com uma conferência com a educadora Nilma Lino Gomes, da Faculdade de Educação da UFMG e ex-ministra das Mulheres. Em sua fala, defendeu uma integração emancipatória dos países da América Latina e Caribe com a participação ativa da sociedade civil. Nilma também alertou que os cenários de tensões e polarização entre visões conservadoras e reacionárias da população provocam questionamentos sobre os avanços já conquistados na educação superior.
Lutar pela diversidade e inclusão, ampliando políticas de acesso e permanência são caminhos possíveis para a integração emancipatória. A educadora defendeu que a diversidade étnico-racial necessita de ares democráticos no ensino superior e que precisamos continuar lutando para trazer mais dignidade à sociedade, em especial aos sujeitos tratados como desiguais superando o racismo, o machismo, o patriarcado, o capacitismo, a LGBTQIA+fobia e o sofrimento humano em um compromisso coletivo pela paz e solidariedade mundial.
As atividades seguiram com os eixos temáticos. Em “Trabalho decente e condições de vida dos atores da educação superior”, a mesa partiu do conceito de trabalho decente: um trabalho em condição de dignidade e dos direitos humanos fundamentais. O trabalho decente é defendido como o reconhecimento dos direitos de igualdade e que observe as condições integrais da vida. Trabalhando em um ambiente seguro, com direito de participar de decisões institucionais, igualdade, equidade e inclusão de gênero, a urgência de incluir uma agenda protagonista da negritude e dos povos originários e respeitar o direito à liberdade de associação a organizações sindicais.
A mesa trouxe ainda a discussão sobre como ter “um trabalho docente, decente” já que os desafios impostos ao professor, como o acúmulo de funções, volume excessivo de atividades, ritmo acelerado, tarefas repetitivas, relações conflituosas entre colegas de trabalho, pressão para publicação e falta de reconhecimento, tem aumentado o número de licenças de saúde relacionadas aos transtornos mentais. Tal “política da precarização” do trabalho docente preocupa inclusive o cenário do futuro da profissão, já que nos últimos anos, a procura pelas licenciaturas caiu 74%.
No eixo temático “O futuro da educação superior na América Latina e Caribe”, discutiu-se a importância de potencializar a tecnologia e a inovação para o processo educativo. A educação não pode ficar à margem da revolução tecnológica e, para isso, é necessário investir em formação docente de forma intensiva, além de buscar flexibilidade e personalização do ensino que se adapte a uma experiência educativa incluindo os estudantes que vivem às margens da sociedade.
Como proposta, os membros do eixo defenderam a criação de uma agência intergovernamental de internacionalização envolvendo os países da América Latina e Caribe. Uma agência que promova novos valores, para além da herança colonial das quais foram constituídos, em sintonia com os programas divulgados pelo MEC na abertura do evento.
*Educadora, psicóloga, mestre em educação e colunista na Ensino Superior, Karina Tomelin, de Brasília. Acompanhe as atualizações do CRES+5 em nosso site.