Educação

Colunista

Josiane Tonelotto

Superintendente acadêmica do Centro Universitário Belas Artes

Redes sociais afetam o bem-estar dos jovens

Aumento significativo no uso das redes sociais interferiu no estilo de vida das pessoas e na forma com que se relacionam

Redes sociais x saúde mental Consequências negativas do uso das redes podem assumir papel importante na vida dos jovens a ponto de afetar a saúde mental (Foto: Freepik)

A utilização das mídias sociais tem se transformado num elemento central na vida cotidiana, causando progressos significativos nos sistemas sociais de diferentes países nos últimos anos.  Esse fenômeno ocorre desde o início do século 21 e tem se intensificado a cada ano que passa, atraindo a atenção de milhões de usuários em todo o mundo. A possibilidade de comunicação rápida, acesso a uma grande quantidade de informações e sua ampla disseminação têm sido as principais motivações para isso. Facebook, YouTube, WhatsApp, Instagram, e Tik Tok são, por ordem de utilização, as cinco mídias mais populares e que possuem espaços atrativos e diversificados para comunicação online entre os usuários, especialmente das gerações mais jovens. É um fenômeno global e de acordo com dados publicados pelo Datareportal (2024) mais da metade da população mundial utiliza as mídias sociais (63%), consumindo um tempo diário médio de 2 horas e 23 minutos.

O acesso e uso das redes sociais teve aumento significativo em todas as faixas etárias no período da pandemia da covid-19. Esse aumento, decorrente do isolamento experimentado, estimulou principalmente a população mais jovem a intensificar o uso das redes sociais para finalidades educacionais e sociais. De certa forma, foi permitido nesse período uma atividade virtual que possibilitou a criação e partilha de conteúdos e experiências, constituindo-se numa potente ferramenta de interação social.

 

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Foi possível participar de eventos com amigos, fazer amizades, trocar sentimentos e emoções, ainda que sem a presença física. É claro que esse tipo de vivência e o processo de digitalização acelerada interferiu no estilo de vida das pessoas e na forma com que se relacionam, gerada por um conjunto de mudanças intencionais ou não, capazes de reconfigurar vários aspectos da vida social humana. E esses impactos tendem a ser significativos para indivíduos que estavam em processo de formação durante este período. 

Será que esse caminho sem retorno tem feito bem ou mal à nossa sociedade e aos nossos jovens? A possibilidade de ampliar a comunicação se concretizou, ou de forma contrária, limitou os contatos e promoveu a distância entre as pessoas? A comunicação parcial feita pelas redes permite que entendamos as diversas facetas da comunicação? Comunicamos com gestos, expressões, e tons de voz variados: como isso se manifesta nas redes sociais? Seres humanos são sociais e necessitam de companhia, trocas e interação que se manifestam de maneiras diferentes nas relações virtuais.

 

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Apesar de muitas vantagens, o intenso uso das mídias sociais pode trazer consequências negativas tanto físicas, quanto psicológicas e sociais, que muitas vezes são ignoradas. Muitos podem criar uma percepção distorcida da realidade, ao achar que a felicidade está apenas com o outro que posta fotos maravilhosas, tentando retratar uma realidade feliz que nem sempre existe. Além disso, o uso excessivo das redes sociais expõe mais os seus usuários a episódios de cyberbullying, cujas repercussões podem ser definitivas para as pessoas. Os sintomas gerados pelo excesso são semelhantes aos observados no abuso de substâncias ilícitas, com episódios de compulsão. Essas consequências altamente negativas podem assumir papel importante na vida dos jovens a ponto de afetar a saúde mental, incluindo quadros de ansiedade, depressão e problemas com a autoestima.

Esse cenário está no nosso cotidiano. O que temos visto na Belas Artes é um conjunto de alunos que pede ajuda porque não consegue se comunicar face a face. É tão grave que o celular muitas vezes é utilizado como escudo para evitar conversas consideradas inoportunas. As mensagens de texto afetaram tanto a comunicação que muitos dos nossos estudantes relatam se sentirem incomodados em se manifestarem na sala de aula e até incapazes de emitir suas opiniões aos colegas. Para lidar com isso criamos um conjunto de pequenos eventos extracurriculares para auxiliar os estudantes a expressarem ideias e sentimentos de forma assertiva e satisfatória. Foram diversas oficinas trabalhando o corpo e a comunicação num projeto chamado Campus Vivo, cujo objetivo maior é cuidar do bem estar dos estudantes. Nossa preocupação e compromisso com a saúde mental dos nossos estudantes tem sido a bandeira que queremos levantar e defender. 

 

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E por que nos preocupamos tanto? É sabido que a saúde mental é o principal pilar da sociedade humana saudável e desempenha um papel vital no sentido de garantir dinamismo e eficiência a qualquer sociedade. Não se pode perder de vista a definição de saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS), que além de incluir aspectos físicos e mentais, incorpora como ponto fundamental a capacidade de uma pessoa de se comunicar com outras. As relações sociais, positivas ou negativas, podem afetar significativamente a saúde mental, melhorando ou piorando a qualidade de vida das pessoas. Pessoas que interagem mais e melhor com outros têm mais chance de ter boa saúde física e mental, e consequentemente maior sensação de bem estar.

Adolescentes e jovens adultos adoecem? Sim, e de muitas formas. Como exemplo podemos citar a Síndrome do FOMO, ou “Fear of  missing out“, traduzida como “medo de estar perdendo algo”. Trata-se de um fenômeno psicológico que descreve a ansiedade ou preocupação de estar ausente de experiências gratificantes ou eventos que outros estão vivenciando. Este termo é frequentemente associado ao uso de redes sociais, nas quais a constante exposição a atualizações e postagens sobre atividades, viagens, eventos sociais, e conquistas de outras pessoas pode levar alguém a sentir que está perdendo experiências valiosas. Essa sensação pode promover sentimentos negativos, como inveja, ansiedade, baixa autoestima e insatisfação com a própria vida.

 

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A Síndrome do FOMO é um reflexo dos desafios trazidos pela vida digital contemporânea. Reconhecê-la e adotar estratégias para mitigar seus efeitos são passos importantes para promover um bem-estar psicológico mais saudável. Nossas universidades precisam ser sensíveis a tantas adversidades enfrentadas por seus estudantes. E, além disso, mais que ações de intervenção, no caso da saúde mental é preciso pensar em prevenção, em acolhimento, em escuta para evitar sofrimentos desnecessários e que certamente podem marcar para sempre a vida de quem ainda tem muito pela frente.

Por: Josiane Tonelotto | 07/03/2024


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