A IA pode ajudar na identificação de lacunas de conhecimento, fomentar a colaboração e a criar prototipagem rápida
É fundamental que os educadores reconheçam a IA como uma ferramenta, e não como uma substituta (foto: Freepik)Você já se perguntou por que, mesmo após três décadas do século 21, muitas aulas ainda se assemelham às dos tempos de nossos avós? Apesar de estarmos imersos em um mundo de tecnologia e inovação, por que muitas instituições ainda se apegam a métodos tradicionais de ensino? A educação superior, de fato, está preparando nossos estudantes para um mercado profissional dinâmico e tecnologicamente avançado? E mais: está capacitando-os para superar os desafios globais contemporâneos?
A educação superior vive um paradoxo: enquanto é um espaço dedicado à formação de profissionais inovadores e críticos, muitas vezes se vê ancorada em metodologias e recursos tradicionais que pouco dialogam com o mundo contemporâneo.
Entretanto, a sociedade não espera mais apenas por profissionais bem-informados. Ela busca aqueles capazes de analisar dados, compreender informações complexas e propor soluções inovadoras em tempo real. Diante desse cenário, surge a inevitável pergunta: como preparar os estudantes para essa realidade?
As metodologias ativas surgem como poderosas estratégias pedagógicas que respondem a esse desafio, pois colocam o estudante no centro do processo de aprendizagem, tornando-o protagonista de sua própria trajetória educacional.
Isso porque as metodologias ativas, essencialmente, desenvolvem a mentalidade criativa e resolutiva capaz de gerar inovação em qualquer área do conhecimento. Vale esclarecer que a criatividade trata especificamente do processo de pensar, imaginar e ter ideias. Está associada aos processos de imaginação, insights, sonhos e invenção. A criatividade é livre. O limite está no que a mente é capaz de produzir. Já a inovação pode ser compreendida como a capacidade de colocar em prática as ideias geradas. Não adianta ter ideias e não conseguir materializá-las, assim como não adianta ter a capacidade de materialização sem as ideias que resultem em modificações significativas ou na criação de algo novo.
Uma mente criativa é capaz de criar e melhorar os produtos, serviços e modelagens que impactam positivamente na experiência do usuário. Precisamos de mentalidades capazes de gerar mais valor para o mundo e a inteligência artificial, especialmente a generativa, entra como uma grande aliada nesse processo. Por que? Porque ela é capaz de acelerar e otimizar a geração dessas ideias. A IA pode ajudar na identificação de lacunas de conhecimento, fomentar a colaboração e a criar prototipagem rápida.
O universo educacional está prestes a vivenciar uma revolução, e a inteligência artificial pode ser a chave para tornar a aprendizagem mais relevante e envolvente. Mas lembre-se, a IA é apenas uma ferramenta – a verdadeira magia acontece quando combinamos a criatividade humana com o poder da tecnologia.
Se você quer aplicar metodologias ativas apoiadas por IA, vou compartilhar três estratégias simples e versáteis para a aplicação na sua sala de aula.
Estratégia: “Fato ou fake”
Objetivo de Aprendizagem: Habilitar os estudantes a analisar, avaliar e discernir informações autênticas de desinformações ou “falsidades” em relação às aplicações das tecnologias emergentes.
Competência desenvolvida: Os estudantes serão capazes de julgar e decidir sobre a veracidade e relevância das informações com base em critérios estabelecidos sobre a IA.
Como aplicar: Forneça aos estudantes uma lista com diversas afirmações sobre os impactos da IA no contexto profissional. É importante trazer reflexões verdadeiras e falsas, como por exemplo:
*Cientistas afirmam que, até 2030, professores humanos serão completamente substituídos por robôs educadores, tornando a profissão obsoleta.
*Estudos recentes revelaram que alunos ensinados exclusivamente por IA desenvolvem habilidades telepáticas superiores devido à exposição prolongada a algoritmos avançados.
Oriente-os a investigar a autenticidade de cada uma e classificá-las como fato ou fake.
Para finalizar, ressalte a necessidade de se manter crítico quanto à informação recebida. Lembre-os de que, com avanços em IA generativa, como o GPT-4, por exemplo, a produção de informações, mesmo as falsas, pode ser ainda mais refinada e convincente. Por isso, é vital questionar e verificar fontes antes de aceitar algo como verdade.
Estratégia: “Decifrando respostas”
Objetivo de Aprendizagem: Desenvolver a capacidade de formular perguntas e analisar criticamente as respostas, utilizando a ferramenta ChatGPT como meio de exploração.
Competência desenvolvida: Habilidade de questionamento crítico e análise da informação em um contexto digital e tecnológico.
Como aplicar: Introduza brevemente o ChatGPT e sua relevância no mundo da IA; Incentive os estudantes a pensarem em perguntas, relacionadas ao currículo atual; Incite os estudantes a criarem perguntas, como por exemplo: “Como o efeito estufa impacta o clima global?” ou “Quem foi Cleópatra no contexto histórico?”
Interação: Organize sessões de perguntas e respostas com o ChatGPT em grupos para avaliarem as respostas do ChatGPT: foi direta ou ambígua? Existiu algum viés na resposta? Como isso se compara ao que já é conhecido?
Você pode potencializar esta estratégia, desafiando os estudantes a pegar o ChatGPT desprevenido com questões originais. Exemplo: “Se Shakespeare e Einstein tivessem um debate, sobre o que seria?”
Cada grupo apresenta uma pergunta feita e a resposta recebida e a classe, coletivamente, avalia a precisão e relevância da resposta. Finalize com uma reflexão sobre as potencialidades e limitações da IA no processo de aprendizado.
Estratégia: “Soluções inovadoras com o auxílio da IA”
Objetivo de Aprendizagem: Estimular os alunos a analisar problemas complexos e criar soluções inovadoras, rentáveis e viáveis, utilizando o ChatGPT como ferramenta de brainstorming e validação.
Competência desenvolvida: Capacidade de identificar, analisar e propor soluções inovadoras para desafios reais, utilizando tecnologia e pensamento crítico.
Como aplicar: Identificação do Problema: Comece com uma sessão de brainstorming para que os estudantes identifiquem problemas atuais em áreas como meio ambiente, tecnologia, saúde, etc.
Pesquisa com ChatGPT: Peça aos alunos para interagirem com o ChatGPT, buscando informações sobre o problema escolhido, tendências do mercado, tecnologias emergentes e possíveis soluções já existentes.
Criação da Solução: Com base nas informações obtidas, os grupos de alunos esboçam uma solução inovadora. Esta solução deve ser rentável, o que significa que deve ter um modelo de negócios sustentável, e viável em termos de implementação.
Validação com ChatGPT: Usando o ChatGPT novamente, os estudantes podem validar sua solução, pedindo feedback ou explorando possíveis desafios e oportunidades associados à sua proposta.
Dependendo da natureza da solução, pode-se buscar a criação visual do protótipo usando uma IA construtora de imagens, como o MidJourney ou Seaart.
Consolide o processo de aprendizagem discutindo sobre como a IA, representada pelo ChatGPT, nesta estratégia, pode ser uma ferramenta valiosa no processo de inovação, mas também ressalte a importância do pensamento humano crítico e criativo no processo.
É fundamental que os educadores reconheçam a IA como uma ferramenta, e não como uma substituta, no processo de aprendizagem. Quando empregada de maneira adequada, ela pode potencializar e acelerar a inovação e a criatividade. A combinação da criatividade humana com a capacidade analítica e de geração de ideias das IAs podem gerar experiências educativas mais pertinentes, tornando a aprendizagem personalizada e alinhada às demandas sociais e globais. Isso prepara os estudantes para uma utilização responsável das tecnologias emergentes em seus futuros contextos profissionais.
Por: Thuinie Daros | 25/10/2023