Professor agora tem espaço para compartilhar dúvidas. Conheça o quadro "Docência no Divã"
Professores podem enviar relatos e participar das próximas colunasPor Sandra Seabra Moreira: Uma trajetória no limiar entre ser docente e estudante, nesse espaço em que a conexão nem sempre é plena e obstáculos surgem o tempo todo, fez conceber uma maneira bem original de entender essa relação. Com quase 18 anos, Karina Nones Tomelin tornou-se professora de filosofia no ensino médio. Estudante de psicologia, no Vale do Itajaí faltavam professores e as aulas apareceram como oportunidade de sustento enquanto graduava-se. Na sala de aula, ela era um deles – e não era.
Para que serve a filosofia no ensino médio? Essa foi a pergunta-ponto-de-partida para pensar as aulas. “Vivi na pele essa experiência de você tentar engajar os estudantes para uma experiência de aprendizagem positiva. A partir dessa experiência eu nunca mais saí da sala de aula.” Karina cumpriu a graduação em psicologia e rumou para uma pós em docência. Tornou-se mestre em educação. Aos 25 anos, era professora universitária.
Entre os muitos desafios, Karina conta um no qual muitos professores podem se identificar: ministrar aulas de psicologia do desenvolvimento na faculdade de educação física, nas últimas aulas de uma sexta-feira à noite, com salas inteiras de jovens sedentos para ocupar quadras e movimentar-se. “Eu propunha que eles interpretassem Piaget, Freud. Era preciso ser muito criativo para mantê-los conectados com o conteúdo.”
Quem conhece o Educabox, aplicativo gratuito criado por Karina, que traz drops diários no formato de microlearning com ideias inspiradoras, ou a coletânea impressa desses drops nas duas edições recentes de 100 ideias inspiradoras para as suas aulas, da editora Letramento, já tem ideia da habilidade de Karina em aprofundar temas e abordagens, ao mesmo tempo que as expressa de maneira leve e descontraída. Já era esse o talento que alçou a jovem professora universitária à coordenação de cursos e formação de docentes na universidade.
Como coordenadora pedagógica, Karina logo identificou que o professor tinha tempo reduzido para sua capacitação. Isso quando não é chamado a assumir novas disciplinas, e se vê na situação de ter de abarcar novos conteúdos em tempo recorde. Na Uniasselvi, por exemplo, instaurou o happy hour com o NUAP – Núcleo de Apoio Psicopedagógico. Eram dez minutos antes das aulas, na sala dos professores, que funcionavam como uma faísca provocadora de insights. “Por exemplo, num dia para discutir a criatividade, eles tinham que customizar o pincel atômico usado na sala de aula.” A princípio, o que vem é o receio: “Será que eles vão topar fazer isso?”. Sim, topavam. Além de microformações com rodas de estudo e discussão de temas. “Eu já atuava com microlearning sem nem saber que ele existia.”
Em grandes e médias instituições de ensino superior, Karina atuou principalmente em duas frentes que se completam: capacitação e apoio aos docentes e apoio aos discentes. Com os estudantes, as questões de inclusão, acessibilidade e dificuldades de aprendizado; com os professores, o desafio de trazê-los para perto dos programas de capacitação, sem imposições. E uma das maneiras de trabalhar a capacitação é, além da escuta do professor, o compartilhamento de boas práticas. Mas não só. Também o compartilhamento de dúvidas, apreensões e reflexões.
Se hoje em dia tanto se fala acerca do protagonismo do aluno, Karina lembra que o professor também é o protagonista de seu próprio aprendizado, mas essa trilha não precisa ser solitária. É, portanto, nesse lugar de escuta e formação que Karina coloca seu divã e aguarda as dúvidas, receios e contradições da vida acadêmica e da atividade docente, estreando sua nova coluna na Ensino Superior, que será publicada mensalmente no site: Docência no Divã.
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No divã: Gley Fabiano Xavier, professor na área de Tecnologia e Educação
Iniciei profissionalmente como professor aos 17 anos, lecionando informática para educação básica em uma escola privada em Goiânia-GO. A partir desse momento, também dei aulas de tecnologia em cursos livres e profissionalizantes e, aos 21 anos, iniciei como professor no ensino superior nos cursos de graduação em Administração, Direito e Processamento de Dados. Em paralelo, ocupei outros cargos, seja em instituições educacionais ou não, porém minha principal profissão sempre foi e será a de professor. Na minha jornada em sala de aula são vários os desafios e aprendizados, mas a alegria, com certeza, é participar das conquistas dos meus alunos. Hoje, sou professor de graduação e pós-graduação de cursos das áreas de Tecnologia e Educação, além de cursos livres e oficinas ligadas à Tecnologia Educacional, EAD e Gestão Educacional.
Atualmente, vivemos em uma sociedade imediatista e ansiosa por respostas rápidas, simples e “prontas”. Como atuo, geralmente, em disciplinas que envolvem lógica, meu desafio constante ao elaborar um programa de aulas de uma disciplina ou curso de tecnologia e/ou gestão é: como planejar momentos educacionais que sejam empolgantes e, ao mesmo tempo, estimulem o raciocínio e a reflexão como prática de melhoria incremental? Qual a melhor maneira de mostrar que não existe solução de problema que não seja encontrada por meio de estudo, prática e análise? Como compreender que mesmo que a solução tenha como base a solução de outros, é necessário saber, entender e analisar o contexto e o problema para fazer esta adequação?
Minha frase: aprender nasce de uma necessidade. Ensinar nasce de uma vontade.
Karina responde: Olá, Gley! Puxa, que legal sua jornada como professor. Concordo sobre o desafio de desenvolver competências complexas nos estudantes quando vivemos em um mundo acelerado e imediatista. Qual é o verdadeiro sentido de aprender algo e como significar este aprendizado para os estudantes? Seu desafio me fez lembrar de dois autores de que gosto muito: o primeiro é John Hattie, que trata sobre o conceito de aprendizagem visível, e a segunda é Julie Stern, que trabalha um conceito chamado Learning That Transfers (LTT), ou aprendizagem que transfere.
Para John Hattie, os professores estão entre as influências mais poderosas na aprendizagem e uma das formas de tornar a aprendizagem visível aos estudantes é estabelecer critérios de sucesso claros. Um exemplo é compartilhar os objetivos de aprendizagem de sua aula com seus alunos, mas, além disso, certificar-se de que eles compreenderam profundamente o que é esperado e como o sucesso da aprendizagem se relaciona com o planejamento das suas aulas, as atividades propostas e as competências adquiridas.
Já Julie Stern estruturou uma metodologia que ajuda os estudantes a compreender os conceitos, transferindo-os para situações reais. O primeiro passo seria promover a curiosidade com situações reais às quais este conceito está relacionado, para só depois disto introduzir os conceitos que se quer trabalhar. Ao provocar o estudante com perguntas sobre a realidade, será mais fácil estimulá-lo a estudar as teorias que as fundamentam.
Vou deixar como sugestão este livro: Aprendizagem visível para professores – Como maximizar o impacto da aprendizagem, de John Hattie. Nele, há vários exemplos e ferramentas que podem te ajudar a tornar o aprendizado visível. Outra dica é pesquisar sobre a Julie Stern e o Learning That Transfers (LTT); há vídeos em que ela conta sobre o método e como aplicar em sala de aula.
Esse foi o Gley no Divã, o próximo pode ser você! Envie seu relato para mim e participe das próximas colunas.
Karina Nones Tomelin – Educadora, psicóloga, pedagoga, mestre em Educação.
Por: Karina Tomelin | 13/04/2023