Realidade extraclasse tem impulsionado grupos a buscar a inovação, mas muitas instituições de ensino no Brasil ainda resistem à necessidade de mudanças
Professores caminham de mãos dadas com os alunos rumo à mudançaPreparar estudantes aos principais desafios da atualidade significa rever e atualizar estratégias de ensino e aprendizagem aplicadas pelos professores. A realidade extraclasse tem impulsionado grupos a buscar a inovação, mas muitas instituições de ensino no Brasil ainda resistem à necessidade de mudanças, especialmente a adoção de pedagogias inovadoras que estimulem o desenvolvimento do professor como agente de mudança.
Inovar, porém, requer mais tempo em contato com os alunos, para reaprender, analisar contextos e pensar em métodos diferentes para garantir a transição tecnológica em sala de aula. Ainda em 2017, o Plano Nacional de Tecnologia da Educação dos EUA já apontava para o poder da tecnologia para transformação da aprendizagem, mas destacava: para se envolverem na transformação, os educadores precisam de conhecimentos e habilidades para aproveitar de fato os ambientes de aprendizagem tecnológicos. E este é um processo em andamento.
Autores de referência em todo o mundo defendem a perspectiva das novas pedagogias como caminho mais adequado diante desse cenário. As ideias de pensadores contemporâneos da educação convergem para características fundamentais deste modelo: a definição sobre o propósito de determinada estratégia pedagógica, a compreensão de que o ensino deve ser adaptativo e transversal, a preocupação com a dimensão psicológica e da aprendizagem socioemocional e inovações pedagógicas aprimoradas pela tecnologia.
Falar em novas pedagogias implica destacar seus públicos-alvo, os novos estudantes, que têm relação cotidiana com tecnologias, utilizam equipamentos multimídia e preferem transitar em ambientes multitarefa, interativos e colaborativos – além de estarem imersos na lógica dos games. Como esses atributos de nossas crianças, adolescentes e jovens se relacionam com as pedagogias vigentes? Precisamos conhecê-los para construir pontes eficientes para essa travessia – tanto a nossa, como professores, como para os alunos.
Quero dizer, neste sentido, que os professores caminham de mãos dadas com os alunos rumo à mudança. Para isso, as instituições de ensino precisam se comprometer em oferecer recursos aos professores para que consigam se aproximar dos alunos e entregar a eles conhecimento atrelado às necessidades imediatas.
“Não basta somente ‘apresentar’ tecnologias em sala. Elas precisam fazer sentido. Você já imaginou, em uma aula de geografia, ensinar a crianças como funciona uma bússola, com elas trancadas em sala, sem a possibilidade de observação dos pontos cardinais, do movimento do sol…”
Já convivemos com a terceira geração de nativos digitais, nascidos a partir dos anos 2000, com praticamente todas as novas tecnologias da informação e comunicação disponíveis, com dispositivos móveis, utilização de nuvem e imersão nas redes sociais. Ou seja, fazem uso constante da tecnologia, na reprodução cotidiana da vida, mas, em sala, a utilização precisa de um propósito diferente: aprender.
O salto dos professores agentes de mudança é justamente esse: assim como ensinamos a “geração analógica” a aprender, também precisamos orientar os nativos digitais sobre como percorrer as trilhas de aprendizagem. A relação mais estreita entre o uso cotidiano das tecnologias e o ensinar-aprender se dá ao lado de professores. No entanto, até que ponto os currículos de formação pedagógica estão atualizados para dar conta dessas características dos novos estudantes?
Professores que possibilitam mudanças devem compreender o potencial da multimídia e do audiovisual. Os nativos digitais dão maior atenção a conteúdos que combinem linguagens verbais e não verbais. Jovens aprendem com trilhas multitarefas e desafios com feedback imediato – não à toa há muitos especialistas dedicados a estudar os impactos da gamificação na educação. Adolescentes adoram conexão. Já estão interligados e por que não usar essa estratégia para criar atividades colaborativas?
Todas as aulas não serão tão dinâmicas, ainda usaremos estratégias tradicionais que geram resultados comprovados. Afinal, as tecnologias não melhoram a aprendizagem como um passe de mágica. Os resultados são satisfatórios em determinadas situações. E o desafio do professor é identificar os melhores caminhos a seguir, começando pelo planejamento e considerando adequações a partir das características das turmas em um processo adaptativo – e não substitutivo.
Novas pedagogias são aquelas que aproveitam os potenciais da tecnologia para favorecer o aprendizado e diagnosticar progressos e dificuldades – e não somente utilizar recursos sem propósitos educacionais bem definidos. Elas devem ampliar o papel do professor, impulsionando o engajamento e garantindo maior motivação aos alunos.
Precisamos usar a mesma linguagem que a dos alunos. A linguagem das necessidades da vida. Mas os agentes de mudança é que indicam conteúdos, traçam diferentes competências e dão valor àquilo que deve ser aprendido. O próprio professor define habilidades e conhecimentos prévios relacionados ao planejamento e atenta à necessidade de letramento digital além do que os nativos dessa geração já fazem fora da escola, de forma passiva. A sala de aula precisa continuar a ser o ambiente no qual o estudante ainda consegue ir além, refletir, inovar e materializar objetivos.
*Simone Bergamo é diretora-acadêmica do grupo Ser Educacional
Por: Simone Bergamo | 19/09/2022