NOTÍCIA
Segundo Maria Helena Guimarães de Castro, presidente do CNE, sem as matrizes de referência a aplicação do novo Enem é impossível
Publicado em 18/08/2022
O novo Enem entra em vigor em 2024. Só que até o momento ele ainda não foi desenhado por completo. O novo ensino médio já é lei, traz mudanças significativas na formação do jovem e, consequentemente, as avaliações para a entrada no ensino superior precisam seguir tal mudança. Faltam as matrizes curriculares do novo Enem, pontou Maria Helena Guimarães de Castro, uma das criadoras e responsáveis por implantar o Enem no país, uma vez que presidiu o Inep entre 1995 e 2002. Atualmente é presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE). Ela é uma das pessoas que mais conhece o Enem e também o desenvolvimento do novo Enem.
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“O Inep precisa divulgar a matriz, porque sem ela não tem como fazer um pré-teste e preparar a prova do Enem para ser aplicada em 2024. Então eu posso dizer que eu espero que eles publiquem a matriz da primeira etapa [formação geral básica]. Segundo o Inep, a previsão é publicar até o final deste ano, para que as escolas possam ter pelo menos um pouco de segurança”, revelou Maria Helena.
A presidente do CNE participou ontem, 17, do painel Um Enem diferente. Vai ser melhor?, no Grande Encontro da Educação, evento gratuito e organizado pela revista Educação e revista Ensino Superior, que aconteceu de forma híbrida, sendo presencial no Inteli, em SP.
Esther Carvalho, diretora-geral do Colégio Rio Branco também estava na mesa. Ela apontou que as matrizes são fundamentais, inclusive para estruturar melhor o novo ensino médio e seu currículo, pois ele precisa comportar o cenário atual que estamos lidando.
“Nós construímos um currículo de ensino médio diferente, mesmo correndo grandes riscos, o compreendendo como um currículo de transição. Por que é de transição? Porque nós não temos o cenário completo, o Enem é importante e conversa com esse desenho. Ele é fundamental a tal ponto que, mesmo com os riscos, só desenhamos a primeira série do médio, porque ainda queremos ter a oportunidade de ajustar o que for necessário frente ao universo de tantas indefinições”, comentou.
“Existem vários problemas que devemos resolver na educação, mas se fizermos um excelente ensino médio, quando chegar o aluno no próprio cursinho do pré-vestibular, nós teremos tudo para ajudá-lo, mas no momento estamos esperando as regras que devem ter esse novo vestibular, esse novo Enem”, pontuou Vera Lúcia da Costa Antunes, coordenadora pedagógica no curso e Colégio Objetivo e que também participou do painel.
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O fato é que não se sabe como o novo Enem funcionará na prática, mais especificamente a segunda etapa, que dialoga com as escolhas dos alunos nos itinerários formativos, fazendo com que a trajetória no ensino médio seja diferente para cada estudante. Maria Helena desabafou que as trocas de ministros no Ministério da Educação no governo Bolsonaro e as saídas de integrantes do Inep não permitem continuidade de trabalho. Contudo, está otimista quanto ao atual presidente do Inep, Carlos Moreno, o qual assumiu o posto este mês.
Ou seja, essa falta de continuidade para a conclusão de como será o novo Enem está travada no Ministério da Educação e suas instâncias.
O Enem precisa andar junto com o ensino médio, mas apesar dos atrasos que as diretrizes da prova proporcionam, Vera Lúcia ainda está otimista sobre o sistema. “Temos que ir com calma, mas tenho certeza que dará certo, não só o novo ensino médio, como o novo vestibular também a partir do Enem. Temos apenas que ter confiança no tato do que precisa melhorar, e na hora que acontecer a prova fazer as críticas necessárias, porque temos que ajudar a educação brasileira, não podemos ser omissos, esta é a nossa função.”
Pensando na abertura dos alunos para o ensino superior, Maria Helena também comentou sobre como o novo Enem deve impulsionar mudanças nos modelos curriculares das instituições de ensino superior para se tornarem mais atrativos para os alunos com novas preparações para o mercado de trabalho.
“O Enem, de acordo com o que está proposto agora, irá forçar as universidades federais a reverem os seus currículos e a pensarem em um currículo mais flexível, mais integrado e articulado. Algumas universidades federais já têm uma formação geral básica abrindo depois para a flexibilização. Então eu acredito que esse novo Enem vai ajudar na mudança, mas o MEC, o Inep e as séries precisam estar abertas às mudanças, porque se eles fizerem coisas muito fechadas e muito rígidas, nada vai mudar, e se o ensino superior não mudar ele não irá preparar ninguém para o mundo do trabalho”, concluiu Maria Helena Guimarães de Castro.
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