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Políticas Públicas

CNE: as novas pautas do ensino superior

Igualdade de gênero, qualidade dos cursos e sustentabilidade estão na agenda dos indicados

Publicado em 07/08/2024

por Gustavo Lima

CNE Novos integrantes do CNE comentam os principais desafios do setor

O Conselho Nacional de Educação (CNE) ganhou novos integrantes. Em um contexto de recorrentes discussões sobre qualidade de oferta, eficiência do ensino a distância, reformulações no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) e transformação tecnológica, o reforço é bem-vindo para o setor, que pode se beneficiar da oxigenação de novas visões e experiências.

Monica Sapucaia

Monica Sapucaia: “Quanto mais qualificada você é, maior a diferença em comparação ao seu par do gênero masculino” (foto: arquivo pessoal)

Entre os cinco nomes selecionados pelo presidente Lula para compor a Câmara de Educação Superior, Monica Sapucaia Machado, doutora e mestre em direito político e econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, é objetiva quanto à prioridade de sua atuação: igualdade de gênero.

“Essa é minha pauta de origem. Que a educação superior brasileira promova uma sociedade mais igual entre homens e mulheres. Uma realidade que ainda não vivenciamos, apesar de as mulheres serem maioria nos bancos universitários.” Membro do Conselho Superior de Assuntos Jurídicos da Fiesp (Conjur), Monica é autora do livro Direito das mulheres: educação superior, trabalho e autonomia e coordenadora da coletânea Women’s rights. Também foi assessora na Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres do governo federal, de 2009 a 2010. Em sua tese de doutorado, discutiu se a educação superior era uma ferramenta de autonomia econômica para as mulheres. “É claro que as mulheres formadas e com acesso ao mercado de trabalho são mais autônomas em relação às que não tem. Mas só educação não garante igualdade”, diz.

 

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“Quanto mais qualificada você é, maior a diferença em comparação ao seu par do gênero masculino. No meu caso, em que tenho doutorado, por exemplo, ganho 62% a menos do que o meu par. Enquanto para uma pessoa que só tem ensino médio, a diferença está por volta de 18%. A educação pode ser um instrumento muito libertador, mas também muito opressor. Depende dos mecanismos oferecidos no processo educacional”, frisa.

Para a especialista, o CNE deverá se debruçar sobre “algumas questões práticas”, como a educação on-line. “Seja EAD ou no formato síncrono, existe um debate sobre o papel desses instrumentos tecnológicos. Eles são importantes mas precisam ser muito bem utilizados”, pontua. “Os estudantes têm uma realidade de trabalhadores e de trabalhadoras, e esses alunos também têm direito de acesso ao processo formativo. É preciso pensar em formas de se construir algo que garanta diálogo transversal e vivência coletiva, ao mesmo tempo que possibilite essa geração a acessar a educação superior e alcançar qualificação profissional.”

Celso Niskier

Celso Niskier, da ABMES: “A sustentabilidade do meio ambiente é fundamental para a educação dos dias de hoje” (foto: divulgação/ABMES)

Celso Niskier, presidente da ABMES e reitor do Centro Universitário UniCarioca, deve contribuir com o conselho a partir da visão de gestor e da experiência com mantenedoras do setor. Para Niskier, um dos escolhidos, o principal problema enfrentado pela educação superior é “a adaptação para um novo modelo de ensino híbrido”. Os alunos, segundo ele, têm buscado cada vez mais flexibilidade curricular e cursos rápidos, focados no mercado de trabalho e no empreendedorismo.

 

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“Pretendo propor ideias que possam levar a diretrizes para uma educação mais empreendedora e consciente do ponto de vista ambiental. A sustentabilidade do meio ambiente é fundamental para a educação dos dias de hoje e esse debate não será feito apenas pela Câmara de Educação Superior, mas também pela Câmara de Educação Básica”, adianta. 

Maria Paula Dallari Bucci

Maria Paula Dallari Bucci foi secretária de educação superior entre 2008 e 2010 (foto: arquivo pessoal)

Na análise de Monica, o conselho deve olhar também para uma “questão mais profunda” – o papel da educação superior no desenvolvimento do país. “O que é a educação para o desenvolvimento econômico? Como construir um projeto de desenvolvimento social através da educação? Há [a necessidade de] um repensar sobre transição energética, revolução 4.0 e o lugar do trabalho. A educação superior precisa olhar para as habilidades que oferece e se essas habilidades conversam com a realidade”, pondera.   

Maria Paula Dallari Bucci, professora da Faculdade de Direito da USP, é outro nome convocado pelo presidente. Secretária de educação superior entre 2008 e 2010, na gestão do então ministro Fernando Haddad, ela compara os desafios daquele período com o atual contexto. “Na época em que fui secretária, havia um duplo desafio, de ampliação do acesso à educação superior e de melhorar a qualidade dos cursos. Atualmente, me parece que o problema da qualidade se tornou um desafio ainda maior e deve ser a prioridade”, afirma.

 

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Otávio Luiz Rodrigues Júnior

Otávio Luiz Rodrigues Júnior integrou o conselho superior da Capes (foto: arquivo pessoal)

A docente enxerga essa discussão como uma prioridade a ser trabalhada pelo CNE. “Com destaque para os cursos que formam professores e professoras para ensinar na educação básica. Precisamos melhorar muito essa formação no Brasil”, salienta.

A Universidade de São Paulo conta ainda com dois outros representantes no conselho: Otávio Luiz Rodrigues Júnior, doutor em direito civil pela USP, que também integrou o conselho superior da Capes e conta com 28 anos de docência superior, além de estágios pós-doutorais na Alemanha e em Portugal; e Ludhmila Abrahão Hajjar, doutora em ciências pela faculdade de medicina da USP que participou da equipe de transição para o governo Lula. Para Rodrigues Júnior, a expectativa é “a melhor possível em razão da qualidade da composição do Conselho.”

 

Educação básica

Para a Câmara de Educação Básica, oito nomes foram indicados pelo presidente Lula. São eles Cesar Callegari, ex-membro do CNE de 2004 a 2018, Heleno Araújo, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Israel Batista, ex-deputado federal (PSB-DF), Gastão Vieira, deputado federal que presidiu a Comissão Especial do Plano Nacional de Educação (PNE) 2014-2024, Givânia Maria da Silva, professora quilombola da rede pública, pesquisadora e fundadora da Conaq, Cleunice Matos Rehem, ex-diretora-presidente da Associação Fórum Nacional das Mantenedoras de Instituições de Educação Profissional e Tecnológica (Brasiltec), Maria do Pilar Lacerda, ex-secretária da Educação Básica no MEC, de 2007 a 2012, e Mariana Rosa, membro da Comissão Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva.

A cerimônia de posse dos novos conselheiros acontece no dia 13 de agosto. Esses foram os primeiros membros indicados por Lula em seu terceiro mandato e dividem o CNE com nove indicados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, em 2022 – e que permanecerão no conselho até 2026.

 

Autor

Gustavo Lima


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