Filmes da Pixar abordam emoções humanas de forma criativa e profundamente significativa
Diverida Mente 2, novo filme da Pixar, traz um novo grupo de emoções para representar a adolescência (imagem: reprodução/Trailer)Depois de ter assistido há alguns anos ao filme Divertida Mente, na semana passada chegou a vez do Divertida Mente 2. Isso me fez parar para pensar sobre a importância da educação emocional na vida das crianças e, principalmente, dos adolescentes – tarefa tanto da família quanto da escola. Os filmes abordam de forma criativa e profundamente significativa as emoções humanas e como elas ocorrem e se alternam na vida de uma criança e no início da adolescência. No primeiro filme as emoções personificadas são a alegria, tristeza, raiva, medo e nojo. Já no segundo, além dessas emoções aparecem a ansiedade, a inveja, o tédio e a vergonha.
Em ambos os filmes, a sequência dos acontecimentos e as interações entre as emoções, mostram claramente como a personalidade da protagonista vai sendo forjada e como isso se relaciona com seu bem-estar. Inicialmente ela se defronta com as emoções mais básicas, e o domínio é da alegria; posteriormente a emoção dominante se torna a ansiedade, pelo que está por vir. De uma forma acessível e envolvente mostra-se a complexidade do mundo emocional humano e como a forma com que aprendemos a lidar e gerenciamos nossas emoções é essencial para o desenvolvimento saudável.
Sem dúvida alguma, a complexidade das mudanças experimentadas na adolescência, decorrentes de uma série de mudanças físicas, cognitivas e emocionais merece atenção. São muitas incertezas e uma vulnerabilidade evidente que não podem e não devem passar despercebidas. Trata-se de um período de vida em que as emoções precisam de uma compreensão mais profunda.
Será que damos o devido valor a esse período tão importante? Como pais e professores costumamos refletir sobre como a resolução dos conflitos dessa fase repercutem para a vida toda? Será que não nos acomodamos achando que é um processo natural e que tudo se resolve? Às vezes não é bem assim e esse período cria dificuldades ao longo da vida que poderiam ser evitadas e isso fica bem claro quando recebemos esses estudantes na educação superior.
A importância de nos preocuparmos com a educação emocional, tanto quanto o fazemos com a educação formal, reside no fato de ser por meio dela que as pessoas desenvolvem as inteligências interpessoal e intrapessoal, popularizada como inteligência emocional. A educação emocional é essencial para o desenvolvimento pessoal, social e acadêmico, e desempenha um papel crucial no bem-estar geral, envolvendo a aprendizagem e a prática de habilidades que nos ajudam a reconhecer, compreender, expressar e gerenciar nossas emoções de maneira saudável e construtiva.
Tanto as famílias quanto as escolas desempenham papéis cruciais nesse processo, porque devem fornecer o suporte necessário para que crianças, adolescentes e jovens adultos possam desenvolver essas habilidades de maneira eficaz. As famílias são os primeiros ambientes nos quais as crianças começam a aprender sobre emoções. O apoio emocional dos pais, especialmente durante transições difíceis, como entrada na escola, participação em competições e outras, é fundamental. A presença de figuras parentais que validem e discutam abertamente como as emoções surgem, como interferem e como se lida com elas pode nos ajudar desde pequenos a entender que mesmo as emoções negativas, têm valor e propósito.
Desde pequenos precisamos entender que não é possível sermos felizes sempre, e são os pais os primeiros a ajudarem seus filhos a entenderem isso. Não se pode evitar as frustrações, mas preciso estar próximo quando elas acontecem. Essa não é uma tarefa fácil. Deixar e experimentar nossos filhos sendo frustrados e contrariados requer tranquilidade e confiança, principalmente numa sociedade que valoriza o sucesso e a felicidade.
Não é diferente o papel da escola, que é um ambiente em que crianças e adolescentes passam a maior parte do tempo. Esse espaço é fundamental para a socialização e o desenvolvimento emocional. Na escola, a convivência e as disputas naturais ganham efeitos profundos e duradouros no bem-estar dos estudantes. Nesse ambiente se ensinam habilidades de regulação emocional, empatia e resolução de conflitos que vão equipar os jovens com as ferramentas necessárias para navegar nas complexidades das interações sociais e dos desafios acadêmicos e profissionais que estarão presentes ao longo da vida.
A chegada à universidade coloca à prova a educação emocional recebida pelos jovens. Nesse período se tudo deu certo, as ferramentas necessárias para reconhecer, entender e manejar as próprias emoções devem ter sido desenvolvidas, constituindo pilar fundamental para a manutenção de uma boa saúde mental. No entanto, essa nova fase ainda exige cuidados para se consolidar. Essa é a etapa em que o jovem adulto se prepara para ser um profissional e para enfrentar novas demandas que não exigirão dele apenas competência profissional. Algumas competências emocionais devem ser aprimoradas passo a passo para que o desenvolvimento se complete: resiliência, crítica e autocrítica, autoconsciência, empatia e tantas outras. Temos que auxiliar nossos estudantes no manejo do stress e redução da ansiedade, na melhoria do bem estar geral e principalmente na prevenção de problemas de saúde mental.
Para que tudo isso ocorra naturalmente, como vimos, a continuidade da educação emocional é imprescindível e tarefa diária, mesmo na educação superior. Programas de educação emocional e apoio à saúde mental são muito bem vindos e podem ser evidenciados nas matrizes curriculares, na capacitação de docentes e funcionários, em serviços de aconselhamento e tantas outras oportunidades que não percam de vista o ambiente de apoio necessário. Nossa preocupação deve ser sempre o desenvolvimento acadêmico, mas nunca desvinculado do desenvolvimento pessoal. A evolução da sociedade, com o aumento dos problemas de saúde mental, e demandas não atendidas de adequação dos jovens ao mercado de trabalho têm deixado claro que nosso papel em ensinar a lidar com as emoções será maior a cada dia.
Por: Josiane Tonelotto | 16/07/2024