NOTÍCIA

Edição 284

Expansão no Triângulo Mineiro é resultado de tradição e ousadia

Neste momento em que tantos questionamentos envolvem o EAD, há a necessidade de se voltar às origens da modalidade nas instituições mais tradicionais

Publicado em 23/05/2024

por Ensino Superior

Uniube A Uniube tem sua sede em Uberaba, outro campus em Uberlândia e mais de 300 polos de EAD pelo país (fotos: divulgação)

Cerca de 150 docentes de todo o país chegaram à Universidade de Uberaba (Uniube) em 1997 com a tarefa de oxigenar as ideias da instituição e implantar a pós-graduação e a pesquisa. Dois anos depois, parte deles formou o grupo de vinte docentes criado pelo reitor para conhecer a inovação do momento, o ensino a distância, e desenvolver o primeiro curso EAD da instituição, uma especialização em cafeicultura irrigada, lançada em 2001.

“Era crítica e pedra de todo lado. Como o reitor coloca vinte professores para desenvolver um curso tão pequeno?”, conta André Fernandes, atual pró-reitor de pesquisa, pós-graduação e extensão da Uniube.

À época, ao levar as críticas ao reitor Marcelo Palmério, Fernandes teve como resposta: “fique tranquilo, um dia o EAD vai ser maior que o presencial”. O reitor herdou do pai a característica visionária. O educador, político e romancista Mário Palmério, autor de romances como Vila dos Confins e Chapadão do Bugre, entre outros títulos, ocupou a cadeira número 2 da Academia Brasileira de Letras, a mesma cadeira antes ocupada por João Guimarães Rosa. Fundou em Uberaba, há 76 anos, a faculdade de odontologia.

Atualmente, a Uniube tem 42.700 alunos, 32 mil deles no EAD, entre graduação e pós, com 90 cursos e 300 polos no país. Na modalidade presencial, são 28 cursos em todas as áreas do conhecimento e 462 professores, que atuam nos campi de Uberaba e Uberlândia.

 

Webinar | Novas demandas mundiais transformam a sala de aula

 

Fernando Marra

Fernando Marra, pró-reitor de EAD: “avançando passo a passo”

Fernando Marra é uberabense, ex-aluno da Uniube e pró-reitor de EAD desde 2006. Neste momento há questionamentos envolvendo a modalidade, segundo ele, por responsabilidade do próprio Ministério da Educação, que facilitou a expansão desenfreada. Para Marra há a necessidade de o EAD voltar às origens nas instituições mais tradicionais, “que efetivamente desenvolveram uma metodologia do EAD”, especifica. É o caso da Uniube.

No início, conta Marra, com a internet ainda pouco acessível, “trabalhávamos basicamente com roteiros de estudo em papel e professores que viajavam aos polos para os encontros presenciais”. A Uniube sempre teve “pé no chão” em relação ao EAD, avançando passo a passo, conta. Depois do primeiro curso de cafeicultura irrigada, espécie de piloto, veio a parceria com o governo do estado para a formação de professores. “Isso fez com que o nosso EAD fosse criando bases sólidas para trabalhar uma expansão futura”, diz.

“O EAD iniciou com as licenciaturas, depois criamos os cursos da área de gestão. Posteriormente, trouxemos as engenharias, os cursos da área de TI e, por último, em 2020 – ano em que demos um salto maior no aumento do portfólio –, trouxemos os cursos das áreas de saúde e do agro.” A Uniube foi a primeira IES do Brasil a ter reconhecimento do MEC e do CREA para o curso de engenharia civil a distância, em 2008.

 

Educação integral

Heliodora Collaço

O relacionamento com o estudante é o diferencial da Uniube, afirma Heliodora Collaço, pró-reitora de ensino superior

A graduação presencial da Uniube obtém taxa de rematrícula de 97,2% e a de evasão é de 3,5%. “Um orgulho para nós”, afirma Heliodora Collaço, pró-reitora de ensino superior, que aponta as inquietações que fundamentam as estruturas da pró-reitoria. “Afinal, que formação acadêmica queremos (devemos) desenvolver? Quais os impactos que podemos (e devemos) promover? Qual o nosso fator de contribuição à vida e à sociedade humana?” E expõe as três colunas mestras que pautam o trabalho na Uniube – os processos de ingresso e permanência, os de gestão e os de formação.

“A educação precisa ser integral”, afirma Heliodora. “Não reinventamos a roda, temos de aproveitar toda a conquista do conhecimento humano e aplicá-lo naquilo que precisamos de fato fortalecer.” Nos processos de ingresso e permanência, a Uniube prioriza o relacionamento com o estudante. “É o nosso diferencial, a ‘pedra de toque’. Tudo tem de convergir para o bom relacionamento, o estudante precisa se sentir integrado e integrante do processo formativo. É nesse sentido que essas três perguntas direcionam o trabalho.”

 

Coluna Daniel Sperb | Morreu de que? De miopia

“Esse objetivo envolve desde o colaborador na posição mais singela até o reitor, todos precisam estar acessíveis e sensíveis à necessidade do estudante. É um desafio diário.”

A gestão dos cursos de graduação é estruturada a partir de um planejamento estratégico, que leva em consideração as boas práticas de governança. O acompanhamento é semanal, por meio de fóruns, para as discussões e análises das atividades planejadas, dos resultados alcançados, promovendo as interlocuções e os alinhamentos necessários.

Para a Uniube, o professor é o pilar mais importante na edificação da educação. “A autoconfiança, a perseverança, a superação dos desafios, tudo isso faz parte de uma formação integral. Se não prepararmos os professores para essa necessidade, o planejamento não sai do papel”, afirma. Ao longo do trabalho na IES, os professores participam de inúmeros processos de formação continuada.

 

Aposta no mestrado profissional

André Fernandes está em Uberaba há 27 anos. Chegou para participar da implantação da pós-graduação e da pesquisa na Uniube. Primeiro como pesquisador e, a partir de 2014, como pró-reitor, quando faltavam algumas fases para a instituição ter os obrigatórios quatro mestrados e dois doutorados.

“Hoje são sete programas de stricto sensu: cinco mestrados, sendo três acadêmicos e dois profissionais. E dois doutorados, um acadêmico e outro profissional”, conta o pró-reitor. “Percebemos que para nós, como instituição privada, embora sem fins lucrativos, a pós-graduação profissional se encaixava muito melhor do que o acadêmico e a validade é a mesma, daí optamos por investir mais nos mestrados e doutorados profissionais.”

André Fernandes

André Fernandes, pró-reitor de pós, pesquisa e extensão: foco no mestrado e no doutorado profissionais

O doutorado profissional em educação básica da Uniube foi o primeiro a ser aprovado em Minas Gerais. “Quando propusemos um projeto inovador para melhorar a educação básica, ele foi rapidamente aprovado na Capes”, destaca. Em breve, virão o mestrado profissional em direito e outro na área da saúde, voltado à atenção básica. “Nossa graduação em direito é antiga, de 1951, e muita gente precisa fazer o mestrado.”

 

Opinião: As IES como fornecedoras de produtos-serviços

 

A pós-graduação é estratégica para qualquer instituição e estruturá-la é uma trajetória com barreiras. Um exemplo, aponta Fernandes, são os comitês de avaliação da Capes, formados por professores das federais e estaduais, sem a representatividade das IES privadas, que hoje dão conta de 25% do ensino da pós-graduação stricto sensu no Brasil. “Teríamos de ter 25% de representatividade nos comitês”, reivindica.

Fernandes trabalha com uma equipe pequena, entre coordenadores de mestrado, doutorado, pesquisa e “uma turma que fica atrás dos editais”. No ano passado, foram captados R$ 12 milhões para os projetos de pesquisa. São verbas de órgãos como a Fapemig, CNPq, Finep. A Uniube tem seu plano de apoio à pesquisa, com verbas da própria instituição, desde 1999. Outras fontes de recursos são as parcerias com empresas e com o governo mineiro.

Na área da educação, a Uniube tem a média de 15 alunos por orientador, principalmente por meio do programa estadual Trilha dos Futuros Educadores, destinado à qualificação do corpo docente das escolas de ensino fundamental e médio, com programas de pós-graduação. O governo financiou mais de 20 mil estudantes para lato e stricto sensu. “Entramos fortes nesse programa. Inicialmente tínhamos cem vagas para mestrado e doutorado. Concorreram cinco mil alunos, servidores do estado. Para nós foi muito bom em termos financeiros e também para o programa, pois colocamos alunos de alto nível, muito bem selecionados, para nossos programas de educação básica e superior.”

Autor

Ensino Superior


Leia Edição 284

Salário não cresce, mas diploma do superior garante emprego

Salário não cresce, mas diploma do superior garante emprego

+ Mais Informações
Esther de Figueiredo

Cresce a representação feminina na política do setor

+ Mais Informações
Universidade inovadora

Os pilares de uma universidade inovadora

+ Mais Informações
Miguel Copetto fala sobre internacionalização

Uma porta aberta à internacionalização

+ Mais Informações

Mapa do Site