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Entrevista

Conflito entre alunos da USP e do Mackenzie é levado para os cinemas

A Batalha da Rua Maria Antônia retrata embate das instituições durante a ditadura militar

Publicado em 12/04/2024

por Gustavo Lima

A Batalha da Rua Maria Antônia | Ditadura militar Longa foi filmado em 21 planos-sequência (foto: Manoela Estellita)

Rua Maria Antônia, Vila Buarque, SP. Em outubro de 1968, o endereço foi palco de um grande conflito ocorrido durante a ditadura militar. De um lado, discentes da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP) e membros do movimento estudantil. Do outro, alunos conservadores da Universidade Presbiteriana Mackenzie e pessoas ligadas ao Comando de Caça aos Comunistas (CCC). O choque ideológico aconteceu no dia 2 de outubro. Pedradas, coqueteis molotov e tiros foram alguns meios de ataque presentes no embate que resultou em inúmeros feridos e na morte de José Carlos Guimarães, da Escola Marina Cintra. 

Vera Egito

Vera Egito dirige e roteiriza o filme (foto: Rafael Barion)

O episódio inspirou A Batalha da Rua Maria Antônia, longa dirigido e roteirizado por Vera Egito que retrata momentos daquela noite. Formada em audiovisual pela Escola de Comunicações e Artes da USP, a diretora conta que as conversas sobre o conflito ainda circulam na instituição. “É uma história presente. Me chamou atenção tanto pelo episódio em si, quanto no sentido da dramaturgia. Há um antagonismo ideológico muito profundo e o fato dessas pessoas terem convivido na mesma rua durante a ditadura militar. Quando se constrói um drama, o elemento principal é o conflito e, nesse caso, a dramaturgia está naturalmente muito bem construida”, conta. 

 

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A diretora destaca a importância histórica como um dos fatores que a motivou a levar o evento para as telas. “De certa forma, ele define o fim da primeira parte da ditadura militar. Logo após a batalha, o cenário – que já estava ruim – fica muito pior. Ali é como a última noite em que se acreditava ser possível reagir de maneira institucional contra a ditadura. Em seguida, entramos nos anos de chumbo.”

Filmado em 21 planos-sequência, o longa acompanha diferentes pontos de vista de personagens que se encontram no prédio cercado da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP. A escrita teve início em 2010 e, nos 12 anos em que se deu a produção, a diretora realizou uma extensa pesquisa, além de conversas com sobreviventes do episódio.

 

No set e na sala de aula

O excêntrico e contraditório Benjamin, interpretado por Caio Horowicz, é o único personagem diretamente inspirado em uma figura real – o político José Dirceu. “Ele estuda na PUC mas, por ser um líder estudantil, ocupa a faculdade de filosofia e é conhecido por todos, assim como o Dirceu”, explica o ator, que teve a oportunidade de conversar com o político durante a preparação para o personagem. “Não é uma personagem biográfica, mas pude me inspirar e estudá-lo.”

Durante as gravações, Caio era também aluno da ECA-USP, onde se formou em direção teatral, e estudou na Escola de Arte Dramática que, em determinado período, funcionou no prédio da rua Maria Antônia. Para o ator, a dupla jornada foi uma maneira de enriquecer a experiência artística e acadêmica. “A vida na universidade foi substrato para minha atuação. Vivi coisas na USP que usei como material no filme, como duas greves. Em uma delas participei mais ativamente, à época ocupamos a reitoria e organizamos passeatas. Também passei por violências como em uma manifestação feita em frente à reitoria e que a polícia militar soltou bombas de gás e balas de borracha. O paralelo que as minhas experiências da USP têm com 1968 é muito nítido”, relata.

 

Caio Horowicz

Personagem de Caio Horowicz é inspirado em José Dirceu (foto: divulgação)

 

Horowicz ressalta a importância da obra diante dos 60 anos desde o golpe militar. “O filme conta a história desse episódio que é determinante para a história da repressão na ditadura e na luta dos estudantes. Assim como todo documento da ditadura, se faz necessário para que não esqueçamos o que aconteceu e, assim, não se repita jamais”, declara.

Produzido pela Paranoid Filmes com coprodução da Globo Filmes, A Batalha da Rua Maria Antônia tem rodado em festivais nacionais e internacionais de cinema. No Brasil, em 2023 venceu o prêmio de “melhor filme ficção” no Festival do Rio. Também foi reconhecido como melhor filme pela Semana Internacional de Cine de Valladolid, na Espanha.

Sem data de estreia confirmada, Vera adianta que o lançamento nos cinemas está previsto para o primeiro semestre deste ano. Assista ao trailer da produção.

 

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Gustavo Lima


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