NOTÍCIA
O desinteresse dos jovens reflete a falta de financiamento; IES sofrem com perda de alunos
Publicado em 14/02/2024
Em 2014, 370 mil pessoas ingressaram em cursos de engenharia no Brasil. Em 2021, foram 228 mil, de acordo com o Censo da Educação Superior do Inep. Para Marcelo Nitz, pró-reitor acadêmico do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), o decréscimo do interesse dos jovens nas carreiras de engenharia se deve a vários fatores, entre eles, a situação econômica e a redução do acesso ao financiamento estudantil.
“Na Mauá, temos experimentado estabilidade no número de ingressantes desde 2020, o que é um bom desempenho em comparação à média nacional, tendo em vista que a procura por cursos presenciais de engenharia no Brasil ainda está em queda.” Entretanto, afirma, “o engenheiro é dotado de competências essenciais e muito valorizadas no mundo do trabalho.” Para ele, a recuperação econômica, com a retomada de investimentos em infraestrutura, tecnologia e inovação ampliará as oportunidades e o mercado demandará profissionais.
Atrair jovens para as engenharias é fundamental. Irineu Gianesi, que assumiu a presidência do IMT em meados do ano passado, tem entre seus objetivos na gestão a busca por diversidade – regional, racial, socioeconômica e de gênero – no corpo discente. “Diversidade é o caminho. Óbvio que para resolver a diversidade racial e socioeconômica, que infelizmente no Brasil andam juntas, precisamos desenvolver o esforço de ampliar e direcionar recursos para quem não pode pagar.” Em relação à diversidade de gênero, Gianesi afirma que “há inúmeros estudos que mostram não haver nenhuma diferença de aptidão entre meninos e meninas para a matemática, o que existe é desestímulo, ainda muito jovens, para que sigam carreiras nessas áreas. De fato, precisamos trabalhar junto ao ensino fundamental e médio para despertar esse interesse”. Entretanto, ele diz, não basta atrair os estudantes, mas também “criar um ambiente que seja favorável a essa diversidade”.
É possível que a tendência de queda no interesse em relação às engenharias se reverta com o aumento das oportunidades de trabalho. O Programa de Aceleração de Crescimento (PAC), com foco em projetos de infraestrutura, como energia e logística, significará um aporte de R$ 1,7 trilhão. Além de um momento econômico mais favorável, há vagas disponíveis.
Luciano Freire, pró-reitor em Engenharia e Tecnologia no Centro Universitário Facens, em artigo enviado à redação, escreveu sobre o desafio que enfrenta o setor de engenharia. “Segundo relatório divulgado em 2023 pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA), aproximadamente 70% das empresas consultadas pelo Sistema Confea/Crea e Mútua relatam dificuldades para contratar profissionais com a qualificação necessária para atender as demandas atuais e futuras. Esse déficit pode gerar impactos significativos no mercado e provocar uma certa estagnação em áreas estratégicas da economia. Nesse contexto, fica evidente o papel das instituições de ensino superior, essenciais para a aplicação de soluções práticas e estratégias que revertam tal cenário.”
Rodrigo Henrique Geraldo, coordenador do curso de Engenharia Civil da Facens, afirma que os investimentos anunciados podem gerar demandas por engenheiros, sobretudo engenheiros civis, e gerar oportunidades na área. “Há uma tendência de aumento na demanda por profissionais que saibam desenvolver os produtos e os projetos necessários considerando as novas tecnologias e inovações do setor”, avalia o especialista.