IES devem transcender as métricas tradicionais de sucesso e considerar indicadores inovadores que reflitam a qualidade e a relevância de sua educação na era digital
Conheça as perguntas que podem contribuir com o planejamento estratégico de sua IES (foto: Freepik)As instituições de ensino superior frequentemente adotam novos métodos, processos e tecnologias com um atraso de cerca de dez anos em comparação ao setor corporativo. Esse padrão de atraso é observado desde a implementação da “filosofia de qualidade total” nos anos 80 e do “lean” nos anos 90. Mesmo abordagens mais recentes como design thinking e métodos ágeis, que começaram a ser usados no início dos anos 2000, assim como avanços em big data e inteligência artificial (IA), ainda não são amplamente adotados nas IES.
Além disso, estratégias como inovação aberta e a formação de ecossistemas de inovação, já em uso por empresas como a Natura há mais de vinte anos, ainda são relativamente novas em muitas dessas IES.
Como se esse atraso já não fosse suficiente, antes mesmo de resolver desafios como a queda acentuada de matrículas, a competição intensa por preços, a perda de qualidade e os custos operacionais insustentáveis, o setor enfrentará uma nova onda de obsolescência com a chegada da IA generativa, impulsionada por empresas como a OpenAI e pelos modelos multimodais como o Gemini, do Google.
Startups e plataformas como o YouTube, ágeis na adoção de novas tecnologias, estão preenchendo as lacunas deixadas pelas IES, atendendo demandas de aprendizado de forma mais eficiente e atrativa.
Para os críticos das edtechs que ainda duvidam de sua capacidade de oferecer cursos em áreas como engenharia e saúde, atenção, pois o cenário está mudando. A entrada de uma grande rede de farmácias no ensino superior, mesmo que em parceria com uma IES, é um claro indicativo de que as fronteiras estão se expandindo.
Este movimento, já em curso no setor de saúde com hospitais e no próprio direito com a Fundação Escola Superior do Ministério Público (FMP), é um indício de que o ensino superior vive um ponto de inflexão.
Com recursos financeiros abundantes e tecnologia avançada, esses novos entrantes estão prontos para estabelecer novos padrões de qualidade e relevância em áreas como negócios, tecnologia, engenharia, saúde e outras. Como seria um curso de engenharia oferecido pela Weg?
Para confrontar estes desafios, apresento uma série de questionamentos categorizados que podem contribuir para os planejamentos estratégicos das IES, provocando insights e estimulando o pensamento crítico ao bom e velho método socrático.
No livro DNA do Inovador: Dominando as 5 habilidades dos Inovadores de Ruptura, o saudoso Clayton Christensen apresenta resultados de uma pesquisa de 360 graus com mais de 500 consagrados inovadores e mais de 5 mil executivos de mais de 75 países, publicada no Strategic Entrepreneurship Journal. Christensen identificou 5 habilidades dos inovadores de ruptura, são elas: 1. Associar; 2. Questionar; 3. Observar; 4. Cultivar o networking e 5. Experimentar.
Empresas grandes fracassam em relação à inovação de ruptura porque a equipe de alta direção é dominada por pessoas que foram escolhidas por suas competências de execução, e não por competências de descoberta – que são estabelecidas pela habilidade de questionar.
Poucas coisas são tão inúteis, se não perigosas, quanto a resposta certa para uma pergunta errada. Perguntar é o estilo de vida dos inovadores. Perguntas são catalisadores críticos para insights criativos. A cultura de uma empresa que não estimula o questionamento soa como uma marcha fúnebre para a inovação.
Entramos na era das indagações. O ChatGPT da OpenAI resgatou a pedagogia da pergunta que está travestida de “engenharia de prompt”. É como se estivéssemos vestindo a ergonomia cognitiva com a elegância do “user experience – CX”.
Analogias à parte, que tal exercitarmos o código socrático por meio de algumas perguntas “matadoras” que poderão contribuir com o planejamento estratégico de sua IES? Para facilitar a compreensão, classifiquei-as em três categorias:
É evidente que as IES estão em um momento crítico de transformação. O atraso histórico na adoção de novas metodologias e tecnologias, em comparação com o mundo corporativo, as coloca em uma posição vulnerável, especialmente frente à emergente IA generativa e ao crescimento das edtechs. As IES devem, portanto, revisitar seus planejamentos estratégicos e abraçar a inovação, adaptando-se rapidamente às mudanças do mercado.
A integração de novas tecnologias e abordagens pedagógicas não é apenas uma questão de atualização curricular ou de investimento em infraestrutura digital. Trata-se de uma mudança drástica no modelo mental, na forma como as IES compreendem e respondem às necessidades dos estudantes e do mercado de trabalho.
A adoção de métodos ágeis, a ênfase em habilidades práticas e a colaboração com setores industriais são passos vitais para assegurar que os alunos estejam preparados para as demandas futuras. Além disso, as IES devem transcender as métricas tradicionais de sucesso e considerar indicadores inovadores que reflitam a qualidade e a relevância de sua educação na era digital.
Em última análise, o desafio para as IES não é apenas sobreviver na era da superinteligência artificial e da inovação tecnológica disruptiva, mas prosperar nela. As IES devem se adaptar às mudanças, antecipá-las e moldá-las, garantindo que continuem a desempenhar um papel relevante na educação e na formação das futuras gerações.
O exercício proposto no presente ensaio representa um pequeno fragmento de uma abordagem maior denominada Design de Futuros. No contexto do ensino superior, o Design de Futuros pode ser aplicado para moldar estratégias educacionais e adaptar currículos em resposta às rápidas mudanças no ambiente social, cultural, ambiental, econômico e tecnológico.
Assim, ao incorporar o Design de Futuros no planejamento estratégico, as IES poderão preparar seus estudantes para um futuro incerto e em constante mudança, garantindo que a educação que oferecem permaneça relevante, inovadora e alinhada com as necessidades do mundo em permanente evolução.
Por: Daniel Sperb | 05/01/2024