Coordenadora do CEPI e da área de metodologia de ensino da FGV Direito SP
Mundo está vivendo esse esvaziamento das universidades e o Brasil também
Têm sido cada vez mais frequentes relatos de docentes se queixando da baixa frequência dos estudantes aos cursos presenciais após a pandemia de Covid-19. E dos discentes que comparecem, há uma percepção de grande desengajamento também. O fato é que está havendo um esvaziamento da sala de aula e das universidades. Colegas de outras instituições, inclusive públicas, relatam dificuldade em preencher vagas de cursos outrora concorridos.
A experiência que uma docente dos Estados Unidos1 compartilhou há poucos meses é apenas um dentre tantos outros artigos na mesma toada. O baixo interesse não apenas nas aulas e discussões, mas em tarefas intelectuais, como leituras e preparação para os encontros, que talvez, para os estudantes, aparentem ser pouco úteis para a vida prática, reflete um afastamento das experiências coletivas, tão importantes na formação de nível superior.
Sim, definitivamente, a sala de aula no período pós-pandemia tem seguido rumos preocupantes. O mundo está vivendo esse esvaziamento das universidades e o Brasil também. O Mapa do Ensino Superior no Brasil 2023,2 estudo elaborado pelo Instituto Semesp, aponta para esse caminho. Segundo a pesquisa, em 2021, o país ainda vivia os impactos do segundo ano de pandemia e houve uma diminuição no número de matrículas em cursos presenciais, de 5,5% de decréscimo, mantendo a dos últimos anos. Se em 2015 havia 6.639.794 estudantes matriculados em cursos presenciais, em 2021 eram 5.270.750.
No dia a dia da docência, nota-se que mesmo os estudantes que frequentam os cursos não querem mais estar em sala de aula. Muitos não leem nem se preparam para o momento desse encontro, além das recorrentes ausências. Essa tendência de esvaziamento das universidades é algo a se refletir. Ainda faz mesmo sentido buscar uma formação no ensino superior? O baixo investimento em pesquisa no país tem sido compreendido como uma atividade não estratégica na escolha profissional? E o exercício da docência universitária, que sentido tem nesse contexto? Enfim, conhecer as razões desse fenômeno é urgente.
Precisamos compreender, discutir e repensar o papel da universidade neste momento pós-pandemia. Tais reflexões e ações, porém, só conseguiremos realizar se as construirmos coletivamente, compartilhando e ressignificando o papel da universidade e o nosso papel na sociedade.
Por outro lado, o aumento nas matrículas de cursos EAD mostra que as pessoas ainda veem na universidade um caminho para o desenvolvimento pessoal e profissional. De 2015 a 2021, o crescimento do número de estudantes na modalidade a distância foi de 167%. Elas estão, por diversas razões, investindo no estudo. Talvez por questões de acesso em regiões que não dispõem ou com poucas opções de universidades, ou ainda por razões socioeconômicas.
Uma boa parte da população brasileira vê, portanto, sentido no ensino superior e quer estudar. Investir em financiamento estudantil e viabilizar o acesso à universidade de qualidade e a permanência nela é fundamental, seja na modalidade a distância, seja na presencial.
Diante de todos esses sintomas, a universidade precisa urgentemente ser ressignificada, o que implica também, por parte de docentes e gestores, promover e ocupar espaços de qualificação do debate coletivo. Que consigamos nos engajar enquanto classe docente e fazer deste momento uma oportunidade para revisitar inclusive os pilares da nossa própria profissão.
1Disponível em: https://www.theedgemedia.org/newlong-covid-college-without-classes/ 2Disponível em: https://www.semesp.org.br/mapa/
Por: Marina Feferbaum | 11/12/2023