NOTÍCIA
Evento promovido pelo Instituto de Estudos Avançados da USP reuniu especialistas que discutiram os sistemas de avaliação
Publicado em 13/11/2023
As áreas de educação, saúde e engenharia serão as primeiras mudanças nas avaliações já em 2024, segundo Manuel Palacios, presidente do Inep – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. No webinar Avaliação da Educação Superior, nesta segunda-feira, 13, ele informou que no dia 7 de dezembro anunciará as medidas que regerão as avaliações no ensino superior. “A intenção é produzir indicadores setoriais para alcançar uma avaliação mais real”.
Palacios disse que o percurso do egresso deverá ser acompanhado pelas instituições de ensino superior (IES). “O Inep tem que trabalhar na direção de garantir a conclusão do curso e também acompanhar a trajetória de empregabilidade do estudante. Ele adiantou também que os cursos de licenciatura terão maiores modificações, pela necessidade do país.
O evento foi promovido pelo Instituto de Estudos Avançados da USP, de Ribeirão Preto, na Cátedra do Instituto Ayrton Senna, dirigida pela especialista Maria Helena Guimarães de Castro, que mediou a conversa entre os 4 convidados.
Durante sua fala, Luiz Curi, presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), enfatizou a necessidade de que a regulação do ensino superior seja transformada. “Não se pode falar de qualidade enquanto a regulação não servir para o ordenamento do crescimento”. Curi atribui a confusão reinante na educação superior à falta de instrumentos capazes de organizar o setor particular e público.
Rodrigo Capelato, diretor executivo do Semesp, atribuiu à complexidade do sistema de avaliação como um dos grandes desafios enfrentados pela educação superior brasileira. “Diante desse sistema gigantesco – de um país com dimensões continentais e um órgão tão centralizador como o MEC – temos poucos indicadores de qualidade, o que complica muito a vida da regulação. Há poucos ingredientes para fazer uma política de incentivo e de expansão”, comentou. Para Capelato, debates como a qualidade dos cursos presenciais e a distância acabam por ficar no campo das ideias. “Sabemos que há fortes indícios de problemas no sistema, mas os atuais indicadores atuais não refletem isso. Não digo que o sistema seja ruim ou bom. Mas, com esse espelho, conseguimos um retrato da educação superior brasileira? Ou esse modelo de avaliação já se esgotou?”, indagou.
O diretor executivo do Semesp acredita que descentralizar a avaliação, como é feito nos EUA, pode ser um caminho mais coerente com a realidade brasileira. “Seria uma forma de respeitar as características regionais”, exemplifica. “Há também a alternativa de reduzir a avaliação por áreas. Ao invés de tratar de diferentes engenharias, trabalhar na área de engenharia como um todo e com uma avaliação mais profunda”. Capelato acredita que a ampliação dos indicadores – que atualmente são apenas seis – seja fundamental para uma visão multidimensional dos problemas presentes no ensino superior.
O especialista ainda indicou caminhos como a autoavaliação para entender o contexto das IES. “Gera uma quantidade de indicadores gigantescos e é talvez o caminho mais promissor”, pontuou. Ele falou da necessidade de se explorar melhor o contexto socioeconômico dos estudantes e comenta a qualidade do Censo. “É incrível e com esses dados conseguimos extrair muitas informações, como acompanhar a trajetória do aluno e entender a taxa de graduação, uma informação de extrema relevância e que pode ser construída rapidamente”, disse.
Abílio Baeta, membro colaborador da Academia Brasileira de Ciências (ABC), também esteve presente no Webinar. Na ocasião, ele citou o Processo de Bolonha, que trouxe mudanças significativas no sistema de educação superior europeu. “Havia um sistema complexo e com desafios parecidos com os nossos. Um dos objetivos do processo era combater a evasão, que hoje é um drama da educação brasileira”. Baeta acredita em uma reforma no ensino superior brasileiro para um progresso efetivo. “Precisamos de uma reforma que diga o que queremos, o que a sociedade espera, como podemos nos organizar e para onde a educação deve caminhar. Sem uma reforma ampla, estaremos sempre correndo atrás do prejuízo”, defendeu. “É preciso algo um pouco mais forte do que simplesmente medidas de avaliação para que possamos ter o ensino superior como instrumento de desenvolvimento da sociedade brasileira.”