NOTÍCIA
Nova edição de "O Admirável Futuro da Educação Superior" aconteceu entre os dias 18 e 20 de outubro
Publicado em 20/10/2023
Por João Otávio Bastos Junqueira*: O Consórcio Sthem Brasil, o Semesp e a Universidade de Coimbra realizaram mais uma edição do “Admirável Futuro da Educação Superior”, evento em colaboração com a Arizona State University e com o Instituto Tecnológico de Monterrey que reuniu especialistas para debater cenários e boas práticas educacionais.
Temas relevantes trouxeram à tona algumas das incertezas e dores do setor, que passa por um momento paradoxal, pois ao mesmo tempo em que o mundo precisa de pessoas com autonomia intelectual e pensamento crítico sobre os mais diversos temas, o ensino superior tem sido colocado em dúvida sobre sua relevância e importância.
Talvez uma das causas seja a lentidão da academia ao tentar responder às demandas da sociedade, e quando o faz, muitas vezes, é de forma anacrônica. Mas é uma especulação.
Sempre me pergunto por que num ecossistema tão grande como o da educação superior brasileira, com centenas de milhares de professores e com milhões de estudantes, não há ideias novas surgindo. Não me parece, contudo, haver falta de ideias, mas sim um comodismo e o mais grave: a falta de coragem de lideranças e gestores em assumir riscos. Como escreveu João Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas, “o que a vida quer da gente é coragem”.
Convidado a escrever este artigo, trago os tópicos que, ao meu ver, se sobressaíram: propósito, social, inclusão, diversidade, sustentabilidade, valor, compromisso, liderança, tecnologia, planeta, paz, ESG. A prevalência destes temas evidencia que o ensino superior, tal como era visto há alguns anos, ao ensinar conteúdos para esculpir determinado profissional, mostra-se insuficiente nos dias atuais.
Recentemente reli um artigo de 2016 do Adauto Braz, com título autoexplicável: “A Universidade matou sua motivação”. Nele, o autor elenca três principais aspectos que o ensino superior deixa a desejar: autonomia, maestria e propósito. Vale a pena ler ou reler o artigo.
Evidentemente que quando faço essas reflexões críticas, há de minha parte uma generalização e uma caricatura propositais, com desejo de trazer luz ao tema. Reconheço, contudo, que há iniciativas bem-sucedidas e exitosas – os relatos dos painelistas do evento são a prova disso –, mas que ainda estão restritas aos bons exemplos, além de não estarem incorporadas para a maioria de nossas IES. Ou seja, ainda não massificamos as soluções que a sociedade demanda.
Reconheço também que não há uma receita única de sucesso. Há realidades e soluções tão diversas quanto as IES no país.
Aproveito este espaço para compartilhar com os leitores uma de minhas experiências mais recentes. A convite do Instituto Gallup, há algumas semanas estive em Lincoln, capital do estado de Nebrasca, EUA, visitando a Escola de Negócios da Universidade de Nebrasca para conhecer o CSI – Clifton Strengths Institute, numa tradução livre, o Instituto Clifton de Pontos Fortes.
Trata-se de um modelo que há décadas é usado e aprovado no meio corporativo. Por meio de um assessment, ou um questionário, chega-se a um relatório cujo objetivo é identificar os cinco principais pontos fortes de atuação de cada indivíduo; neste caso, de cada aluno. A partir do diagnóstico, uma metodologia testada e aprovada auxilia o estudante em sua jornada universitária.
Não é escopo deste texto aprofundá-la, mas despertar a curiosidade sobre uma das metodologias que podem auxiliar os gestores a não se sentirem sozinhos ao tentar realizar algo relevante com o intuito de inovar no ensino superior.
O princípio de todo esse programa é substituir a lógica de tentar identificar os pontos fracos dos alunos para corrigi-los. Ao invés disso, identificar os seus pontos fortes e focar em desenvolvê-los. Pode parecer uma diferença sutil, mas a consequência difere bastante. Lembrei-me de um provérbio chinês que é mais ou menos assim: “a melhor época para se plantar uma árvore foi há 20 anos. A segunda melhor é agora”. Insisto, será que falta liberdade para nossas IES inovarem? Trata-se de um problema de regulação e supervisão ou, novamente, faltam boas iniciativas acompanhadas de uma boa dose de coragem?
É inegável admitir que atualmente um aluno de ensino superior tem enorme facilidade de acesso à boa informação pelos mais diversos meios. Há muito o binômio universidade-professor deixou de ser a principal fonte primária dessas informações e dados. Mas também não é nenhuma novidade que a medida da competência de um indivíduo vai além de suas qualificações acadêmicas, pois os problemas do mundo real não se restringem às divisões e aos limites das disciplinas tradicionais.
Necessário quebrar a importância excessiva nas qualificações acadêmicas como indicadores de valor ou da capacidade de uma pessoa. Ao contrário do que o título sugere, o “Admirável futuro da educação superior” não é um exercício de futurologia ou de adivinhação. É uma provocação para nos incomodar e inspirar por meio das boas práticas relatadas para, juntos, buscar a coragem necessária e condizente com nossas responsabilidades ao lidar com o que há de mais sagrado na vida de alguém que nos procura ao ingressar nas IES – a esperança de uma vida melhor e mais digna. Adaptando do escritor Antonie de Saint-Exupéry, somos eternamente responsáveis por aquelas pessoas que aceitamos em nossas IES.
*João Otávio Bastos Junqueira é diretor de Redes e Parcerias da UNIFEOB