NOTÍCIA
Atitus Educação conta com seis mil alunos, um portfólio de 18 cursos de graduação, seis de mestrado e um de doutorado
Publicado em 19/09/2023
O setor do ensino superior tem instituições que enfrentam dificuldades, mas já pressentem a necessidade de transformação, fato que reputa às inovações o papel de única saída. Isso não significa que todas as IES busquem esse caminho. Então, são os profissionais visionários que saem do mercado. Esse era o destino de Daniel Quintana Sperb, consultor de gestão e administração de IES e empresas, que da formação em design industrial se especializou em design estratégico, fundou a edtech Be Formless e criou softwares, entre eles o LINK, para a curricularização da extensão, “que vende como pão quente”, adquirido por grupos educacionais listados na bolsa de valores.
Por bom tempo com um pé nas corporações e outro nas faculdades, cansou de dar murro em ponta de faca, saiu do mercado do ensino superior e migrou de vez para o mundo corporativo. “Queimei a língua”, diz. Em apenas um ano, estava de volta. Quem fez a proeza de resgatá-lo foram os executivos da IMED, faculdade com 20 anos de atuação, que se transformou na Atitus Educação em 2022, com sedes em Porto Alegre e Passo Fundo, no Rio Grande do Sul.
Na metamorfose, Sperb assumiu a vice-presidência de inovação. “Somos hoje uma instituição de ensino que compra IES, editechs, startups, que tem participação nas empresas. Por ora, parece mais uma empresa do que uma instituição de ensino.” Desde os tempos da IMED, a instituição era vocacionada para o mercado. A Atitus oferece cursos presenciais. “Nós nunca entramos no EAD. O nosso posicionamento e modelo de negócio nunca vislumbraram a escala. É baseado na diferenciação e no ticket médio alto.”
São seis mil alunos e um portfólio de 18 cursos de graduação, seis de mestrado e um de doutorado. Assim que vier o aceite para o segundo curso de doutorado, o pedido será protocolado junto ao MEC e “vamos dar um pulo direto para a universidade”, explica Sperb, acerca de conseguir os requisitos para ser universidade antes de passar pela condição de centro acadêmico. A Atitus fatura R$ 130 milhões ao ano.
Sperb enfatiza que a Atitus tem três pilares de diferenciação. O modelo acadêmico, bastante vinculado ao modelo de negócios, chamado Atitus Learning System, o ecossistema das escolas em conexão radical com o mercado e a jornada preditiva. O sucesso vem da gestão profissionalizada, do portfólio de cursos ajustado ao mercado e da metodologia da McKinsey, uma das maiores empresas de consultoria do mundo. Essa metodologia traz uma técnica de três horizontes de inovação. “É consagrada no mundo corporativo, mas as universidades não usam. Adaptamos essa metodologia para o nosso contexto.”
A partir do Atitus Learning System, o primeiro curso criado é o de Ciência da Computação, em 2022, instalado no Instituto Caldeira, onde também está a base corporativa da Atitus. “O local é um hub de tecnologia e inovação. No cafezinho, os estudantes cruzam com pessoas de mais de 200 empresas que faturam bilhões de reais, com empreendedores que há um ano tinham zero. Esse curso não tem disciplinas, é todo baseado em nanodegrees e nasceu com a Oracle, Google e AWS como big techs parceiras.” Os nanodegrees são microcertificações semestrais, assinados por empresas, no caso, as big techs parceiras ou as instaladas no hub.
Os três horizontes de inovação preconizados pela metodologia adotada perfilam-se numa matriz, ou tabela, designados como H1, H2, H3. No H1, graduação, mestrado e doutorado.
No H2, lifelong learning – cursos livres e lato sensu. No H3, consultorias. Essas linhas cruzam-se com linhas que representam as escolas – saúde, direito, agronegócio, politécnica.
“Vamos pegar a linha da escola de negócios, em que temos, no H1, graduações em administração, ciências contábeis e um mestrado em administração. No H2, um MBA em liderança feminina, um grande sucesso. Quem opera este MBA é uma empresa que compramos de educação executiva, a Cnex. Ela atua há 30 anos, formou oito mil executivos no Brasil inteiro, foi criada na serra gaúcha por outras empresas que se juntaram, pois havia uma carência na formação de liderança e executivos. Nós compramos 80% do Cnex, temos o controle, vira nosso braço de educação executiva da escola de negócios.”
Entre as vantagens da compra está a autonomia. “Conseguimos trazer essas empresas para dentro do ecossistema, formalmente, via contrato. Elas integram o ecossistema da Atitus Educação. Isso é uma das vantagens que temos.” No H3, o contexto é outro. “Por exemplo, a Semente Negócios é uma das grandes empresas de inovação, ao lado, por exemplo, da Innoscience. Compramos uma participação de 5% da Semente de Negócios. Então ela não está no H2, porque não temos o controle dela. Ela está no H3, onde temos participação de até 5%. É isso que preconiza nosso modelo de negócio. No H1 temos o controle – é o nosso core business, graduação, mestrado, doutorado, sem parceria. No H2, temos o controle das empresas, elas são adquiridas. No H3, nós também compramos participação, mas não temos o controle, porque normalmente são empresas maiores, não temos condições de comprar, então adquirimos pequenas participações.”
As aquisições, portanto, estão vinculadas ao modelo acadêmico. “Montamos um ecossistema por linha. A saúde tem seu próprio ecossistema. Negócios, agronegócios, as escolas têm seus próprios ecossistemas e as aquisições como meta”, detalha Sperb. “Esse é o pulo do gato. Quando compramos essas empresas o fazemos com o objetivo de impactar o H1, porque o salário de todo mundo é pago no H1; é ali que temos de performar.”
Outra característica diferente do frame de escolas da Atitus é a criação de conselhos consultivos. “Por exemplo, o conselho consultivo da escola de agronegócios tem que ter sete membros, e precisam ser figuras nacionais e internacionais da área. Estamos atrás de grandes executivos. Em novembro, a Atitus lançará a escola de agronegócios, com investimento de R$ 3 milhões. Cerca de uma centena de milhões, no prazo de cinco anos, está alocada para o reposicionamento dos 18 cursos – processo que deve terminar em 2025 –, e para os planos de expansão da Atitus.
Se “diferencial competitivo é aquilo que eu tenho, o concorrente não tem e é difícil de ser copiado”, conforme ensina o próprio Sperb, para além de um modelo acadêmico que pretende romper com os paradigmas da educação tradicional, a Atitus disponibilizará aos estudantes, nos próximos meses, algo que “não existe no mundo, que é altamente disruptivo: um sistema de predição de carreira”. Desenvolvido por Sperb, o software conta com inteligência artificial que apontará as estratégias para que o estudante alcance suas metas na carreira.
“Por exemplo, o estudante quer ganhar R$ 10 mil em um ano. O sistema, automaticamente, por meio de cruzamento de dados de várias plataformas – como LinkedIn, Infojobs, Guia Salarial Robert Half –, vai dizer: ‘80% das pessoas que ganham 10 mil na sua área têm essas características’.”
Funcionando como o Waze, conforme comparação de seu criador, o estudante terá o ponto de partida e chegada e poderá, inclusive, alterar rotas. Ao se formar, poderá acessar e inserir dados de sua carreira, na verdade, é desejável que o faça e, para isso, estão programadas as “iscas”. Interessa à Atitus saber onde o ex-estudante está, sua média salarial, se teve aumento. O sistema pode funcionar como acelerador de carreira, e até mesmo como vitrine de novos talentos para que eles sejam contratados por egressos. Ao se diplomar, diz Sperb, mais do que tapinhas nas costas, o estudante será acompanhado. ”Somos corresponsáveis”, finaliza.
*Esta reportagem sobre as inovações acadêmicas da Atitus Educação faz parte da edição 278 da Revista Ensino Superior. Assine e tenha acesso à edição completa.