NOTÍCIA

Edição 277

Professor do MIT apresenta ideias para uma nova IES

O professor Sanjay Sarma, do MIT J-WEL, fará palestra remota no Fnesp e abordará a concepção de uma nova IES, mais acessível e apta a enfrentar as mudanças do cenário atual

Publicado em 17/08/2023

por Sandra Seabra Moreira

Sanjay Sarma, do MIT Sanjay Sarma, do MIT (foto: MIT/MECHE)

Sanjay Sarma é indiano, professor do departamento de engenharia mecânica do Massachusetts Institute of Technology (MIT) e diretor do Abdul Latif Jameel World Education Lab (J-Wel), um laboratório de educação mundial, iniciativa conjunta entre o MIT e a Comunidade Jameel, “uma organização independente e global que promove a ciência para ajudar as comunidades a prosperar num mundo em rápida mudança”.

Em palestra remota durante o Fnesp, no dia 28 de setembro, Sarma abordará a concepção de uma nova IES, mais acessível e apta a enfrentar as mudanças do cenário atual. “O ensino superior enfrenta uma crise de custos e de eficácia. Isto numa altura de grande progresso tecnológico, o que exigirá um enorme desafio de atualização de habilidades e de competências STEM – Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática”, afirma.

Por dez anos, ele foi vice-presidente para a educação aberta do MIT, cargo que deixou no ano passado. Sob sua supervisão foram abertos programas complementares, como o MicroMasters, cursos online de mestrado para profissionais já atuantes no mercado. Os mais de 50 programas do MicroMasters foram adotados por cerca de 25 universidades em todo o mundo.

 

Fnesp 2023: desenho de uma nova IES

 

Sua fala trará conteúdo do Ideas for Designing an Affordable New Educational Institution, ou, em tradução livre, ideias para o desenho de uma nova e acessível instituição educacional, um projeto pensado pela J-Wel. Na introdução, a publicação informa que muitas inovações das duas últimas décadas foram examinadas pelo estudo, algumas consideradas, outras descartadas. Sem perder tempo com aquilo que não funciona, a ideia é apostar numa “forma ponderada e holística de preservar os grandes benefícios do ensino superior”.

Entre os temas que Sarma abordará está a necessidade de reforçar o processo de aprendizagem tendo o aluno como centro. “A conversa vai ter foco em pedagogia, estruturas curriculares, ensino cooperativo, finanças dos estudantes e a formação dos graduandos para o mercado de trabalho”. O ensino cooperativo diz respeito a promover a educação em sala de aula com experiência prática, ou seja, “que os estudantes tenham experiências de trabalho em instituições parceiras, que podem ser empresas, museus, laboratórios e universidades”, descreve o documento.

 

Educação presencial num mundo digital

 

Os recursos digitais propiciam que a aula presencial seja bem aproveitada pelos que têm o privilégio de ir a uma sala de aula. É também a democratização do acesso. “Atualmente, há quem não possa ou não tenha meios para se deslocar a uma sala de aula. Para eles, a aprendizagem digital é uma ótima tábua de salvação.” A utilização das novas tecnologias no ensino presencial, entretanto, ainda é um dos maiores desafios para as IES. “Muitas vezes é distrativo e viciante. Já vi demonstrações de realidade virtual e não fiquei impressionado”, conta. A seguir, Sarma fala do lugar que a educação presencial e remota têm em meio ao avanço irrefreável da tecnologia.

 

Esses quase 30 anos no MIT, os últimos dez anos como vice-presidente de educação aberta, foram dedicados à educação digital. Você pode comentar sobre essa trajetória?

 

Sempre fui um investigador e um acadêmico, mas exploro regularmente novos e diferentes domínios. Isto me tornou um aprendiz experiente. Aprender a aprender levou-me a investigar a psicologia cognitiva e as novas modalidades de aprendizagem. O digital tornou-se evidente como uma modalidade muito importante para o futuro da aprendizagem.

Os conteúdos digitais têm muitas vantagens. Em primeiro lugar, podem ser utilizados para inverter as salas de aula, o que permite uma aprendizagem mais profunda. As salas de aula invertidas são cativantes porque os alunos assistem à “aula” em vídeo antes da aula propriamente dita. Durante a aula, participam em debates, estudos de casos, projetos e aprendizagem prática. Em segundo lugar, os conteúdos digitais ajudam-nos a chegar a alunos que, de outra forma, não teriam acesso; são profissionais que trabalham, pessoas que estão distantes e as que não podem pagar.

Como alguém que cresceu na Índia, este foi um vetor importante para mim. Enquanto prosseguia a minha investigação, foi com entusiasmo que segui esta trajetória.


Apesar do seu importante papel na expansão dos cursos digitais do MIT, há uma declaração sua dizendo que a educação presencial é melhor. Como educador e escritor que repensa nos seus livros os processos de aprendizagem e educação, pode apontar as principais razões para esta afirmação?

 

Os nossos instintos de aprendizagem como adolescentes e como adultos derivam todos do nosso instinto de criança. As crianças humanas nascem bastante imaturas. Uma zebra bebê consegue correr com uma hora de idade. Um ser humano é imaturo até a adolescência. A razão é que temos o instinto de aprender. Será que um pai consegue imaginar-se interagindo com seu filho apenas a distância?

Fomos realmente concebidos para aprender com todos os nossos sentidos. E o fazemos por meio da colaboração, de atividades práticas e de discussões com interações fortuitas. Tudo isto é mais bem feito pessoalmente – quer se trate de um projeto de design ou de uma discussão sobre história ou de um projeto de impressão 3D. Se pudermos fazê-lo pessoalmente, devemos fazê-lo. Mas atualmente desperdiçamos esse tempo em palestras que são passivas. Por isso, acredito muito na deslocação da aula e na libertação desse tempo para uma utilização realmente eficaz do tempo presencial. É o que se chama de sala de aula invertida. Um dia, a realidade virtual poderá rivalizar com a presença física, mas ainda não chegamos lá.

Autor

Sandra Seabra Moreira


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