Educadora traz olhar para a educação básica, reflexões sobre avanços tecnológicos e a inclusão de habilidades e conhecimentos no currículo escolar
No divã: Vanessa Krueger, educadora especializada em educação infantil
Sou graduada em normal superior e pedagogia, especialista em educação infantil, anos iniciais e educação bilíngue. Atuei por muitos anos como professora na rede pública e particular de Santa Catarina, da educação infantil ao ensino médio, e, por um breve período, no Ceará. Recentemente, lecionei no curso de especialização em ensino bilíngue. Minha grande paixão sempre foi a alfabetização. Aos quatro anos, decidi que seria professora. E foi exatamente assim. Contudo, também estudei estilismo e morei em Londres, na Inglaterra, onde tive a oportunidade de conviver com diferentes culturas, o que só aumentou minha paixão por aprender e ensinar. Durante a pandemia, desenvolvi novas habilidades, contei histórias no Instagram para alegrar crianças, dediquei-me a leituras e, assim, percebi que havia muito a compartilhar com outros educadores. Atualmente, sou palestrante, trabalho com formação de professores e responsável por um programa de alfabetização em uma escola da rede privada de Blumenau.
Sempre apreciei estar em constante atualização, mesmo antes de debatermos as novas tendências, como lifelong learning, por exemplo. Tenho convicção de que quanto maior for o nosso repertório para “combinar ideias” e contribuir com a educação de forma significativa e criativa, maiores serão as chances de nos tornarmos fonte de inspiração para as gerações futuras.
Assim, reflito sobre as verdadeiras demandas dos alunos que frequentam o ensino fundamental em nosso país. Além das disciplinas tradicionais, como matemática, ciências e linguagens, é necessário incluir habilidades e conhecimentos que os preparem para os desafios que virão. À medida que a tecnologia avança rapidamente e prevê-se a extinção de várias profissões, quais devem ser as prioridades e o que realmente importa incluir no currículo escolar das crianças e adolescentes?
Minha frase: Para ensinar, seus olhos precisam brilhar.
Karina responde: Que linda sua história com a docência, Vanessa. É ótimo quando encontramos professores como você, tão comprometidos com a carreira, especialmente os que se dedicam aos anos iniciais e à alfabetização das crianças. Seu lema para a docência é inspirador para todos nós professores. Também gostei muito do que trouxe para discutir comigo e com os leitores. Estamos preocupados com o futuro e isso impacta diretamente os professores, responsáveis por “formar todas as outras profissões”.
Apesar de a maioria dos adultos ser mais pessimista em relação ao futuro, em média, três em cada cinco jovens afirmam que o mundo está progredindo em direção a um lugar melhor, segundo pesquisa realizada pelo Fundo Internacional de Emergência das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) para mais de 21 países. Saber que jovens têm esperança de um mundo melhor, também nos faz acreditar que ele possa existir.
Em 2020, no cenário pandêmico de grandes transformações, o Fórum Econômico mundial abordou a necessidade de nos prepararmos melhor para as mudanças, sabendo intervir com prioridades, mudando como tomamos decisões, especialmente mantendo-nos mais informados sobre o futuro. Tudo isso exige novas habilidades que perpassam pela nossa capacidade de imaginar e criar futuros, ou seja, a alfabetização de futuros.
Você, como boa alfabetizadora, sabe o salto fantástico que é na vida de qualquer pessoa e da sociedade quando somos capazes de ler e escrever. Mas, para lidarmos com as transformações e a aceleração que você comentou, precisamos dar um novo salto: alfabetizar a sociedade para ler e escrever o futuro, ou seja, ajudar a humanidade a imaginar, entender e até criar futuros possíveis. E isso pode ser algo acessível e ampliado para todos nós. Significa que podemos ser mais protagonistas do nosso tempo, não compreendendo o futuro simplesmente como uma continuidade do presente, mas percebendo que há futuros alternativos que podemos imaginar e, mais do que isso, impulsionar nossa vontade de mudar.
Tenho muito claro a importância do nosso papel na promoção da alfabetização de futuros para apoiar nossos jovens nos desafios que enfrentarão ao longo da sua vida. Para isso, vou deixar uma indicação de um livro, lançado no mês de maio, pelo professor António Nóvoa, chamado: Professores: libertar o futuro, que nos convida a refletir sobre nosso papel docente e reconhecer nossa responsabilidade em ser a geração de educadores que transformará profundamente a educação. Te convido a vir comigo.
Essa foi a Vanessa no Divã, o próximo pode ser você. Envie seu relato para mim e participe das próximas colunas.
Karina Nones Tomelin
Educadora, psicóloga, pedagoga, mestre em Educação. Colunista na Revista Ensino Superior
Por: Karina Tomelin | 16/06/2023