NOTÍCIA

Artigo

Desafios da educação superior no pós-pandemia

"A universidade precisa acordar urgentemente para as mudanças que estão ocorrendo no mundo do trabalho", afirma Mozart Neves Ramos, em artigo do livro "Educação: a trilha inacabada"

Publicado em 01/06/2023

por Ensino Superior

Foto cortada para site Crédito: pixels

No livro Educação: a trilha inacabada, o titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira, do Instituto de Estudos Avançados da USP em Ribeirão Preto, Mozart Neves Ramos, reúne uma série de artigos publicados por ele em veículos jornalísticos nos últimos três anos. Da educação básica ao ensino superior, Ramos reflete sobre os principais desafios do setor após a chegada da pandemia. No artigo ‘Ensino Superior: não podemos esquecer!’, ele evidencia a importância da educação superior para o Brasil e destaca seus principais desafios. Confira na íntegra:

 

Ensino Superior: não podemos esquecer

Por Mozart Neves Ramos

 

“Em geral, quanto mais anos de estudo tiver a população de um país, maior será sua riqueza”, lembra Mozart Neves Ramos (crédito: divulgação)

O Brasil, sem dúvida, precisa olhar com mais atenção e prioridade para a Educação Básica, colocando em uma mesma equação quantidade e qualidade. Isso não é simples. Não se trata apenas de mais dinheiro, mas também de uma melhor gestão no emprego do dinheiro, que se traduza na melhoria da aprendizagem dos estudantes e na redução das desigualdades educacionais. Se esses desafios já eram importantes na agenda educacional, ampliaram-se muito no pós-pandemia. Todavia, o Brasil não pode esquecer do Ensino Superior.

Em geral, quanto mais anos de estudo tiver a população de um país, maior será sua riqueza, medida pelo percentual do Produto Interno Bruto (PIB) per capita, que se acentua exponencialmente com a qualidade da oferta. Por isso, é importante que o Brasil veja como anda seu Ensino Superior, que tem muitos problemas a serem resolvidos, tanto na esfera pública como na particular. A seguir destacamos alguns dos desafios,  tomando como base os dados do Censo da Educação Superior de 2020.

  • 77% das matrículas estão concentradas no setor particular, que, em números absolutos, correspondem a 6.724.002. Não obstante esse expressivo número, o Brasil tem uma taxa líquida (matrículas de estudantes de 18 a 24 anos nesse nível de ensino em relação à população total dessa faixa etária) muito baixa, próximo a 20%, bem abaixo de alguns de seus vizinhos, como Argentina, Chile e Uruguai. A meta, de acordo com o Plano Nacional de Educação (PNE), seria alcançar o percentual de 33% até 2024, o que infelizmente não ocorrerá.

 

Leia entrevista com a secretária da Educação Superior do MEC, Denise Pires de Carvalho

 

  • Indo para a faixa etária seguinte, de 25 a 34 anos, o percentual da população brasileira com Ensino Superior é também muito baixo, de apenas 24%; a média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é de 46%. Em Portugal, essa taxa é de 42%.
  • Sobram muitas vagas no Ensino Superior, possivelmente em cursos de baixo interesse social. Essencialmente, tais vagas remanescentes encontram-se no setor particular, mas na rede federal são 116 mil vagas, a maioria em cursos presenciais.
  • A entrada no Ensino Superior se dá majoritariamente pelos cursos de ensino a distância (EaD); na rede federal ainda é feita por meio de cursos presenciais, com 91%.
  • Um dado preocupante para a Educação Básica, considerando a baixa qualidade, em geral, da oferta dos cursos a distância: dentre os 10 maiores cursos de EaD na rede federal, 7 são no campo da formação de professores, nas diferentes licenciaturas. A pedagogia é o curso de EaD com o maior número de matrículas, tanto na rede federal como na particular.
  • A taxa de desistência no Ensino Superior é elevadíssima: de cada 100 ingressantes, 59 desistem. Isso não depende de o curso ser do setor público ou do particular; na rede federal, a taxa de desistência é de 55%. Também independe da modalidade, se presencial ou EaD; na presencial, a taxa de desistência é de 58%. Um aspecto interessante é que esse percentual cai muito entre alunos que estudam em instituições particulares com financiamento público: entre os que recebem o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies), por exemplo, é de 38%.
  • Os três cursos de licenciatura com maiores taxas de desistência são física (78%), matemática (70%) e química (69%), exatamente as disciplinas que mais têm carência de professores no Ensino Médio.

 

Leia: Pesquisa aponta para déficit de 235 mil docentes em 2040

 

Esse quadro também preocupa a maior – e possivelmente a melhor – universidade brasileira, a Universidade de São Paulo (USP). Por isso, o reitor Carlos Gilberto Carlotti criou um grupo de trabalho (GT) para trazer insights ao que ele chama de “construindo a Educação do futuro”. Tive o privilégio de ser convidado pelo magnífico reitor para coordenar esse GT. Uma coisa é certa: a universidade precisa acordar urgentemente para as mudanças que estão ocorrendo no mundo do trabalho, impactado por um cenário cada vez mais disruptivo, e ouvir, como nunca, seus egressos nas reformas curriculares. Os currículos têm de ser mais dinâmicos, e os professores devem estar preparados para formar seus alunos para o futuro que virá. Muito vem acontecendo fora dos muros das universidades, que hoje já não são mais os únicos nichos produtores de conhecimento. Ou a universidade percebe isso, ou perderá parte de seu prestígio social.  

*Correio Braziliense, 1 de dezembro de 2022.

O e-book do livro Educação: a trilha inacabada está disponível de forma gratuita no site da Santillana.

Clique aqui.

 

 

 

Autor

Ensino Superior


Leia Artigo

Foto cortada para site

Desafios da educação superior no pós-pandemia

+ Mais Informações
escuta ativa

SSIR Brasil | Escuta Ativa

+ Mais Informações
Koo

A novidade no universo das redes vem da Índia

+ Mais Informações
pexels-julia-m-cameron-4144096

O acesso ao ensino superior depende de regulação e qualidade

+ Mais Informações

Mapa do Site