NOTÍCIA

Edição 274

A busca por outro espelho

Na Unifran, projeto-piloto de autoavaliação e meta-avaliação acontecerá no segundo semestre

Publicado em 02/05/2023

por Ensino Superior

Fachada Unifran Na Unifran, projeto-piloto de autoavaliação e meta-avaliação acontecerá no segundo semestre (foto: divulgação)

Como a IES se vê? Se ela utilizar os instrumentos governamentais de avaliação, consegue enxergar suas potencialidades e fragilidades? A resposta a essa pergunta tem sido “não”. Indicadores quantitativos não levam em conta a diversidade de instituições, regiões e culturas do país e acabam se transformando em espelhos trincados refletindo imagens distorcidas, que nem sempre auxiliam no aperfeiçoamento dos processos de gestão.

Foi a partir dessa constatação que o Semesp iniciou, em maio de 2021, a criação de um instrumento de autoavaliação para as IES. No início foram 11 IES pioneiras, reunidas no âmbito da Rede 17 – Autoavaliação, que conceberam a essência do hoje chamado Projeto de Autoavaliação Institucional para o Ensino Superior. A adesão ao projeto foi crescendo e atualmente são 38 IES envolvidas. O próximo passo é a implantação de projetos-piloto nas IES, que culminam com a meta-avaliação: a presença de gestores de outras IES avaliando o processo realizado internamente, em cada IES.

No site do Semesp, o diretor de Inovação e Redes, Fábio Reis, detalha que o instrumento de autoavaliação recém-criado “mantém os princípios e valores estratégicos estabelecidos originalmente pelo Sinaes e demais normas educacionais vigentes, mas com a inclusão de áreas, indicadores e rubricas que induzem ao planejamento estratégico ao enfatizar o desenvolvimento institucional, a governança, a atuação e as políticas acadêmicas, a sustentabilidade e o desenvolvimento do processo de meta-avaliação de cada IES”.

 

Edição 274 | O Brasil é forte em pesquisa científica e pode ser melhor

 

Kátia Ciuffi

Kátia Ciuffi, reitora da Unifran (foto: divulgação)

“Muito trabalho” é expressão recorrente na fala de quem participou dos 18 meses de elaboração do instrumento. Kátia Ciuffi é reitora na Unifran, instituição da cidade de Franca, no interior paulista. Ela já participava da Rede 6, relacionada às atividades de pesquisa e pós–graduação, quando topou a nova empreitada. “Lemos documentos, estudamos muito as iniciativas exitosas em IES de outros países, como México, Peru, Espanha. Depois dessa primeira fase, partimos para a segunda. Convidamos os professores membros das CPAs – comissões próprias de avaliação – para integrar o projeto e então começou um trabalho bastante árduo. E rápido!”

Reuniões semanais somaram-se a contatos quase diários entre as CPAs das instituições. O Semesp promoveu curso com especialista em rubricas para o estabelecimento das mais importantes para o processo de autoavaliação. “Existe o instrumento do MEC, mas queríamos um que levasse em conta não só aspectos numéricos. Isso porque as IES são muito boas no que fazem, têm papel relevante na sociedade, impactam a comunidade na qual se inserem. Normalmente, dados qualitativos não são avaliados por instrumentos convencionais, governamentais e nós começamos a levar esses dados em conta. A Unifran, por exemplo, é extremamente relevante para a cidade de Franca e isso não é visto por meio do instrumento governamental, em nível nacional.”

 

Leia também: O papel da autoavaliação do Sinaes

 

Kátia dá exemplos do que ela chama de extrema relevância. “Ficamos com nossa clínica de fisioterapia fechada por um tempo na pandemia, por determinação municipal. Com isso os atendimentos pararam. Recentemente, numa palestra sobre autismo, ouvimos da mãe de um garoto autista o seguinte: ‘Meu filho perdeu a época de ouro da vida dele porque a Unifran estava fechada’. Essa mãe é muito agradecida à Unifran porque fomos nós que detectamos o autismo do filho dela.” As atividades extensionistas também geram impacto e têm relevância, lembra Kátia.

Obviamente, números não são desprezíveis. “Fizemos um instrumento que contempla o quantitativo e o qualitativo”, ressalta.

 

Implantação e meta-avaliação

 

A partir deste ano, as 38 IES começaram a implantar projetos-piloto. Na Unifran, a implantação começará de fato no segundo semestre. O que acontece agora é a confecção de manual para contar aos colaboradores acerca do processo de autoavaliação e seus procedimentos. A ideia é começar a partir da estrutura de um único curso grande, por exemplo, medicina ou odontologia. “Mesmo que os coordenadores de outros cursos não sejam avaliados nesse momento, todo mundo vai participar da construção para aprender a trabalhar com este instrumento”, explica Kátia.

Após a implantação, no âmbito da meta-avaliação, gestores de outras IES avaliam o processo realizado. “Primeiro temos que nos autoavaliar de maneira bem criteriosa, baseada em todas as dimensões que propusemos no instrumento. Depois vamos avaliar uns aos outros. Vou mostrar o rigor aplicado ao processo de avaliação. O mais legal disso tudo é que não é um ranking. Não vou ser ranqueada entre as 38 instituições. Vamos nos ajudar, discutir, ver nossas fragilidades, onde é possível melhorar, o que é bom para compartilhar.” No final de todo o processo, a IES recebe um selo, uma certificação.

Para Kátia, o maior desafio para a implantação será o tempo. A Unifran tem 53 anos, 31 cursos presenciais, 150 cursos EAD e quatro programas de pós-graduação lato sensu e stricto sensu. “Uma universidade tem tarefas gigantescas”, finaliza.

Autor

Ensino Superior


Leia Edição 274

Fisioterapia pélvica

Fisioterapia pélvica: reabilitação funcional abre mais mercado

+ Mais Informações
Fachada Unifran

A busca por outro espelho

+ Mais Informações
Capa Edição 274 - Pesquisa científica

O Brasil é forte em pesquisa científica e pode ser melhor

+ Mais Informações
Rose Luckin

IA, importante termos uma boa regulamentação

+ Mais Informações

Mapa do Site