Educação

Colunista

Thuinie Daros

Diretora de planejamento acadêmico na Vitru Educação

O ensino presencial está acabando? O que podemos esperar do futuro

Curso superior para exercer uma profissão é um sonho das pessoas que buscam uma posição de destaque no mundo do trabalho

Design sem nome A autoaprendizagem é uma habilidade que auxilia a própria pessoa a aprender e entender os fenômenos por conta própria por meio do processo de coleta, processamento e apropriação de novos conhecimentos. 

Atualmente, a oferta de cursos, formatos, metodologias e condições de pagamento são bastante diversificadas, o que favorece ainda mais a procura. Além disso, milhões de estudantes da educação superior que haviam escolhido o modelo de ensino presencial foram obrigados a experimentar a integração intensiva das tecnologias em seus cursos de graduação devido à crise sanitária e, certamente, esta experiência digital redefine as expectativas para o futuro.

Leia: Como fica o ensino superior após a eleição?

Embora não seja o único motivo, os modelos acadêmicos de ensino presenciais entregues atualmente devem ser transformados para continuarem sendo uma opção relevante aos estudantes que almejam cursar o ensino superior nesta modalidade.

Acompanhar as tendências para a educação superior, seus impactos e práticas sempre foi de extrema relevância, afinal são novos tempos, novos modelos de negócios, novos recursos, outras formas de pensar e de viver e consequentemente de ensinar e aprender. 

O perfil do estudante já não é o mesmo de anos atrás. O fato é que a sociedade mudou e os modelos acadêmicos disponíveis precisam ser capazes de acompanhar as transformações mais amplas. Justamente neste contexto nasce a necessidade de uma prática pedagógica, seja na gestão ou na sala de aula, pautada em uma abordagem ativa e cada vez mais online e híbrida.

Com tantos recursos tecnológicos, ciência aberta, cursos online e acesso livre às diversas fontes de conhecimentos, ofertar uma experiência de aprendizagem cuja fonte principal de acesso ao próprio desenvolvimento é o professor, torna-se inconcebível e até irresponsável em nosso momento histórico.Pesquisa sobre a nova realidade da educação com estudantes de até 16 anos mostra que 73% dos entrevistados acreditam que o ensino mudará definitivamente para modelo que agrega aulas online e presenciais.

O caminho é ofertar uma arquitetura pedagógica hibrida para os cursos presenciais

A aprendizagem híbrida é a integração das atividades realizadas presencialmente com atividades de forma online, possibilitando   a apropriação do conhecimento com algum controle do tempo e ritmo com foco na personalização do aprendizado do estudante. 

Sendo assim, pode-se afirmar que o modelo de ensino presencial não irá acabar completamente, mas precisa ser modificado para continuar mantendo o seu potencial competitivo e a conexão com os desafios profissionais atuais. 

Mas quais são os elementos que precisam estar presentes nesta nova concepção de ensino presencial? Qual é a modelagem que atende às necessidades e desafios da contemporaneidade? Como podemos manter a competitividade mantendo a qualidade de ensino já conquistadas por diversas instituições tradicionalmente presenciais?  

Leia: Educação digital é colocada em pauta no segundo dia de ‘Admirável futuro da educação superior’

Para ajudar os líderes acadêmicos e docentes a ofertarem um modelo acadêmico de educação superior inovador, competitivo e que de fato atenda às necessidades dos estudantes, listei 8 elementos que considero indispensáveis na modelagem pedagógica de cursos presenciais.

1. Currículo flexível 

É uma resposta à demanda por inovação especialmente no ensino superior, e fornece possibilidades de acesso aos conhecimentos por meio de recursos e disciplinas digitais com potencial de atender os diferentes ritmos e estilos de aprendizagem. Pode ainda disponibilizar trilhas de aprendizagem diferenciadas e escolhas de disciplinas que se alinham às aspirações profissionais e interesses.

Quanto maior o grau de flexibilidade curricular, maior o potencial de diferenciação, o que se torna ainda mais valioso quando contextualizado em um mercado altamente competitivo, como é o nicho de ensino superior no Brasil.

2. Hard skills e soft skills

A palavra “skills” vem do inglês e significa habilidades. Hard skills são as capacitações técnicas que um profissional pode conquistar e comprovar por meio de diplomas, certificados de qualificação, cursos, e claro, por meio da qualidade de execução das atividades profissionais exigidas. Trata-se do conjunto de conhecimentos técnicos acumulados para realizar determinada função exigida pelo exercício de uma profissão.  Já as soft skills são as competências pessoais e bem difíceis de serem analisadas em um primeiro momento, como por exemplo a liderança, ética, criatividade, comunicabilidade, empatia, espírito de equipe e flexibilidade. 

Se existiu um mundo em que somente o conhecimento técnico definia uma carreira, isso já é passado.  A combinação de soft e hard skills é uma inovação educacional que acelera os estudantes a prosperarem no mercado de trabalho e na vida profissional e, portanto, é essencial para um modelo preocupado com as demandas atuais. 

3. Metodologias ativas

O ensino essencialmente transmissivo, com o predomínio do uso de lousa, giz e papel, professor como detentor do conhecimento e o estudante inserido em um processo de memorização e reprodução por meio de baixa ou nenhuma participação, já não são suficientes para atender às necessidades das novas gerações. E nem considerada uma abordagem capaz de acompanhar as evoluções. Por isso, as metodologias ativas são excelentes alternativas capazes de gerar maior aprendizagem devido à prática de seus princípios, como o protagonismo estudantil, o trabalho em grupo e a resolução de problemas reais. 

Propor soluções para problemas reais é algo complexo. O estudante precisa ter uma base sólida para elaborar novas ideias, exercer a flexibilidade para ouvir críticas, lidar com a frustração e o fracasso, trabalhar com materiais diversos e, sob diferentes condições, cumprir prazos, ter coragem para apresentar algo inusitado, ser disciplinado e trabalhar as habilidades comunicativas para convencer com argumentos os demais sobre suas propostas. Caso o trabalho seja em grupo, precisa, ainda, aprender a lidar com o modo de ser dos seus colegas e direcionar os esforços do grupo para um objetivo comum. 

Desta forma, a utilização de estratégias que leve em consideração as necessidades do cenário atual podem ser mais eficazes e apresentar melhores resultados na compreensão e performance no aprendizado e na aplicação do conhecimento, uma vez que o estudante desenvolve mais competências e habilidades por meio de práticas interativas e colaborativas de ensino.

4. Protagonismo 

A sala de aula deve ser um reflexo do mundo para o qual estamos preparando os estudantes. Se as expectativas almejam que eles criem e inovem, logo nossas salas de aulas devem ser lugares criativos e inovadores para aprender.

Nesse contexto, teorias, fórmulas e conceitos continuam tendo importância, mas deixam de ser o único foco.

Possibilitar o desenvolvimento do protagonismo dos estudantes os auxiliará a compreender o mundo e transpor em algo concreto para transformar a própria vida ou da comunidade. Em outras palavras, serão capazes de propor soluções para problemas reais e transformar as ideias em realidade com foco no desenvolvimento de uma postura resolutiva.

5. Cultura Digital

Vivemos em um mundo dominado pelas tecnologias. Smartphones, tablets, computadores, diferentes tipos de máquinas e até robôs têm feito parte do nosso cotidiano de maneira cada vez mais intensa.   Estamos vivenciando a transformação de um objeto analógico em inteligente, em um contexto que envolve volume significativo de dados (Big Data) processados, ocasionando a possibilidade de conhecer cada vez mais os sujeitos no que tange ás suas preferências, seus hábitos, desejos e assim, o direcionamento das suas escolhas por meio da cultura digital. 

Como instituição educativa, é fundamental investir no uso de tecnologias, criar espaços inteligentes, elaborar materiais digitais, fomentar o desenvolvimento de um mindset capaz de transformar ideias em realidade. No entanto, é mandatório que essas tecnologias venham acompanhadas de práticas pedagógicas capazes de desenvolver as competências profissionais.

6. Personalização 

A aprendizagem personalizada refere-se ao resultado do processo que consiste na aplicação de estratégias que respeitem as limitações e talentos de cada um, levando em consideração o fato de que o aprendizado ocorre por meio de diferentes maneiras e velocidades, e que seus conhecimentos prévios, habilidades e interesses podem variar muito. 

Combinações com a previsão da criação de objetos de aprendizagem como o microlearning, vídeos, conteúdos em áudios, disciplinas presenciais, disciplinas online, ensino telepresencial, atividades síncronas e assíncronas, laboratório de simulações virtuais, roteirização de atividades, semanas de imersões presenciais e online, meetups etc., são apenas alguns exemplos que podem ser incorporados na modelagem pedagógica que torna o ensino presencial cada vez mais flexível e personalizado.

7. Autoaprendizagem

Trata-se de uma iniciativa individual, com ou sem auxílio de outros (estudantes, professores, tutores, monitores etc), cujo objetivo seria diagnosticar as próprias necessidades de aprendizagem e dedicar tempo e energia para aprender algo novo. A autoaprendizagem é uma habilidade que auxilia a própria pessoa a aprender e entender os fenômenos por conta própria por meio do processo de coleta, processamento e apropriação de novos conhecimentos.  Permitir um dia ou um momento livre para dedicação no processo de autoaprendizagem cria condições da ampliação do repertório de possibilidades dos estudantes.

8. Professores preparados

Com a utilização da automação, transformação, e obsolescência contínua de habilidades, as instituições educativas já perceberam que fornecer uma prática cada vez mais digital, contextualizada, significativo e centrado nas pessoas, tornará o modelo acadêmico mais competitivo, no entanto, será preciso um novo perfil de professor.

Ao abordar o papel do professor na contemporaneidade reforça-se a ideia da mudança do sage on the stage para guide on the side, ou seja, sair de uma postura sábio no palco para guia ao lado e isso implica na apropriação de competências diferentes do que outrora era crucial.

Considerando a necessidade do desenvolvimento das habilidades, os professores precisarão acumular o conhecimento sobre diversas metodologias que oportunizam a realização de projetos, experiências, desenvolvimento de competências digitais e o empreendedorismo, o papel do educador é fundamental para promover essa mudança e levar os estudantes a esse estado de mobilização e descoberta.

Otimização e maximização de produtividade

A redução significativa do número de estudantes no modelo presencial observados no contexto vigente é decorrente do fato de que o mercado e as tecnologias vêm mudando exponencialmente, portanto, não faz mais sentido manter um modelo sem aderência ao momento atual. 

Defende-se que uma modelagem pedagógica híbrida oferece uma opção criativa para professores e líderes acadêmicos para que eles possam disponibilizar conhecimentos aos estudantes mesmo fora das quatro paredes da sala de aula. 

Este encaminhamento, otimiza e maximiza a produtividade durante os momentos presenciais, além de gerar economia com a diminuição de recursos no transporte, tempo, alimentação fora, ou mesmo compra de livros e materiais de papelaria, com os momentos mais on-line e flexíveis, consequentemente, aumentando a percepção de valor da experiência de aprendizagem pelos estudantes por estar em convergência com o atendimento das singularidades e demandas do sistema produtivo atual. 

Leia também: Por que devemos preservar um tempo formal para a autoaprendizagem dos estudantes?

Por: Thuinie Daros | 31/10/2022


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