Educação

Colunista

Simone Bergamo

Simone Bergamo é diretora-acadêmica do grupo Ser Educacional

Ensino empreendedor e o papel do professor

Educação empreendedora não se reduz a uma visão comum de que serve somente como capacitação à abertura ou gerenciamento de um negócio ou empresa

ensino empreendedor alunos estão sedentos por novas soluções e já não se veem, como as gerações anteriores, em um ou poucos empregos para a vida toda

A educação empreendedora é cercada de mitos. Ao contrário do que se imagina, ela não se reduz a uma visão comum de que serve somente como capacitação à abertura ou gerenciamento de um negócio ou empresa. É muito mais do que isso. Nesses tempos tão tecnológicos, empreendedorismo deveria ser visto como disciplina raiz, que deve começar no ensino básico e atender aos estudantes até o nível superior. E é claro que os professores têm um papel fundamental nessa formação.

Antes de tudo, vale dar um breve contexto. Vivemos uma era de ampliação de nichos de mercado na economia de serviços. É um momento de constante evolução da conectividade à internet e de centralidade da comunicação por meio de dispositivos móveis. Estas são justamente algumas das principais características de um mundo impactado por atividades empreendedoras. 

Para sobreviver a esse ambiente disruptivo, organizações de toda natureza vêm sendo impulsionadas à adaptação, um fenômeno inescapável depois dos quase dois anos de afastado do convívio presencial – relações humanas, profissionais e comerciais forçosamente foram canalizadas pelos meios digitais.

Leia: Em busca da qualificação

No campo da educação não foi diferente 

E, mesmo com a retomada depois da melhora do quadro sanitário, muitas dessas transformações vieram para ficar. Por isso, a necessidade de constante inovação entrou na ordem do dia. Os alunos estão sedentos por novas soluções e já não se veem, como as gerações anteriores, em um ou poucos empregos para a vida toda. Eles querem ser agentes do próprio futuro.

Nesse cenário, instituições educacionais, especialmente as universidades, precisam, cada vez mais, ser ambientes propícios para o empreendedorismo. Isso significa não somente tangenciar as áreas da inovação, criatividade e desenvolvimento econômico. Precisam mergulhar nelas e buscar pontes para conexão com o perfil de seus públicos e com o mercado de trabalho. Muitas delas, no Brasil, já acordaram e vários gestores se mostram conscientes, mas na linha de frente estão os professores. Qual o papel deles? 

Muitos educadores estão cada vez mais atentos à tendência, que é muito clara. Nas salas de aula presenciais e remotas, ficam frente a frente com estudantes que, como  disse antes, já não desejam começar a trabalhar em arranjos tradicionais. Os millenials tentam se afastar de escritórios. Jovens da Geração Z evitam se reportar a chefes… Em resumo, preferem equilibrar o emprego a seus demais interesses, trabalhando com iniciativas que lhes garantam sua própria riqueza. Querem ser empreendedores.

Leia: Por que personalizar a experiência de aprendizagem dos estudantes?

Além do conhecimento e da experiência técnica

Muitas pessoas nascem com espírito empreendedor, pautado na prática. No entanto, empreender requer formação e ela pode ser encontrada nas salas de aula. Os professores devem encarar a transformação e ajustar seus planejamentos e ações de ensino e aprendizagem, rever currículos, entre outras iniciativas, para entregar os melhores resultados aos estudantes, ansiosos pelo sucesso de seus futuros empreendimentos.

Essa mudança empurra todos para uma nova configuração. Educadores, na atualidade, precisam carregar competências empreendedoras, com apurada visão de negócios nas áreas em que atuam. Não por acaso, as soft skills ganharam relevância em relação ao desenvolvimento de hard skills. É necessário ir além do conhecimento e da experiência técnica. É indeclinável agregar valores como autonomia, proatividade, criatividade – e outras habilidades mentais, emocionais e sociais. 

Professores que atuam de forma eficiente no ensino empreendedor não se restringem às informações contidas nos livros didáticos. Buscam a realidade do mercado, a interação com empresas públicas e privadas, ressignificam conhecimentos e os atualizam para criar um ambiente de aprendizado motivador. A elaboração de metodologias aliadas às novas tecnologias garante inovação em sala de aula, com experiências enriquecedoras, alcançando um patamar de aprendizado engajado e direto. 

Todo planejamento é reflexivo, estratégico e, principalmente, flexível. Desse modo, é fundamental reorganizá-lo, utilizando as metodologias que incorporam dinâmicas e estudos de casos referentes às áreas, recorrendo a essas atividades no dia a dia da sala de aula. O norte deve ser planejar estratégias que coloquem o aluno no centro da aprendizagem, como autônomos, protagonistas e fomentem a sua participação nas atividades e pesquisas direcionadas pelos professores. 

Desafios

É essencial que os docentes utilizem as chamadas metodologias ativas, cujos processos de aprendizagem trazem experiências reais, problematizações ou simulações com o objetivo de motivar os alunos a solucionarem tarefas que são desafiadoras e essenciais para a sua preparação profissional.

Outro desafio é aproximar as universidades do mundo do trabalho e criar conhecimento a partir dessa relação. As instituições que encontram novos caminhos, como o Massachussetts Institute of Technology (MIT), se posicionam como referência e estão em destaque nos rankings mundiais de empregabilidade como polos formadores de profissionais inovadores e empreendedores. 

No Brasil, para definir o potencial de cada instituição, o Ranking de Universidades Empreendedoras – desenvolvido pela Confederação Brasileira de Empresas Júniores (Brasil Júnior) em parceria com outras organizações –  utiliza variáveis como cultura empreendedora, inovação, extensão, infraestrutura, internacionalização e capital financeiro.

“Somos agentes ativos”

Em sala de aula, muitos professores vêm se diferenciando pela capacidade de aproximar seu campo de atuação com saberes relacionados à dinâmica da concorrência, modelos de negócios, compreensão de públicos-alvo, ética e direito empresarial e inovação tecnológica. 

Nesse contexto, somos agentes ativos para engajar os estudantes. Temos que trabalhar para que, cada um deles, com suas particularidades, entenda as necessidades do mundo, aproveite as oportunidades e busque as soluções para os desafios do mercado. Nada muito diferente, como se percebe, dos princípios básicos que nos definem como educadores.

Simone Bergamo é diretora-acadêmica do grupo Ser Educacional

Leia também: Equidade na educação sob a ótica do professor: compreender diferenças é passo fundamental

Por: Simone Bergamo | 31/08/2022


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