NOTÍCIA
Fatores sociais e econômicos podem ditar a tendência de formação profissional, mas a necessidade da prática e de soft skills específicas para a área, gera questionamentos que tipo de profissional o mercado irá reter no futuro
Publicado em 08/06/2022
Análise de microdados do Censo da Educação Superior 2020, realizado este ano pela empresa de consultoria Educa Insights, evidencia aumento da procura por cursos da área da saúde tanto na modalidade presencial quanto a distância. Os números dessa última chamam a atenção. Entre as dez graduações a distância mais procuradas em 2020 e que tiveram aumento no ingresso de alunos em relação a 2019, quatro são na área de saúde: farmácia, com crescimento de 416%; biomedicina, com 190%; nutrição, com 70,5%; e enfermagem, com 30,4%. Contudo, esses cursos não são totalmente remotos, contam com atividades presenciais e práticas de ensino.
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Para a professora Maria Cristina de Mello Ciaccio, enfermeira e coordenadora do curso de Enfermagem do Centro Universitário São Camilo, também de São Paulo, esses cursos podem se beneficiar dessas metodologias, porém a prática é imprescindível. A docente endossa que o investimento em simulação realística atualmente é importante para criar cenários de práticas do cotidiano em diferentes complexidades, e colocar o aluno no ambiente de forma imersiva. “Mas é um ambiente controlado, seguro, que dá a oportunidade de desenvolver procedimentos que não são tão frequentes nas aulas práticas, além de diminuir riscos para o aluno e paciente”, diz. “Mas não substitui a prática. Você não vai trabalhar com bonecos, nem ter controle do que acontece no dia a dia. É preciso vivência”, ressalta.
No São Camilo, que incorpora metodologias híbridas, principalmente em 2020 o aumento nos cursos de saúde foi por volta de 20%. Segundo Ciaccio, a procura ainda segue alta, mas num percentual mais baixo, fi cando em 9% a 10%, considerando só o curso de Enfermagem.
Nesse despertar da sociedade para a valorização dos profi ssionais da saúde, urge a refl exão sobre a motivação do aumento da procura: foi só a pandemia? Essa não é uma área que demanda vocação e, sobretudo, soft skills específi – cas para o exercício diário de seus profi ssionais? Lia Brasil, diretora do Centro de Ciências da Saúde da Universidade de Fortaleza (Unifor), atrela esse fenômeno ao fato de que a procura por cursos superiores sempre foi muito vinculada à perspectiva de empregabilidade, bem como àquelas atividades que estão em destaque na mídia em determinado momento.
“Estes fatores indubitavelmente impactaram a procura por cursos da área de saúde durante a pandemia, atraindo inclusive alunos que não necessariamente possuem vocação para a carreira, tornando-se um desafi o para os próximos anos a retenção desse público”, refl ete. “A primeira captação de 2022, em um contexto de menor infl uência da pandemia, apresentou um resultado menor que o alcançado pelos últimos três períodos, o que indica que esse efeito está se dissipando” observa.
A doutora Farah, do Einstein, conclui que, sendo a área da saúde muito ampla, existe uma alternância na procura dos cursos, dependendo, por exemplo, das novas tecnologias, de novas políticas públicas e momentos em que algumas patologias aparecem ou prevalecem. “Sendo assim, hoje em dia, cursos envolvendo terapia intensiva são muito procurados, assim como cursos envolvendo bem-estar tanto físico quanto emocional, ou ainda aqueles envolvendo alta tecnologia, como a cirurgia robótica.” O momento de oportunidade na área da saúde não se restringe apenas ao aumento da procura por formação, mas também em investimento no mercado.
Muitas empresas têm avançado em verticalização como é o caso da Afya que, para além da oferta de formação, fez uma série de compras milionárias de plataformas e empresas de serviços digitais para médicos, justamente na pandemia: um período de retração em vários setores, menos o da saúde, claro. Além disso, as instituições de ensino superior têm trabalhado para ampliar a oferta de vagas nos cursos de Medicina. A Unip, por exemplo, lançou o seu este ano, com 400 vagas; 100 para cada um dos quatro campi que contarão com o curso.
Em 15 de junho o Semesp divulgará a 12ª edição do Mapa do Ensino Superior, pela primeira vez com dados do período de pandemia, inscreva-se para acompanhar o webinar: https://www.semesp.org.br/eventos/lancamento-mapa-do-ensino-superior-2022/
O documento completo será disponibilizado apenas para associados.
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