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Inovação

Universidade católica é referência global em energia limpa

A Universidad Católica Comillas é a instituição número um da Europa em energia limpa e acessível. O trabalho de décadas, tem como objetivo chegar a um modelo energético mais justo, humano e sustentável

Publicado em 22/11/2021

por Luciana Alvarez

energia limpa_universidad católica A universidade dedica-se ainda a pesquisas com o tema energético em seis cátedras, cada uma com uma abordagem diferente (Foto: Pixabay)

No ranking de impacto da Times Higher Education (THE), a Comillas aparece como a primeira da Europa no quesito energia limpa e acessível. Nesse ranking, são avaliadas as ações das instituições em ensino e pesquisa sobre o tema, as políticas de uso eficiente no local e as medidas para promover a eficiência energética na comunidade de maneira ampla. Foram avaliadas 560 IES, de 77 países. No mundo, a Comillas está em quarto lugar, atrás apenas de uma instituição da Tailândia, uma dos Estados Unidos e outra da Austrália.

energia limpa_universidad católica
A universidade dedica-se ainda a pesquisas com o tema energético em seis cátedras, cada uma com uma abordagem diferente (Foto: Pixabay)

Construir a reputação na área é algo que vem sendo feito ao longo de muitas décadas. “O interesse pela energia na nossa universidade é muito antigo. O padre Pérez del Pulgar, um dos fundadores da Escola de Engenharia, já defendia na década de 1930 que a Espanha precisava criar uma rede de transmissão de eletricidade que conectasse as centrais térmicas do norte da península com os centros de consumo e grandes cidades distribuídasem todo o território”, afirma Mariano Ventosa, vice-reitor de pesquisa da universidade.

Mais recentemente, em 1984, a IES fundou o Instituto de Investigação Tecnológica, que desde o início tem trabalhado com projetos de pesquisa e desenvolvimento no âmbito energético, em parceria com empresas e outras instituições em todo o mundo.

Porque investir em energia limpa

Para os padrões da Espanha, a universidade católica Comillas é uma instituição pequena – com 7.814 alunos de graduação, 1.838 de mestrado e 277 doutorandos -, mas tem uma história muito antiga. Foi fundada em 1890 pelo Papa Leão XIII, na cidade de Comillas, norte do país. Oferecia inicialmente cursos de direito canônico, teologia e filosofia. Com os passar dos anos se transferiu para Madri e se fundiu com outras faculdades de jesuítas, aumentando seu escopo de atuação. Hoje tem seis dezenas de cursos, incluindo a área de negócios, saúde, ciências humanas e engenharias.

“Os motivos que nos levam a nos preocupar com a pesquisa e formação no setor de energia são muitos e variados, mas podem ser resumidos pela ideia de que a energia sempre é fonte de riqueza, pois é imprescindível em todos os âmbitos da economia, e também pelo ponto de vista do consumidor, para quem ter acesso a uma energia limpa e barata é sinônimo de qualidade de vida”, explica o vice-reitor

Resultados

Há mais de 20 anos, a Comillas passou a oferecer um mestrado no setor elétrico, que se tornou referência nacional. “Parte do êxito se deve ao desenho do curso, com uma colaboração muito estreita entre todos os agentes relevantes: empresas, instituições e consumidores”, conta Ventosa.  A universidade dedica-se ainda a pesquisas com o tema energético em seis cátedras, cada uma com uma abordagem diferente. “Cada cátedra investiga no seu domínio, mas sempre há temas de interesse compartilhado. Por isso, a colaboração entre os grupos de pesquisa é real”, diz Ventosa.

Segundo ele, o objetivo final da instituição como um todo é chegar a um modelo energético mais justo, humano e sustentável, o que implica em um enfoque interdisciplinar. “De outro modo não poderíamos oferecer respostas tecnológicas, econômicas e regulatórias a este problema, que é muito complexo. Um modelo energético neutro em carbono é mais dispendioso a curto prazo, mas não a longo prazo. E levar energia de maneira acessível a todos deve ser compatível com encontrar modelos neutros em carbono”, garante.

Financiamento da pesquisa

Além do mesmo grande objetivo final, o que todas as cátedras têm em comum são as parcerias com empresas e fundações. “A cátedra mais antiga é BP Energia e Sustentabilidade, criada em 2002, com o objetivo de avançar na busca de modelos energéticos sustentáveis. No ano seguinte, criou-se a Cátedra Rafael Mariño de Novas Tecnologias Energéticas, centrada nos aspectos mais tecnológicos”, cita Ventosa.

A Rafael Marinho já está no terceiro patrocinador. Há ainda a Cátedra de Energia e Inovação, que conta com apoio da Iberdrola, multinacional espanhola de fornecimento de energia. A dedicada à Transição Energética é custeada pela Fundação Repsol. A cátedra chamada Energia e Pobreza tem múltiplos parceiros. 

Leia: Em meio à COP26, IES discutem alternativas para conservação do planeta

A mais recente de todas trata dos Estudos sobre o Hidrogênio e foi lançada em julho deste ano. Mesmo durante o período de pandemia, a universidade foi capaz de se organizar e encontrar várias companhias dispostas a investir na pesquisa desse tema. “Pelo potencial disruptivo do hidrogênio, consideramos necessária uma aproximação conjunta, que contemple o ponto de vista da engenharia e da economia”, afirmou no evento de lançamento o pesquisador Rafael Cossent, especialista em regulação do setor energético e coordenador da nova cátedra.

A Cátedra Estudos do Hidrogênio conta com a participação de seis empresas patrocinadoras: Acerinox, Carburos Metálicos, Fundación Cepsa, Enagás, Management Solutions e Toyota España. São empresas com interesse direto na pesquisa do novo vetor energético e abrangem toda a cadeia de valor do hidrogênio, desde a produção, transporte e usos finais, bem como entidades relevantes em áreas que tratam de aspectos financeiros ou novos modelos de negócios associados.

Parcerias na resolução de problemas

O vice-reitor garante que o dinheiro de patrocinadores privados não compromete a confiabilidade das pesquisas quando se trata de projetos que chama de I+D+i, sigla que se refere à Investigação, Desenvolvimento e Inovação. Em vez disso, essas parcerias tornam as pesquisas profundamente conectadas com problemas urgentes da sociedade.

“Quando fazemos projetos com empresas ou outras instituições estamos dando respostas a problemas reais, aos quais já é necessário dar alguma resposta. Não se tratam de pesquisas teóricas, que podem não ter interesse direto para a sociedade”, explica.

Além da resposta direta a uma demanda específica, os patrocinadores ganham ao associar sua imagem de forma positiva para a opinião pública, posicionando-se como empresas que apoiam a educação e o desenvolvimento do país.

Claro que há uma necessidade constante de prestação de contas e transparência, de forma semelhante ao que se deve fazer quando o dinheiro é público. “Ao fazer pesquisa financiada, em primeiro lugar é preciso publicar a fonte do financiamento”, afirma Ventosa. Ele também ressalta a necessidade de ter uma equipe ética, responsável e com um profundo compromisso com a verdade.

“Nosso prestígio seria destruído se não atendêssemos ao compromisso com o interesse comum e a verdade. Quando uma empresa nos encarrega de um trabalho, nós damos a nossa melhor resposta a essa demanda. As respostas devem ser sempre consistentes com a ciência e o melhor conhecimento existente até o momento”, pondera.

Reconhecimento internacional

Para que seu protagonismo seja reconhecido também fora do país, o destaque em rankings internacionais é essencial, diz Ventosa. Segundo ele, embora o destaque seja na questão energética, toda a universidade se beneficia da visibilidade. “Os rankings são um caminho eficaz para atrair estudantes internacionais. Por isso, o reconhecimento no ranking de impacto do Times Higher Education é muito importante para nós. Ficamos orgulhosos de forma especial que o reconhecimento chegue pelo nosso impacto na sociedade. O prestígio também atrai estudantes para toda a universidade”, afirma.

Só o prestígio, contudo, não traria de fato estudantes internacionais se a universidade não se preparasse de outras formas. Desde 2006, o mestrado Setor Elétrico, por exemplo, passou a ser oferecido em inglês. “Nos primeiros anos, os estudantes internacionais vinham principalmente da América Latina, por causa do idioma castelhano. Com o inglês, atraímos também estudantes de outras latitudes”, conta o vice-reitor. Há ainda bolsas do programa europeu Erasmus Mundus, que tornou o curso mais atraente para estrangeiros de dentro do continente.

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Luciana Alvarez


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