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Coluna Ana Valéria Reis

WAC: escrever para pensar, aprender e engajar

Programa Writing Across the Curriculum (WAC) é um caminho para resgatar a habilidade de comunicação oral e escrita dos nossos estudantes

Publicado em 13/10/2021

por Ana Valeria Reis

wac escrita Wac trata-se de um esforço organizado e sustentado que serve como ferramenta aos docentes para utilizar a escrita de forma a ajudar o aprendizado dos alunos (foto: Pexels)

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Wac trata-se de um esforço organizado e sustentado que serve como ferramenta aos docentes para utilizar a escrita de forma a ajudar o aprendizado dos alunos (foto: Pexels)

Dentre as metodologias ativas de ensino, você conhece ou já deve ter ouvido falar sobre WAC (Writing Across the Curriculum). Nas disciplinas, a escrita de artigos formais é algo que já deve ser inerente à cultura dos cursos para os alunos, mas como desafiá-los a escrever informalmente, com frequência, dentro e fora da sala de aula?

Leia: Mensurando o engajamento para qualificar experiências de aprendizagem

Essas tarefas informais não precisam ser demoradas nem para os alunos, nem para os docentes, mas podem fornecer treinamento em formas disciplinares específicas de pensamento, oferecer espaço para os alunos explorarem material novo e diferente e que pode servir como plataforma para discussões em aulas mais ricas.

O que é um programa WAC?

Um programa que reconhece e apoia o uso da escrita em toda e qualquer circunstância, e em todo e qualquer curso oferecido em uma instituição de ensino. Trata-se de um esforço organizado e sustentado para ajudar o corpo docente a usar a escrita de forma mais deliberada e frequente como ferramenta, para ajudar os alunos a aprender.

Desde a década de 1980, o MIT (Massachusetts Institute of Technology) estabeleceu requisitos que assegurassem que seus alunos fossem proficientes em escrever tanto a prosa expositiva quanto o discurso especializado de sua disciplina acadêmica. No início dos anos 1990, uma nova iniciativa começou a se basear na cooperativa de redação técnica de graduação existente para criar um novo currículo que asseguraria que os alunos do MIT se tornassem escritores e palestrantes competentes e eficazes.

Nos anos 2000, doações substanciais da National Science Foundation e da JMR Barker Foundation apoiaram esses esforços e, em uma votação, o MIT substituiu o requisito de redação por um novo requisito de comunicação que também asseguraria que todos os alunos de graduação recebessem instrução e prática em ambos, escrevendo e falando, em cada um dos seus quatro anos de graduação.

Não só MIT, mas as demais instituições que usam efetivamente o programa, contam com uma equipe no writing center, ou centro de escrita, onde os alunos têm acompanhamento individual, principalmente sobre questões relacionadas a gêneros textuais, aspectos gramaticais, entre outros elementos estruturais, uma vez que a produção do conteúdo perpassa pelos objetivos de aula, que leva o aluno a escrever informalmente sobre o que está aprendendo nela ou no curso de forma geral, e conta com a correção do professor da área. Outra equipe presta os mesmos serviços no LabWrite; um laboratório online que atende os alunos também com dúvidas ou dificuldades sobre a língua.

Escrita ajuda a fixar melhor o conteúdo

Escrever para pensar, aprender e engajar compõe a sequência didática de aulas bem planejadas, em que o professor propõe pausas entre teoria e prática realizadas não só nas aulas, mas durante a elaboração de projetos, resolução de problemas ou mesmo entre a exposição de conceitos, em aulas mais tradicionais. Provocar o aluno para refletir sobre o que está aprendendo, por que aquilo é relevante e como relacionar seu aprendizado com a realidade, por meio de textos escritos, antes de falados, torna a escrita uma forma prática de recuperação de informações, conhecimentos, dados, que fixam na memória aquilo que acabou de ser compartilhado.

O engajamento exige que os alunos usem a escrita para se envolverem mais profundamente e de forma crítica com as ideias do curso. Frequentemente, isso significa a criação de atividades que podem levar mais tempo do que um exercício típico de escrita informal. E, muitas vezes, “escrever para engajar” se sobrepõe ao envolvimento do aluno, que varia segundo o interesse particular de cada um.

O professor que se utiliza dessa ferramenta como instrumento de diagnóstico, fixação, verificação da aprendizagem está seriamente comprometido com a leitura desses textos e efetivo feedback aos alunos. Sem isso, os alunos não participam, não escrevem.

Experiências e estudo de casos

Em 2017, saí do Brasil com o desafio de buscar novas perspectivas e ideias sobre a aplicação do WAC, que eu já vinha usando nos cursos em que eu trabalhava, principalmente nas engenharias e, com tal propósito, cheguei à Universidade de Michigan, Estados Unidos.

Ali, participei do Writing Across Difference, décima terceira conferência internacional sobre o Writing Across the Curriculum. Mais de quinhentos professores reunidos das mais distintas partes dos Estados Unidos e do mundo, para discutir a respeito do WAC como metodologia ativa, fundamental para a mudança do processo de ensino aprendizagem e o papel do aluno como protagonista do próprio conhecimento.

Dias de muitos estudos de caso, debates e imersão em incontáveis sessões específicas sobre o WAC, tamanha sua aplicação e importância.

O tema da Conferência WAC daquele ano foi “Writing across Difference”, e as propostas apresentadas nas sessões denotaram uma gama de temas que permeiam as mais diversas formas de diferença e inclusão.

Previsão dos novos desafios com aplicação do WAC como metodologia

De início, pude perceber que a aplicação do WAC como metodologia ativa em sala de aula já é tema assentado e indiscutível e a conferência em questão foi o marco para a apresentação das conclusões de mais um ciclo de intensas pesquisas e estudos.

O foco das conversas e dos trabalhos não mais foi o “porquê” da metodologia, mas sim o “como”. Observando o histórico das conferências é possível, por meio da compreensão do passado, fazer uma previsão do que se espera e dos novos desafios:

1) como trabalhar com o WAC em um contexto de uma sala de aula heterogênea e multicultural?

2) como avaliar a produção textual dos alunos de forma eficiente, completa e coerente com as atividades propostas?

3) qual deve ser o perfil do professor como avaliador?

4) de que forma usar o WAC como ferramenta para desenvolver a capacidade reflexiva e valorativa dos alunos, bem como instrumento para a justiça social e integração com a comunidade? Além disso, outra novidade consistiu na utilização do WAC como instrumento para a integração universidade-comunidade nas atividades de extensão universitária.

Infelizmente esgotei meu número de linhas para este artigo. E falar sobre o desenvolvimento das habilidades orais e escritas de nossos alunos é tema sobre o qual precisamos nos aprofundar. Tenho muito para compartilhar ainda. Vamos continuar esta conversa.

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Ana Valeria Reis


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