11º Mapa do ensino superior no Brasil indica que matrículas aumentaram em 2,4%, em paradoxo com taxa de escolarização. Evasão e falta de políticas públicas são grandes obstáculos para desenvolvimento humano e do setor
Publicado em 08/06/2021
Os dados são de 2019, mas já apresentam estimativas para o ano de 2021, com base em pesquisas de 2020 e do primeiro trimestre de 2021 utilizando variáveis bastante robustas como o PIB, taxa de empregabilidade, etc. Uma das percepções do estudo feito pelo Instituto Semesp, apresentado em evento online nesta terça-feira (8), foi que apesar da crise que o setor enfrenta desde 2015, agravada pela pandemia, o ensino superior privado teve aumento de 2,4% em número de matrículas.
Por outro lado, chama a atenção que, apesar do crescimento, a taxa de escolarização líquida, ou seja, alunos entre 18 e 24 anos (faixa etária considerada adequada para o grau de ensino superior) não cresce. De toda a população brasileira nessa faixa de idade, apenas 17,9% estão matriculadas num curso de graduação. De 2018 para cá, a taxa varia entre 17 e 18% apenas, sem avanços. Este ponto pode ser explicado pela falta de políticas públicas que facilitem o ingresso às universidades, tendo em vista que a maior parte dos estudantes se encontram em situação de vulnerabilidade financeira, segundo a pesquisa.
O estudo mostra ainda que deve haver queda de 8,9% nos cursos presenciais e um crescimento de 9,8% no EAD, porém, o impacto da pandemia já demonstra arrefecimento na modalidade. Dentro do modelo assíncrono, 80% dos alunos têm de 30 a 40 anos, tendo em vista que o perfil deles é de pessoas que já estão no mercado de trabalho, buscando ascensão profissional em sua área de atuação. Já na modalidade presencial, 80% tem até 29 anos.
“É um equívoco pensar que uma modalidade eliminará a outra. O modelo síncrono é mais caro, por isso muitos jovens estão deixando de ingressar no ensino superior. Eles não estão indo para o EAD, diferente do que se possa pensar. Estamos voltando novamente a ter uma massa da população mais velha, só com o ensino médio completo” destaca Rodrigo Capelato, diretor executivo do Semesp.
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Se tratando da concentração de matrículas divididas pelo porte das instituições, 87,3% delas são detidas pelas IES de porte gigante (mais de 20 mil alunos) contra 1, 1% das de porte pequeno (até 3 mil alunos). Já a concorrência entre essas últimas foi ampliado pelo surgimento de outras, atingindo um número de 38,9% de IES de pequeno porte no mercado. “Se eu falar para essas instituições que o caminho é o EAD, é o mesmo que falar para elas pularem num abismo” Uma vez que não é rentável para elas, por causa do valor dos cursos que são mais baixos. “Seria preciso cinco alunos do EAD para reter o rendimento de apenas um em modalidade presencial”, explica Capelato.
A taxa de evasão já era um grande problema antes da pandemia e agora muito mais. Estimativa aponta que presencial sofrerá com de 35,9% em perda de alunos e o EAD 40%, pelo impacto financeiro e até mesmo emocional causado pela pandemia. A evasão no primeiro ano de curso também varia pela forma de ingresso. Pelo Fies a taxa é de 6,4%; Prouni 8,8%; nas instituições públicas é de 14,3% e nas privadas 26,2%. O que evidencia mais uma vez a necessidade de políticas públicas de acesso.
Todo ciclo do ensino médio, se perde mais de um milhão de estudantes e não se trata de reprovação, mas de desistência mesmo. De mais de 3 milhões de ingressantes nessa etapa em 2017, apenas 1,8 mi concluíram o grau em 2019. A taxa de escolarização líquida nesta fase é de 64,1% e de evasão é mais da metade: 38,9%. O que se observa é um funil na corrida até a formação superior. De menos da metade que se forma no ensino médio, quando chega no ensino superior, só 50% alcança o título de graduação.
O quadro geral mostra que na maioria da população brasileira, 38,5% detém ensino médio completo. 26,6% possui ensino fundamental completo e 16% ensino superior. Os números caem drasticamente para menos de 1% para graus maiores de formação como mestrado e doutorado. Estes últimos dados se relacionam diretamente com o rendimento econômico do país, evidenciando também a falta de qualificação para áreas mais rentáveis do mercado.
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