NOTÍCIA
No Brasil, instituições de ensino superior buscam atender a uma demanda que reflete a concentração de riqueza no mundo e que, segundo consultoria, deve crescer 5% ao ano até 2025
Publicado em 29/04/2019
Atentas à dinâmica da economia global, instituições de ensino superior têm buscado formar profissionais e empresários para atuarem no mercado de luxo, pouco afetado pelas crises e com clientes que exigem a máxima qualidade e inovação de produtos e serviços.
Em 2018, o segmento cresceu 5% e movimentou 1,2 trilhão de euros no mundo todo, segundo a 17ª edição do Estudo de Luxo da consultoria Bain & Company, divulgado em novembro. Nas Américas, o crescimento seguiu o mesmo índice e a expectativa é de que o Brasil volte a ter bom desempenho com o possível aumento da confiança do mercado estrangeiro e o recuo do dólar.
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Como sua tendência de crescimento deve continuar na faixa de 3% a 5% ao ano até 2025, conforme aponta o levantamento, o mercado de luxo, que ganhou impulso com o reinado de Luís XIV na França, faz instituições de ensino se voltarem para o setor que exige formação de excelência. Com custo alto, ela é imprescindível em um mundo marcado pela concentração de riqueza.
De acordo com relatório do banco Credit Suisse divulgado no mês de outubro, há 154 mil milionários no Brasil, o que representa um recuo de 19% em relação ao total de 2017. Em todo o mundo, porém, existem 42,2 milhões de pessoas com mais de US$ 1 milhão cada uma, o que, em um ano, equivale ao aumento de 2,3 milhões de indivíduos globalmente.
Especialistas definem o luxo como o grau máximo de qualquer iniciativa, qualidade, experiência e inovação. “Para formar empresários aptos a encararem este desafio, as escolas terão que investir muito pesado para conduzir cursos sem falhas, com professores caros e profundo conhecimento no assunto. Também terão que estar preparadas para atender a um aluno extremamente exigente e escasso”, diz o empresário Roberto de Ávila Miranda, fundador e reitor da URM Faculdade Roberto Miranda.
Segundo ele, a instituição é a que mais forma empresários para o mercado do luxo nas Américas, oferecendo cursos de pós-graduação em São Paulo com extensões internacionais. A partir de 2019, a instituição também oferecerá uma graduação em Hotelaria. Na avaliação para o credenciamento, a faculdade recebeu a nota máxima (5) do MEC, enfatiza seu fundador.
“Clientes de alto poder aquisitivo exigem produtos e serviços high-end, ou seja, de alto valor agregado e exclusivos”, afirma Miranda. Em busca de parceria com instituições em todo o Brasil para ampliar a oferta de seus programas exclusivos, o reitor é criador do sistema de ensino denominado The Four I´s of Learning, que faz as disciplinas serem ministradas por meio de diferentes linguagens, conversando com cada aluno através do seu talento dominante e sistema de representação preferido.
“É uma nata, uma camada fina da sociedade, que tem condição de fazer os cursos voltados para o mercado de luxo”, destaca ele, referindo-se aos altos investimentos.
No Brasil, as faculdades começaram a investir nesse setor a partir dos anos 2000, apesar de ele ganhar fôlego mais recentemente, observando o fenômeno da concentração de renda no país. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) estimou, por exemplo, que em 2017 apenas 10% da população concentrava 43,3% da renda nacional.
Países ao redor do mundo seguem na mesma linha, considerando uma pesquisa da Boston Consulting Group (BCG), uma empresa global de consultoria de gestão. O relatório dela aponta que, em 2020, 52% de toda a riqueza mundial estará concentrada nas mãos dos milionários.
É nesse contexto que a formação em mercado de luxo encontra terreno fértil para se desenvolver. O objetivo é formar profissionais e empresários que sigam o elevadíssimo nível da qualidade de produtos e serviços em detrimento da quantidade. O foco está nas pouquíssimas pessoas que têm muito dinheiro e, portanto, com exigências em um nível muito alto para serem atendidas de forma mais ágil e eficaz.
Tudo isso, segundo especialistas, deve refletir nas aulas ministradas em sala de aula e em conteúdos elaborados também de forma exclusiva para os alunos. Nesse contexto, as tradicionais aulas meramente expositivas cedem espaço a viagens internacionais e a variados recursos tecnológicos que levem os estudantes a entenderem o que o mercado espera deles.
De olho no negócio, a ESPM passou a oferecer a disciplina marketing de luxo no curso de Mestrado Profissional de Comportamento do Consumidor. De acordo com a professora Suzane Strehlau, que atua na instituição de ensino desde 2006 ininterruptamente e ministra a disciplina, a busca por formação em mercado de luxo é crescente e, conforme diz, os bens e os serviços desse setor jamais podem ser massificados.
“O que pode acontecer de pior para uma marca dessa é deixar de ser luxo”, afirma. Para ela, a grande diferença de quem atua nessa área está na finalidade. “A questão não e vender mais, é vender melhor. Luxo é sinônimo de caro, porque a elaboração, a fórmula e a matéria-prima não são baratas”, afirma, ressaltando que o aluno deve focar a exclusividade como um componente essencial nessa relação de consumo.
Enquanto grande parte do mundo já se mobiliza em torno da Indústria 4.0, que engloba tecnologias de automação e troca de dados e usa conceitos como internet das coisas e computação em nuvem, a formação em mercado de luxo deve ir além, mostrando o que tem de novo e com alto valor agregado em relação aos demais bens e serviços produzidos e oferecidos aos clientes. É por isso que algumas instituições de ensino no país também passaram a incluir na grade curricular o conteúdo sobre indústria do luxo, como é o caso do Centro Universitário Senac, em São Paulo.
Em formato de eletiva do curso de bacharelado em Hotelaria, a disciplina indústria do luxo começará a ser ministrada, a partir do ano que vem, em inglês. O objetivo dela é examinar o conceito de luxo em hospitalidade, turismo e eventos.
Além disso, aborda a questão da fidelização do cliente por meio de estratégias de venda do produto e analisa a mudança de perfil do cliente e as novas demandas tecnológicas. “Incluímos a disciplina por entendermos que há uma demanda latente pelo setor”, observa a coordenadora do curso, Sandra Maia. Ela se refere à entrada de redes de hotéis estrangeiros no país, principalmente nas regiões Sudeste e Nordeste.
Clientes de luxo também exigem gastronomia à altura. Com o propósito de atender às necessidades de indústrias culinárias e de hospitalidade contemporâneas, a instituição de ensino francesa Le Cordon Bleu ingressou no promissor mercado de luxo no Brasil, instalando um campus em São Paulo e outro no Rio de Janeiro.
O site da instituição diz que a marca está presente em cerca de 20 países com 35 escolas internacionais frequentadas por 20 mil alunos anualmente. As aulas são ministradas por masterchefes. A maioria deles é formada por vencedores de competições e títulos de prestígio, como o Meilleur Ouvrier de France. Eles passam seus conhecimentos de culinária francesa clássica e técnicas culinárias internacionais modernas aos estudantes.
Na avaliação dos especialistas ouvidos pela revista Ensino Superior, o mercado de luxo também pode ser estudado em diversos outros cursos de graduação e de pós-graduação no país, já que, de acordo com eles, cada tipo de negócio tem o seu segmento específico e movimenta cifras milionárias em todo o mundo. E a chance de faltar mercado é bem remota.
Em janeiro deste ano, por exemplo, pouco antes do Fórum Econômico Mundial de Davos, a ONG britânica Oxfam constatou que a atual economia global forma um novo bilionário a cada dois dias.
Parece ostentação, mas é inovação no ensino
Visita à festa do Oscar com transporte em Limusines Hummer, aulas com professores mundialmente renomados no mercado de luxo e extensões internacionais estão contempladas nos programas de curso de instituições de ensino que formam profissionais para o setor que tem “alto valor agregado” e “exclusividade” como expressões de ordem.
Por mês, o montante investido em cursos voltados ao mercado do luxo é equivalente ou até maior que o de uma mensalidade em faculdades de medicina, consideradas as mais caras do país.
“Nossos cursos são para donos ou filhos de donos de empreendimentos de luxo”, diz o fundador da Faculdade Roberto Miranda, Roberto de Ávila Miranda. A graduação em Hotelaria de Luxo na instituição de ensino, por exemplo, custará em média R$ 250 mil. Durante três anos, de acordo com ele, os alunos cursarão oito módulos no Brasil e outros oito na Suíça.
A faculdade já incluiu entre as suas parcerias o Swiss Education Group, uma aliança de cinco escolas suíças de hospitalidade com sete campi naquele país. “É um grupo focado no viés do empreendedorismo”, diz o empresário. Em média, custa R$ 50 mil uma pós-graduação em mercado do luxo na unidade de ensino, que, de forma exclusiva, também já levou alunos para conhecerem a festa do Oscar.
A lista de professores da URM Faculdade Roberto Miranda inclui grandes nomes do mercado de nacional e internacional, como o vice-presidente da Hermès. Assim como as demais instituições de ensino, a URM não divulga valores pagos aos professores, mas garante que toda a experiência deles é compartilhada com os alunos de modo que o alto custo do investimento reflita na formação de máxima excelência.
A instituição já realizou cursos de hotelaria de luxo em Paris, de arquitetura de luxo em Milão e já levou seus alunos para experiências culturais e jantares com chef três estrelas Michelin, reconhecida mundialmente.
Já o Centro Universitário Senac, que passará a oferecer a disciplina Indústria do Luxo em inglês em 2019 como parte do curso de bacharelado em Hotelaria, investe em prática profissional em hotéis-escola e visitas técnicas, por exemplo.
“O aluno entra em contato com a indústria do luxo de diferentes formas”, afirma a coordenadora do curso, Sandra Maia. Segundo ela, o tema é também abordado de forma transversal em diferentes disciplinas, como marketing, gestão estratégica e supervisão e implantação. “Tudo é direcionado para que o aluno tenha uma visão abrangente do setor como um todo, das categorias supereconômicas às de superluxo”, acrescenta. O Senac não informou o valor do curso.
De acordo com Sandra, 98% dos alunos estão empregados ou se tornaram empreendedores em diversas áreas e em outros setores como eventos, tecnologia, educação, hospitais, finanças, design, alimentos e bebidas. “Dois em cada dez alunos escolhem atuação internacional, número que tende a crescer nos próximos anos e que mais uma vez coloca a hospitalidade no topo das profissões do futuro”, afirma ela.
“Nossos egressos, depois de dois ou três anos no mercado, assumem posição de supervisão, coordenação e, em cinco ou seis anos, estão aptos à gestão e ao planejamento para conceber, implantar ou gerir empreendimentos ou atividades voltadas a serviços”, pontua.
Com a disciplina marketing de luxo no Mestrado Profissional de Comportamento do Consumidor, a ESPM investe em módulos internacionais dentro do curso, cujo valor total é de R$ 69,9 mil. “Cada ano a gente tem um tópico diferente de trabalho”, acentua a professora Suzane Strehlau. Segundo ela, já foram realizadas extensões internacionais em vários países, como Inglaterra, França e Alemanha.
Este ano, os alunos serão levados para a Itália. A instituição de ensino também convida palestrantes renomados e destaca que o corpo docente passa por uma seleção rigorosa para manter a alta qualidade do curso. “O professor precisa ter conhecimento especializado no assunto”, assevera. “O luxo tem um apelo muito grande, todo um glamour e beleza estética que atraem as pessoas.”
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