NOTÍCIA
Para Márcia Abrahão, é preciso criar mecanismos de promoção e respeito à diversidade - dentro e fora das instituições de ensino
Publicado em 08/03/2018
Um levantamento realizado pelo portal UOL revelou que apenas um terço das universidades federais têm reitoras mulheres. Essa realidade não é muito diferente no exterior. Recentemente, a Universidade de València, na Espanha, anunciou que, pela primeira vez em 520 anos de história, a instituição será liderada por uma mulher.
A Universidade de Brasília (UnB), que tem 55 anos, quebrou uma tradição de mais de cinco décadas ao eleger Márcia Abrahão para o posto mais alto da instituição. Na entrevista que segue, Márcia dá a sua opinião sobre a ausência de mulheres nos cargos de liderança e fala da importância de criar mecanismos de promoção e respeito à diversidade.
Um levantamento do UOL de 2016 mostra que somente 1/3 das universidades federais no Brasil tem mulheres no cargo mais alto. Como vê esse dado numa perspectiva histórica?
É um dado que chama a atenção, uma vez que nós somos maioria no ensino superior e, em média, alcançamos mais anos de escolaridade. Para ter uma ideia, na UnB, dos 26 institutos e faculdades, apenas sete são chefiados por mulheres. Por que não chegamos aos cargos de liderança? Minha hipótese é que muitas mulheres se sentem desencorajadas a trilhar esse caminho, porque são erroneamente tachadas como sensíveis demais, despreparadas para lidar com desafios – quando isso não poderia estar mais distante da realidade. Nesse sentido, a figura de uma reitora também tem um papel inspirador, uma vez que jovens estudantes conseguem visualizar essa possibilidade para suas carreiras.
Sua campanha levantou pontos como diversidade, temática de gênero e inclusão. De que modo esses temas serão traduzidos no cotidiano da instituição?
Queremos que esses assuntos permeiem a construção de todas as políticas durante a nossa gestão. Para isso, criamos o Conselho de Direitos Humanos da UnB, que tem papel consultivo, propositivo e executivo. A proposta é que esse grupo seja um fórum de discussões sobre o assunto, que avalie e proponha ações de promoção aos direitos humanos no âmbito da UnB, que realize pesquisas, sugira parcerias e subsidie as decisões da administração superior nessa temática. A UnB tem uma comunidade muito diversa e precisa criar mecanismos de promoção e respeito a essa diversidade. Queremos que o assunto “direitos humanos” sensibilize a todos, não apenas aos que, tradicionalmente, lidam com o tema na Universidade.
Em termos conceituais, que desdobramentos a diversidade pode trazer para ambientes organizacionais, especialmente numa universidade?
Acredito que a promoção da diversidade só traz benefícios às organizações. Infelizmente, ainda vivemos em uma sociedade carregada de preconceitos e estereótipos, e isso também é refletido no ambiente universitário. A nossa vantagem, digamos assim, é que estamos em uma instituição educadora. É nosso papel refletir sobre mecanismos de promoção da diversidade, envolver nossos especialistas, apontar caminhos e estratégias eficientes e, efetivamente, educar para a cidadania.