NOTÍCIA
Instituições criam projetos na área de educação básica para contribuir com a qualidade da educação e incentivar os jovens a seguir carreira em determinadas áreas
Publicado em 17/01/2018
A meta 12 do Plano Nacional de Educação (PNE) estabelece como objetivo elevar, até 2024, a taxa bruta de matrículas na educação superior para 50% e a taxa líquida para 33% da população de 18 a 24 anos. Mas como chegar a esses números em um cenário tão adverso como o mostrado pelo Censo Escolar, que aponta que as matrículas estão diminuindo em quase todas as etapas do ensino, e que há 3 milhões de crianças e jovens entre 4 e 17 anos longe das escolas?
Preocupadas com essa situação, muitas instituições de ensino realizam projetos na área do ensino fundamental para contribuir com a qualidade da educação como um todo, influenciar a definição de políticas públicas, melhorar a formação dos futuros universitários ou mesmo incentivar os jovens a seguir carreira em determinadas áreas.
“Temos um déficit de aprendizado muito grande. Será impossível que as instituições de ensino superior atinjam as taxas de crescimento esperadas para os próximos anos se não houver uma melhoria no ensino básico”, avalia Mozart Neves Ramos, que foi reitor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), secretário de Educação de Pernambuco e membro do Conselho Nacional de Educação. Atualmente, é diretor de Articulação e Inovação do Instituto Ayrton Senna.
A entidade possui parcerias com instituições de ensino superior, como a Universidade São Francisco, que juntamente com a Secretaria de Educação de Itatiba (São Paulo), promove o Programa de Letramento em Programação. Segundo os organizadores, o objetivo é dar oportunidade para os estudantes desenvolverem competências de resolução de problemas, criatividade, colaboração e comunicação, e abrir espaço para que possam interagir com a tecnologia, criando suas próprias produções – que podem ser aplicativos e jogos, por exemplo.
“Um dos principais frutos da iniciativa são os cursos de extensão em Letramento em Programação para educadores que serão multiplicadores do projeto”, destaca Carlos Eduardo Pizzolatto, diretor do campus Itatiba e coordenador do núcleo de licenciaturas da USF. Em sua primeira edição, em 2016, o curso de extensão atendeu cerca de 70 profissionais de sete municípios diferentes. Desde o início deste ano, educadores das redes municipais de Itatiba, Morungaba e Vinhedo têm participado do curso como estratégia de formação para o programa.
“O maior retorno de um programa como esse é a confirmação de que o ensino, a pesquisa e a extensão são indissociáveis, e devem caminhar juntos, beneficiando diretamente tanto a comunidade universitária como a comunidade local. Claro que uma parceria de qualidade como essa também confere maior visibilidade à instituição, além de colaborar de maneira significativa para a melhoria de alguns indicadores, que são levados em conta no momento da avaliação externa dos cursos de graduação”, completa Pizzolatto.
Reconhecer e premiar iniciativas que impactam de forma positiva a educação no país é outra maneira encontrada para incentivar a melhoria do ensino básico. A Estácio, que conta com mais de 500 mil alunos espalhados pelo Brasil, apoia iniciativas como o Prêmio Territórios Educativos, atualmente em sua 2a edição. Criado para reconhecer e fortalecer experiências pedagógicas que explorem as oportunidades educativas do território onde a escola está inserida, o prêmio é voltado para professores da rede pública municipal de São Paulo.
“Como instituição de ensino superior, entendemos que nossa missão engloba a contribuição para uma educação de qualidade que começa na base. Por esse motivo, trabalhamos em conjunto com a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo e com o Instituto Tomie Ohtake para desenvolver um projeto que não apenas premie as melhores iniciativas, como também faça dessas ideias uma inspiração para outros professores e escolas de todo o Brasil”, destaca Cláudia Romano, diretora executiva de relações institucionais e sustentabilidade da Estácio.
A iniciativa foi idealizada de forma a permitir que os finalistas criem uma rede de relacionamentos com o objetivo de estimular o aprendizado coletivo. Entre os prêmios para os projetos vencedores estão bolsas de estudos integrais para graduação e pós-graduação.
As atividades voltadas para o ensino básico também têm como objetivo aproximar os estudantes de áreas específicas do conhecimento, e despertar nos alunos a paixão por setores como a engenharia. É o caso de ações desenvolvidas pela Faculdade de Engenharia de Sorocaba (Facens).
A instituição realiza atividades como o Science Days (evento promovido em parceria com a Brazil Florida Chamber of Commerce, com colaboração da Nasa, a agência espacial norte-americana), dedicado a alunos entre 10 e 18 anos de escolas públicas e privadas de Sorocaba e região.
Além disso, promove a Semana da Engenharia, Tecnologia e Inovação, evento que reúne alunos, professores e a comunidade para palestras e minicursos relacionados a temas como construção, automação e tecnologia. “O objetivo principal é fazer com que a engenharia e a tecnologia sejam conhecidas pelos jovens de forma interativa, divertida, inspiradora e por meio de experiências reais. Ao trazer estes jovens para dentro da Facens, conseguimos mostrar um pouco desse mundo de infinitas possibilidades que a engenharia nos proporciona, seja quando eles entram nos laboratórios ou quando eles falam com os nossos estudantes sobre as suas experiências na Faculdade”, explica Fabiano Prado Marques, vice-diretor da Facens, que gasta cerca de meio milhão de reais por ano em iniciativas do tipo.
“O fato de esses eventos serem uma inspiração para que os jovens escolham suas carreiras, dediquem-se aos estudos e alcancem seus objetivos é recompensador”, avalia Marques. “Isso tem um impacto visível no interesse dos nossos atuais e futuros alunos no estudo da engenharia e das tecnologias, contribuindo para o cumprimento da nossa missão.”
No caso do Instituto Singularidades, fundado em 2001 e que oferece cursos de graduação como Licenciatura em Letras, Licenciatura em Matemática e Pedagogia (além de cursos de extensão universitária e pós-graduação lato sensu), um dos objetivos principais de suas ações com o ensino básico é apresentar as possibilidades de carreira, como docente com visita às escolas e palestras para os estudantes do ensino médio.
A instituição também tem consciência de sua responsabilidade na melhoria da educação como um todo e, por isso, realiza projetos como o Prepare, no qual universitários atuam diretamente em escolas públicas, com turmas que precisam de reforço de português e matemática. Recentemente, também foi criado um cursinho popular comunitário.
“Ao visitarmos escolas, tentamos ressignificar a imagem da carreira docente para os adolescentes, mostrando que se trata de uma profissão que impacta e pode transformar a vida de outras pessoas diretamente”, explica Marcelo Ganzela, coordenador do curso de Letras do Singularidades. Segundo ele, ações como a parceria com o cursinho popular comunitário estimulam os adolescentes a ingressar no ensino superior e ainda permitem aos alunos da licenciatura manter contato com jovens estudantes e experimentar estratégias pedagógicas por meio de situações reais.
Para melhorar as políticas públicas da educação básica, o Insper, IES conhecida por sua atuação em áreas como administração, economia, direito e engenharia, aposta em ações como a Cátedra Instituto Unibanco e a Cátedra Instituto Ayrton Senna.
Liderada pelo professor titular Sergio Pinheiro Firpo, a primeira delas tem como objetivo promover pesquisas, estudos, artigos e eventos que tragam luz ao debate sobre a qualidade da educação no ensino médio, ensino técnico, Enem e também sobre o Jovem do Futuro, projeto voltado ao aprimoramento contínuo da gestão escolar orientada para resultados de aprendizagem dos estudantes de escolas públicas de ensino médio.
Já a Cátedra Instituto Ayrton Senna tem por objetivo principal fomentar o desenvolvimento de estudos e pesquisas que sirvam como base de dados empíricos para a criação de políticas públicas na área de educação. No comando da iniciativa está o professor titular Ricardo Paes de Barros, doutor em Economia pela Chicago University.
Barros coordena o Núcleo Ciência para Educação e, além da produção de estudos, inclui também em suas atividades aulas e projetos de pesquisa vinculados à análise do impacto de diversos programas educacionais atualmente em curso no país e no mundo.
“O Insper é uma escola voltada para colaborar com o país, formando gente e colaborando para o debate. Nós interagimos com empresas, com institutos, e as parcerias têm surgido naturalmente. Diversas pessoas e setores estão preocupados em enfrentar os problemas”, explica Marcos Lisboa, diretor-presidente do Insper.
O desafio do setor é grande. E exige cada vez mais iniciativas de formação de base, para que a educação no Brasil melhore sua qualidade e torne o ensino superior um direito mais acessível.