NOTÍCIA

Edição 237

O que as escolas podem fazer para ajudar no combate à obesidade

Alarmantes índices de obesidade infantil aumentam a responsabilidade das instituições de ensino em relação à alimentação dos estudantes e à conscientização das famílias

Publicado em 15/03/2017

por Daniele Pechi

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O que as escolas podem fazer para ajudar no combate à obesidade

Foto: Shutterstock

As crianças de 0 a 5 anos não constituem um desafio apenas no que diz respeito ao acesso a creches e pré-escolas no Brasil. A obesidade já é registrada em níveis altos nessa faixa etária, com cerca de 350 mil crianças acometidas pelo problema. Dados do Ministério da Saúde apontam um crescimento de 79,3% dos casos entre os anos de 2008 e 2013. Com a obesidade, meninos e meninas correm um alto risco de se tornarem adultos cardíacos, hipertensos, diabéticos, com problemas pulmonares, de articulação ou até mesmo vítimas precoces de alguns tipos de câncer.
A preocupação não é apenas nacional, mas mundial: a projeção da Organização Mundial da Saúde é que, em 2025, cerca de 2,3 bilhões de adultos estejam com sobrepeso; e mais de 700 milhões, obesos. O número de crianças com sobrepeso e obesidade no mundo poderá chegar a 75 milhões.

Por esse motivo, de alguns anos para cá, começaram a circular vários projetos de lei para que se proíba a venda de refrigerantes, salgadinhos e outros produtos alimentícios prejudiciais a uma alimentação saudável. “Essas leis surgem como uma medida de atenção para o problema, mais ou menos como quando o uso do cinto de segurança se tornou obrigatório. A legislação chamou atenção para essa necessidade, até que isso se tornou orgânico”, diz Cristina Barelli, coordenadora pedagógica do Instituto Singularidades. “A escola tem uma função social, deve garantir o desenvolvimento integral dos alunos, e a alimentação faz parte disso.”

quadroalimentação

O assunto, porém, não é tão novo como parece: ainda em 2007 o Ministério da Saúde lançou um documento que tratava da regulamentação do comércio de alimentos nas escolas. Mas o respaldo institucional não é suficiente sem que as escolas se tornem lugares que promovam também uma educação nutricional que ultrapasse suas fronteiras.
Para promover hábitos alimentares saudáveis, educadores das redes pública e privada têm feito esforços junto às comunidades em que atuam para formar pais e alunos mais conscientes da importância de comer bem. “O assunto deve ser discutido com as famílias. Há várias estratégias interessantes para envolvê-las, como promover um dia de alimentação saudável, no qual a criança tem de levar alguma comida à escola, convidá-la para plantar na horta da instituição e, depois da colheita, deixar que leve alguns itens para casa”, diz Cristina. “E quanto menor a criança, mais importante se torna esse processo.”

Para os alunos mais crescidos, é interessante trabalhar com a questão do cuidado com o próprio corpo, bem como a relação entre o que consome e o gasto energético posterior. “O jovem que topa uma alimentação saudável vai ser diferente dos outros, e aí é bacana que existam trabalhos na escola que o incentivem a ser um agente de transformação”, diz a coordenadora do Singularidades.

Além do arroz com feijão

Pensando nisso, no ano de 2016, Sueli Rodrigues Ponte, vicediretora da Emef Professora Sylvia Martin Pires, localizada no bairro do Ipiranga, em São Paulo, mobilizou a comunidade para mudar hábitos alimentares de todos. “Durante o processo, respaldada desde o início pela direção da escola, acompanhei as auxiliares técnicas se afirmarem como verdadeiras educadoras”, conta. Foi por meio do relato delas que Sueli soube, por exemplo, que os alunos não tinham o hábito de beber água e que ingeriam sucos industrializados e refrigerantes em excesso.

A partir daí, Sueli e as inspetoras passaram a pensar em soluções para o problema. Ficou combinado que ofereceriam água aromatizada com frutas durante os intervalos e que convidariam os alunos para experimentar. Também conversaram sobre o papel da água no organismo e os motivos pelos quais precisamos consumi-la com frequência. “Quando deixamos de servir a água, muitos estudantes sentiram falta e passaram a trazer de casa suas próprias garrafinhas, melhorando o nível de consumo diário”, diz a vice-diretora.

Além disso, os alunos foram convidados a formar uma comissão de nutrição, na qual foram discutidos os principais pontos a ser melhorados na escola. “A reunião foi feita com o próprio diretor, que ouviu atentamente cada uma das sugestões”, conta Sueli. Os problemas apontados incluíam a não utilização de luvas pelas merendeiras, o excesso de comida colocado no prato das crianças e a aglomeração no refeitório na hora do almoço, realizado no mesmo horário de entrada dos alunos do turno da tarde.

Com tanta informação reunida foi fácil montar um plano de ação que envolveu desde palestras sobre as refeições servidas na escola até alterações no espaço do refeitório, que foi ampliado e isolado da área de passagem das crianças do vespertino, além da implantação do sistema self-service, para combater o desperdício.

Água aromatizada com frutas: estratégia deu certo para substituir refrigerantes na Emef Sylvia Pires, no Ipiranga, em São Paulo | Foto: Gustavo Morita

Água aromatizada com frutas: estratégia deu certo para substituir refrigerantes na Emef Sylvia Pires, no Ipiranga, em São Paulo | Foto: Gustavo Morita

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No Colégio Marista Santa Maria, em Curitiba (PR), a alimentação é um tema transversal, presente nos currículos de todas as etapas de ensino. “Temos uma nutricionista que nos apoia e nos acompanha nos diversos momentos da escola”, diz Josiane Miara, coordenadora do período ampliado da instituição. “Nada escapa ao seu olhar: o cardápio das cantinas, a relação dos alunos com ele, e o suporte pedagógico aos professores na elaboração de atividades curriculares e extracurriculares.”

De acordo com Josiane, para envolver o aluno em projetos que tratam da relação entre saúde e boa alimentação, é necessária uma participação ativa dos docentes. “Eles precisam estar encantados pelas ações que serão realizadas, entender e vivenciar o que vão ensinar”, afirma. Para isso, nos encontros de formação são abordadas as dimensões pelas quais a educação nutricional passa, inclusive a dos sentidos.

No ano passado, para apresentar o projeto ao corpo docente, a equipe pedagógica foi para a cozinha e dedicou dois dias à preparação de pratos visualmente bonitos e ricos nutricionalmente. “A mesma mesa em que eles almoçaram foi a em que realizamos o planejamento das atividades”, conta. Nesse dia especial, os gestores também levaram os professores para plantar na horta da escola.

Dessa reunião saiu uma iniciativa que fez muito sucesso com as crianças: um álbum de figurinhas de frutas e hortaliças, preenchido à medida que os alunos as consumiam no almoço do período ampliado. Por exemplo, se o aluno consumisse alface, brócolis e tomate, ele ganharia uma figurinha dessas hortaliças para colar no seu álbum. Além disso, os estudantes levavam o álbum para casa. Assim, as famílias poderiam acompanhar a alimentação do filho na escola. A turma que completou o maior número de figurinhas ganhou uma aula prática na cozinha experimental do colégio, onde foi preparada uma receita escolhida pelos próprios alunos.

Família à mesa – Iniciativas que colheram bons frutos ao trazer os pais para a discussão
O colégio Stance Dual, no centro de São Paulo, faz um trabalho muito próximo aos pais das crianças. A escola tem a prática de incluí-los em comissões que discutem temas importantes para o desenvolvimento dos alunos. Uma delas é a da nutrição. “Conversamos com eles para saber como estão conduzindo a alimentação das crianças em casa, enfatizamos a importância da família na introdução de alimentos integrais no cardápio, das verduras e das frutas.” “Eles organizam reuniões mensais, nas quais também são realizados workshops de nutrição e bate-papos com médicos.”

Já os gestores do Colégio Marista (PR) prepararam para 2017 uma iniciativa para auxiliar as famílias das crianças a preparar lancheiras saudáveis. Na reunião, os pais serão convidados a montar sanduíches com os ingredientes sugeridos pela equipe pedagógica. A escola ainda oferece a oportunidade de almoçar com as crianças. São dois dias por semana para cada turma.

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Autor

Daniele Pechi


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