Experiências estrangeiras evidenciam avanço do programa brasileiro, mas também apresentam alternativas para melhorias no sistema por José Eduardo Coutelle A experiência internacional talvez possa indicar alguns caminhos a serem seguidos pelo financiamento estudantil brasileiro. Apesar de manterem particularidades bem diferentes, tratando-se da realidade da educação […]
Publicado em 24/02/2015
Experiências estrangeiras evidenciam avanço do programa brasileiro, mas também apresentam alternativas para melhorias no sistema
por José Eduardo Coutelle
A experiência internacional talvez possa indicar alguns caminhos a serem seguidos pelo financiamento estudantil brasileiro. Apesar de manterem particularidades bem diferentes, tratando-se da realidade da educação superior, Estados Unidos, Canadá e Austrália têm suas estratégias para manter o aluno dentro da sala de aula e oferecer alternativas para a quitação posterior das dívidas. O desafio por aqui será adequar uma política que atenda à necessidade de expansão do ensino superior brasileiro considerando as especificidades de nosso sistema educacional.
As universidades americanas, por exemplo, são reconhecidas pela qualidade, mas também por suas altas mensalidades, que podem superar a cifra de US$ 40 mil por ano. O financiamento local, além de cobrir estes valores, também atende às despesas de moradia do aluno (veja reportagem na página 30).
Já no Canadá, a cobertura pode ser estendida à aquisição de materiais didáticos, como livros e computadores, e para as demais despesas cotidianas, como consultas médicas e pensão alimentícia. O objetivo é auxiliar o estudante nos momentos de dificuldade financeira e evitar que ele abandone o curso.
No outro extremo do planeta, os australianos desenvolveram uma forma inovadora para a quitação das dívidas, por meio da declaração do imposto de renda. Ou seja, o estudante irá pagar pelos seus estudos conforme for atingindo sucesso na sua carreira profissional.
Saída à brasileira
No Brasil, um dos fatores que poderia contribuir para o aumento da linha crédito, segundo o vice-presidente de Graduação Presencial da Kroton, Américo Matiello Jr., seria a participação da iniciativa privada de forma mais efetiva. Para que isso ocorra, o dirigente afirma que é fundamental instituir mecanismos de garantia financeira. Ele sugere ainda a criação de um modelo centrado no uso do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) como forma de quitação direta das parcelas ou ainda como um seguro garantidor, que poderia ser em nome do próprio aluno ou de algum familiar.
“Hoje temos cerca de 7,5 milhões de alunos no ensino superior e teríamos de ter 12 milhões. A demanda reprimida está aí. Tenho certeza de que só vamos conseguir chegar lá com o financiamento”, ressalta Matiello.
Enquanto isso, a Ideal Invest, gestora da linha de crédito privado Pravaler, já financiou mais de 40 mil alunos em 260 instituições parceiras desde 2006. A iniciativa cresce 20% ao ano e comprova que há espaço para novas oportunidades de negócio no setor educacional. Para o diretor-executivo Carlos Furlan, essa é uma tendência irreversível e as instituições de ensino já perceberam que para captar novos estudantes precisam estar alinhadas às políticas de crédito. “Se contarem apenas com os alunos que não utilizam o financiamento, as faculdades não conseguirão crescer. As taxas de penetração são muito baixas”, afirma Furlan.
O cenário brasileiro em comparação a outros países |
Mesmo com o impulso das linhas de crédito nos últimos anos, o Brasil ainda é um dos países latino-americanos com pior índice de formação superior. Em 2010, a fatia da população com mais de 15 anos que ingressou numa graduação, só não foi menor, em percentual, que a dos nossos vizinhos do Uruguai e Paraguai. Caso o Brasil mantenha um crescimento semelhante e em ritmo constante, em 2060 o país terá 39,9% da população, com idade acima de 15 anos, com passagem pelo ensino superior. Esse número ainda é inferior ao encontrado nos EUA em 2010, quando atingiu a marca de 53,9%. |