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Gestão

Celular liberado

Sem conseguir conter o uso dos smartphones em sala de aula, muitas escolas estão preferindo tratá-los como aliados, e transformando os aparelhos em instrumentos pedagógicos

Publicado em 08/09/2014

por Juliana Crem

Gustavo Morita
Alunos do Colégio Bandeirantes, em São Paulo: os professores veem o uso dos smartphones em sala de aula com naturalidade

Em 2010, a pesquisadora em Tecnologias da Informação e Comunicação na Educação Glaucia da Silva Brito e o mestrando em Educação Marlon de Campos Mateus, ambos da Universidade Federal do Paraná (UFPR), realizaram uma pesquisa com professores de um colégio estadual de Curitiba (PR). A pergunta era: é possível usar os aparelhos celulares dos alunos com propósito pedagógico em sala de aula? A maioria não via nenhuma utilidade nos aparelhos, e ainda os considerava como um empecilho em suas aulas. Quatro anos depois é crescente o número de professores que veem os celulares com outros olhos. E muitos os estão usando como aliados.

No Colégio Vital Brazil, de São Paulo (SP), costuma-se dizer que a liberação do uso dos smartphones e outros aparelhos eletrônicos em aula foi uma “necessidade”. A coordenadora pedagógica do ensino médio, Maria Helena Esteves da Conceição, conta que, desde 2013, o uso dos aparelhos eletrônicos passou a ser feito em laboratórios e aulas específicas, como artes e matemática. “Alguns professores perceberam que para a produção de conhecimento por meio de diversas linguagens precisariam de smarts, tablets e afins. Assim, os alunos estudaram QR Codes na aula de artes”, exemplifica Maria Helena.

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Os pesquisadores da UFPR sugerem ainda outras possibilidades de uso pedagógico dos smart­phones: pesquisas em dicionários on-line ou aplicativos, a câmera como recurso nas aulas de artes, as redes sociais com geolocalização para as aulas de geografia. Tudo depende do propósito pedagógico e da disponibilidade do professor. Mas será que esses aparelhos precisam ser usados em sala de aula? Não haveria outros meios para chegar aos mesmos resultados de pesquisa?

A escolha de cada um
Para Paulo Fontes de Queiroz Junior, assessor de tecnologia educacional do Colégio Albert Sabin (SP), os celulares ajudam a buscar informações adicionais de forma mais rápida e ainda a simular situações. “Essas tarefas também seriam possíveis sem o uso da mobilidade, mas não teriam a mesma agilidade”, defende.

Mas, claro que o uso de aparelhos em sala não agrada a todos os professores. Pesquisa realizada pela Fundação Nacional de Ciência da Universidade do Estado de Michigan (EUA) confirmou o que muitos desconfiam: o uso de aparelhos eletrônicos em sala de aula é altamente prejudicial ao desempenho dos alunos quando utilizados sem o propósito pedagógico. Depois de avaliar 500 alunos, os pesquisadores concluíram que mesmo os melhores alunos saem prejudicados se o aparelho for usado em aula sem a finalidade acadêmica. Sem consenso entre os professores sobre os benefícios da tecnologia, no Colégio Mary Ward (SP) há espaço para ambos os comportamentos: usar e não usar.

Segundo o diretor pedagógico Cesar Marconi, alguns docentes usam o smartphone de forma restrita, para pesquisa de temas ou apresentação de trabalhos em sala de aula, enquanto outros não permitem nem que os alunos o deixem à vista, pois acham que ocorre uma dispersão dos estudantes durante as explicações. Mas ele tem sua opinião. “A verdade é que, em breve, esses recursos deverão ser incorporados ao dia a dia como ferramenta de estudo e pesquisa”, acredita.

Quem protagoniza?
No Colégio Vital Brazil, a diretora Maria Helena explica que não há uma “fiscalização” do uso de aparelho em sala. “Há tanta riqueza de conceitos a serem desenvolvidos, num ritmo intenso de aula, que o próprio aluno entende que se desfocar sua atenção, terá dificuldades posteriores,” avalia.

Para incorporar os smartphones nas classes é preciso preparo dos professores e planejamento para as aulas, acredita Vanderlei Cardoso, professor e assessor de matemática do Colégio Vital Brasil. Existem programas, pagos e gratuitos, que podem auxiliar o professor nessa tarefa. “Todas as dificuldades são sanadas com o planejamento”, acredita.

Para Silvia Vampré Ferreira Marchetto, coordenadora de Tecnologia Educacional do Colégio Bandeirantes (SP), os aparelhos prejudicam a concentração de quem não está interessado na aula tanto quanto “uma revista, um bloco de desenhos ou um papel para fazer aviãozinho”. Por isso, em sua opinião, não adianta eliminar a mídia. “Nossa escola nunca proibiu o uso do smartphone, mas os alunos sempre foram orientados a não usá-los inadequadamente em sala de aula. A tecnologia sempre esteve muito presente no Band e por isso os professores veem o uso dos smartphones em sala de aula com naturalidade”, avalia.

Mãe do aluno David, do 9º ano do Colégio Bandeirantes, Beatriz Silva aprova a utilização dos aparelhos eletrônicos em aula, “já que fazem parte do dia a dia dessa nova geração” e, segundo sua percepção, houve mudanças no processo de aprendizagem de seu filho. “Ele se tornou mais motivado para algumas atividades escolares específicas nas quais usa os aparelhos e apresentou mais autonomia para fazer pesquisa na internet e criatividade no uso de programas relacionados às artes gráficas”, relata. Mas Beatriz não esconde suas preocupações, que são as mesmas de muitos pais e pesquisadores, preocupados com o uso excessivo da tecnologia no cotidiano de jovens e crianças. “Minha preocupação é com o fato de os jovens permanecerem o tempo todo conectados aos smartphones. Considero que, dessa forma, há o risco de os recursos de informática se tornarem os ‘protagonistas’ do processo quando, na verdade, o foco deve ser sempre o recurso ‘humano'”, diz Beatriz. Em sua avaliação, o uso dos aparelhos deveria ser para construir com mais rapidez e senso crítico a sua própria opinião sobre tantas informações a que têm acesso com tanta facilidade. “Nisso, os pais têm papel fundamental para que os estudantes compreendam os limites na utilização das novas tecnologias, especialmente para evitar que as relações se tornem estritamente virtuais e superficiais”, admite.

Autor

Juliana Crem


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