NOTÍCIA
Na década de 50, a intelectualidade brasileira começou a pensar a relação entre os prédios escolares e o seu uso pelos alunos e a comunidade
Publicado em 02/08/2013
As escolas parque foram idealizadas por Anísio Teixeira para permitir atividades no turno complementar |
A necessidade de articular o espaço da cidade com o setor da educação encontra eco na voz de diversos intelectuais brasileiros. Influenciado por ideias pragmáticas do filósofo e pedagogo norte-americano John Dewey (1859-1952) – como as de que os alunos aprendiam melhor realizando tarefas associadas aos conteúdos ensinados -, o educador baiano Anísio Teixeira (1900-1971) foi um dos primeiros intelectuais que se preocuparam com os prédios escolares no Brasil. Em 1931, durante sua gestão como diretor da Instrução Pública do Distrito Federal, no Rio de Janeiro, ele criou dois modelos para as escolas: as “escolas-classe”, onde seria oferecido o ensino regular, e as “escolas-parque”, onde teriam lugar as atividades do turno complementar.
#R#
“Os arquitetos da então recém-criada Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP que começaram a trabalhar na Prefeitura de São Paulo por volta de 1950 foram diretamente influenciados por essa intelectualidade brasileira da década de 1930. Há quem diga que os projetos criados por esses profissionais ajudaram a disseminar a arquitetura moderna na cidade. Isso porque as escolas buscaram um novo conceito de espaço mais adequado para as áreas livres, áreas esportivas, a preocupação com a iluminação, saindo daquela visão do prédio tradicional”, explica a urbanista e professora Rosana Miranda (FAU-USP).
A arquiteta e educadora Mayumi Watanabe Souza Lima (1934-1994) se destacou no estudo da relação entre educação e espaço urbano no Brasil. Nascida em Tóquio, no Japão, Mayumi imigrou para a América do Sul no fim da década de 1930 e mais tarde se dedicou ao planejamento de espaços para a educação de crianças e jovens, cujo foco era o usuário e sua maneira de apropriar-se do espaço. Em 1990, quando trabalhou na Prefeitura de São Paulo durante a gestão de Luíza Erundina, ela criou o Centro de Desenvolvimento de Equipamentos Urbanos e Comunitários com o objetivo de pesquisar soluções projetuais e construtivas para melhorar a qualidade dos equipamentos públicos na cidade, entre eles a escola. Em seu livro Espaços educativos: uso e construção, escreveu que a produção do arquiteto nunca é neutra e depende do meio em que ele vai atuar. “O espaço é elemento cheio de significado, que reflete sempre a história e a cultura de um povo; que revela, no seu uso e na sua disposição, a relação efetiva que está estabelecida entre pessoas que nele convivem. Enfim, o espaço é um espelho no qual se faz a leitura de uma sociedade, seus valores, seu sistema social e político, seu desenvolvimento tecnológico”, relatou Mayumi.