NOTÍCIA

Edição 177

Por uma comunicação não violenta

Técnicas para estimular o reconhecimento e transformar padrões indesejáveis de interação a fim de aprimorar os relacionamentos no ambiente acadêmico

Publicado em 21/06/2013

por Ensino Superior

Comunicação não violenta "Adificuldade que o aluno sente de comunicar suas dúvidas ao professor o impedirá de expressar sua necessidade de esclarecimentos"

Por Maria de Lurdes Zamora Damião e Isabel Macarenco*: Pode o ambiente acadêmico, espaço dedicado ao universo da educação formal, que oferece subsídios para a formação e desenvolvimento de competências do aluno, com a visão de prepará-lo para atuar de forma ética e responsável na profissão escolhida, ser também um cenário violento? Quem é violento com quem na comunicação em sala de aula ou entre alunos, professores, pares ou na prestação de serviços por funcionários de apoio?

A tendência do ser humano é conceber violência como agressão verbal ou física, mas são comuns violências mais sutis, cometidas de forma passiva e inconsciente, porém com alto impacto no campo emocional e na atuação profissional futura das pessoas. Observar e julgar o comportamento do outro é muitas vezes uma prática, porém observar as próprias crenças e valores, ou mesmo entender que o julgamento tem como base as próprias necessidades do julgador, não faz parte do trivial. Cada um pode ser menos perigoso, menos julgador e, consequentemente, menos violento ao assumir a responsabilidade por seus comportamentos e com isso criar conexão mais profunda com os demais.

Alguns exemplos começam numa simples movimentação em sala de aula, onde um professor, diante da dúvida do aluno, diz “como você nunca presta atenção, é fácil saber por que não entendeu isto!”. A abordagem envolve uma violência contra o outro e cria espaço para o não entendimento. Um aluno que mantém conversas paralelas durante a aula também desrespeita o professor e seus colegas. O aluno que ofende o funcionário da secretaria por sua declaração não ter sido assinada pelo coordenador também
comete uma violência.

 

Leia: Violência se desaprende na escola e na universidade

 

Questões de violência consideradas corriqueiras e de pouco impacto fazem parte do histórico de cada um e de suas interações com outros desde a infância. O resultado desse aprendizado está em uma memória que, a longo prazo, guarda conhecimentos e valores que podem ser declarativos (de existência consciente) ou não declarativos, que são completamente inconscientes mas que interferem nas tomadas de decisões do indivíduo e nos seus relacionamentos.

A dificuldade que o aluno sente de comunicar suas dúvidas ao professor o impedirá de expressar sua necessidade de esclarecimentos. No futuro, em outro cenário, como líder ele poderá sentir dificuldade para ouvir um liderado e entender suas necessidades, por exemplo. Em um processo repetitivo e cíclico, a comunicação torna-se violenta, na medida em que as necessidades não são expressas e prevalece o constrangimento ou a agressividade. Com o receio instalado, líderes e liderados “trocam farpas” com “indiretas”, deixando no ar o que pensam e cometem uma primeira violência contra si e os outros, que não adivinham seus desejos.

 

SSIR Brasil: Escuta Ativa 

 

A falta do exercício da comunicação transparente faz com que as necessidades permaneçam não satisfeitas e pode aumentar o grau de violência e ataques sutis. Afinal, o que o aluno aprende no ambiente acadêmico nas diversas interações servirá como bússola para sua atuação profissional e pessoal, e transformar o padrão da comunicação instituído pode favorecer a criação de relacionamentos mais harmoniosos e gratificantes, baseados na autorresponsabilidade e no estímulo à comunicação não violenta, para trazer à tona o que existe de mais positivo e melhor dentro de cada um, valorizando respeito, compreensão, gratidão, compaixão e preocupação com o outro.

Marshall B. Rosenberg desenvolveu o conceito da comunicação não violenta (CNV) para estimular o reconhecimento e a transformação de padrões indesejáveis. Ele apresenta a técnica da CNV como forma de aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais, assim como resolver conflitos de forma simples e eficaz. Seu método apresenta quatro passos, que fazem a diferença e permitem que cada um entenda suas necessidades e aprenda a expressá-las de forma assertiva:

1) Observe os próprios pensamentos, emoções e atitudes. Considere o que está acontecendo, sem julgamento. Fale por si.

2) Identifique e expresse suas emoções e sentimentos.

3) Reconheça a raiz de seus sentimentos e necessidades. Entender as próprias necessidades e as do outro favorece a comunicação como um processo de mão dupla.

4) Formule pedidos em linguagem clara, positiva e com as ações concretas sobre o que espera do outro.

 

Revista Educação | Violência: escola e casa não podem mais ser corpos à parte da sociedade

 

A comunicação não violenta acontece quando a pessoa se expressa sem parecer enfraquecida ou vulnerável, porque fala por si, e serve de guia para o indivíduo reformular sua maneira de expressar-se e de saber ouvir. Alcançar um maior grau de profundidade na escuta ativa estimula o respeito e a empatia, o que propicia relações baseadas na confiança mútua. Como ferramenta para resolução de conflitos a CNV desarma argumentos perigosos e cria conexões saudáveis, começando por relacionamentos no ambiente acadêmico e de formação educacional para adultos.

 

Autoras

Maria de Lurdes Zamora Damião e Isabel Macarenco

Foto: Gustavo Morita

*Maria de Lurdes Zamora Damião e Isabel Macarenco são sócio-proprietárias da MZ Liderança, Núcleo de Treinamento e Desenvolvimento e autoras do livro Competência: a essência da liderança pessoal (Editora Saraiva)

 

 

Autor

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