NOTÍCIA
Pela implantação de um processo de avaliação organizado e que busque de fato consertar eventuais erros e maximizar os acertos Quando saímos de casa, dificilmente resistimos a uma olhadinha no espelho para verificar se a vestimenta está adequada. Quando constatamos que alguma coisa no visual […]
Publicado em 29/05/2013
Pela implantação de um processo de avaliação organizado e que busque de fato consertar eventuais erros e maximizar os acertos
Quando saímos de casa, dificilmente resistimos a uma olhadinha no espelho para verificar se a vestimenta está adequada. Quando constatamos que alguma coisa no visual não vai bem, refletimos rapidamente sobre o que pode estar provocando tal desarmonia. Se for a cor da blusa, por exemplo, corremos e trocamos por uma de cor mais adequada à combinação geral. Mais uma rápida olhadinha e constatamos que dessa vez ficou bom e somente assim, tranquilos, seguimos para mais um dia de trabalho.
Não parece, mas essa cena rotineira revela, em nosso dia a dia, a essência do ato natural de avaliar. Esse ato que nos é intrínseco (uma criança de dois anos já avalia com que brinquedo quer brincar) é composto de três etapas: constatar, refletir e agir. Ao olhar no espelho, constatamos que o visual não está harmônico. A partir daí, refletimos sobre o que pode estar causando a desarmonia e aí partimos para a ação e trocamos a blusa.
A questão é que o ato de avaliar muitas vezes não é tão simples assim. Quando a análise vai nos mostrar algo que, no fundo, não queremos ver, preferimos ignorar a constatação e seguir em frente, acreditando no que melhor nos convém. É, muitas vezes, o caso de não subirmos numa balança (ou até fugirmos dela) para não constatarmos o nosso peso, o que nos levaria a uma reflexão difícil e uma a ação mais dolorosa ainda. A questão é que não queremos parar de comer doces, frituras e massas. Mais do que isso, não acreditamos que somos capazes de resistir a essas tentações logo, para que tentar?
Você pode estar se perguntando o que estamos fazendo na seara da filosofia da avaliação. A resposta é simples: estamos tentando tirar o véu do autoengano, na esperança de que superemos a ideia de não sermos capazes de mudar. A título de exemplo, pensemos nos reais motivos que nos afastam da prática de uma gestão por resultados. É comum verificar nas instituições de ensino superior Brasil afora a falta de uma rotina de trabalho com indicadores precisos que mostrem os resultados das ações e das decisões tomadas, sob a alegação de gestores que dizem “não ter tempo para isso”; “que o corre-corre não permite” ou “que o resultado já está posto, observado a partir da experiência”. Ao não encarar o processo completo de avaliação estamos “fugindo da balança”. Será que os indicadores são desnecessários ou na realidade eles podem nos mostrar algo que não queremos ver?
Na outra ponta, na avaliação da aprendizagem em sala de aula, podemos questionar os professores: será que a verdadeira avaliação (composta das três etapas) é tão pouco praticada nas salas de aula pelo medo que o ato de refletir e agir nos provoca? Será que apenas constatar não é mais prático? Dessa forma, as etapas de refletir e agir ficam somente por conta do aluno.
O ato de liderar pressupõe coragem para ousar, para desafiar os processos a caminho de uma excelência ideal. Caso contrário, estaremos apenas gerenciando, o que por si só não é nenhum descrédito, apenas não nos conduz ao desenvolvimento institucional. O líder tem como principal característica desafiar as pessoas e os processos, descortinando novas possibilidades, principalmente a partir de indicadores concretos que revelem os resultados de suas ações e isso exige muita coragem para olhar o espelho, constatar o que se está vendo, refletir e, finalmente, agir no sentido de garantir que os resultados ocorram como o esperado.
O medo do espelho ou da balança está diretamente relacionado ao medo de encarar a frustração, de descobrir que não somos tão bons quanto pensávamos. O verdadeiro líder jamais se sente acima do bem e do mal, pois na essência de sua ação residem a crença na possibilidade e a possibilidade da dúvida. Não são poucas as instituições de ensino superior que padecem de males que poderiam ter sido evitados ou corrigidos a tempo, caso seus líderes tivessem tido a coragem de encarar os indicadores, a reflexão sobre o que estaria de fato colaborando para a situação e a ação da mudança necessária.
Outra situação muito comum entre as instituições é encarar a etapa da constatação e da reflexão sobre o que foi constatado. A paralisia chega diante da necessidade de agir. Nesses casos o sofrimento é maior, análogo àquele de uma pessoa muito doente, mas que se recusa a tomar o remédio por ser muito amargo ou por ter muitos efeitos colaterais.
O ato de gerir uma instituição de ensino exige, cada vez mais, coragem para encarar autoenganos. Os métodos empíricos precisam ser repensados à luz do compromisso que temos com os resultados que precisamos apresentar. Subir na balança pode ser um ato ameaçador, mas não subir pode nos ocultar algo que está nos levando à morte.