Revista Ensino Superior | Leitura: antes, mais e melhor - Revista Ensino Superior
Personalizar preferências de consentimento

Utilizamos cookies para ajudar você a navegar com eficiência e executar certas funções. Você encontrará informações detalhadas sobre todos os cookies sob cada categoria de consentimento abaixo.

Os cookies que são classificados com a marcação “Necessário” são armazenados em seu navegador, pois são essenciais para possibilitar o uso de funcionalidades básicas do site.... 

Sempre ativo

Os cookies necessários são cruciais para as funções básicas do site e o site não funcionará como pretendido sem eles. Esses cookies não armazenam nenhum dado pessoalmente identificável.

Bem, cookies para exibir.

Cookies funcionais ajudam a executar certas funcionalidades, como compartilhar o conteúdo do site em plataformas de mídia social, coletar feedbacks e outros recursos de terceiros.

Bem, cookies para exibir.

Cookies analíticos são usados para entender como os visitantes interagem com o site. Esses cookies ajudam a fornecer informações sobre métricas o número de visitantes, taxa de rejeição, fonte de tráfego, etc.

Bem, cookies para exibir.

Os cookies de desempenho são usados para entender e analisar os principais índices de desempenho do site, o que ajuda a oferecer uma melhor experiência do usuário para os visitantes.

Bem, cookies para exibir.

Os cookies de anúncios são usados para entregar aos visitantes anúncios personalizados com base nas páginas que visitaram antes e analisar a eficácia da campanha publicitária.

Bem, cookies para exibir.

NOTÍCIA

Exclusivo Assinantes

Leitura: antes, mais e melhor

Como suscitar a liberdade da leitura se a liberdade pode escolher a não leitura?

Publicado em 03/05/2013

por Gabriel Perissé





Ler é atividade no sentido mais forte da palavra “atividade”. Porque nos ativa. Põe em ação nossas capacidades interiores, para cultivar uma visão de mundo, desencadear decisões existenciais e influenciar nosso comportamento.


Há centenas de livros elogiando a leitura. Quem os escreve tem motivos para defender a leitura, entre os quais (este motivo encontra-se mais ou menos velado) o próprio fato de escrever e necessitar de leitores!


Os leitores que não precisam ser motivados, pois já descobriram essa fonte de alegria, sentem-se, em geral, instigados a louvar e difundir a prática da leitura. Toda minoria acaba se entregando ao trabalho apologético de convencer os outros, pela palavra e pelo exemplo.
#R#
Mas por que… minoria? Teoricamente, a família e a escola são os lugares ideais para multiplicar e aperfeiçoar leitores. Deveríamos receber estímulo e orientação constantes, para ler antes, mais e melhor.


Contudo, a realidade não está com nada. Não confirma a teoria. Ou por outra: famílias e escolas, e mais particularmente as escolas, parecem não corresponder aos sonhos dos intelectuais, às teses dos acadêmicos, aos argumentos dos formadores de opinião e às propagandas dos órgãos governamentais.


Os professores leem?
A pergunta incomoda, claro. E a resposta decepciona. Sabemos, por algumas pesquisas e pela convivência, que a leitura não é um ponto forte na vida docente brasileira. Nossos professores, quando leem, se concentram no absolutamente indispensável à profissão ou se dedicam a temas paralelos: autoajuda, religião, relatos sentimentais, esoterismo, amenidades…


O efeito já está visível na causa. Nossos alunos pouco se interessam pela leitura substancial, pois não veem em seus professores a paixão contagiante pelos livros mais relevantes, mais instigantes, e não recebem de seus mestres os critérios que deles esperávamos ouvir.


A exemplo de seus professores, e à margem da escola, os alunos descobrem autores e títulos que lhes despertam, sem nenhum acompanhamento didático, curiosidade e interesse. São livros de aventuras, narrativas fantásticas, histórias de suspense e romances cuja linguagem e temática se afastam do que se propõe tradicionalmente nas cobranças oficiais: Machado de Assis, Graciliano Ramos, José Saramago, José de Alencar, Eça de Queirós!


Essa de querer impor leituras é ação de curto fôlego. Entre um Queirós e uma Suzanne Collins há um abismo. Agora, se os professores soubessem construir algum tipo de relação entre dois mundos tão diferentes, isso sim seria um milagre nada suave! Seria a chance de descobrir nos seus alunos autênticos (e vorazes) leitores.


Sugerir ao invés de coagir
Na palavra “sugerir” esconde-se o verbo latino gerere, que é repleto de atividade. Significa “carregar”, “transportar”, “executar”, “movimentar”, e encontra-se presente no interior de outras palavras como “gestão”, “gesto” e “gestar”.


A leitura é um movimento, dos olhos, da mente, da nossa capacidade de gestar conceitos, gerar imagens. Mas é um movimento livre. Por isso, impossível obrigar alguém a ler. Querer obrigar alguém a fazer algo (por mais virtuoso e belo que este algo seja) é degenerar a educação, convertendo-a em coação, ação que vai coando as pessoas, como na metalurgia: fazendo correr o metal fundido para dentro de um molde. Toda coação tem por fim a modelação.


Mas como educar para a leitura de modo sugestivo? A pergunta é antiquíssima. Como suscitar a liberdade da leitura (leio um livro para ver se me livro… parodiando Adélia Prado) se a liberdade pode escolher a não leitura? Como orientar a liberdade para que sejam feitas as melhores escolhas? E quais são estas escolhas melhores?


A hora da estreia
Sempre é hora de estrear coisas boas. Uma coisa boa é diffusiva sui, ou seja, tem força própria, vence as resistências sem violências. Se a leitura deixa de ser “lei dura” e se transforma em encontro promissor com a palavra escrita, maiores chances todos nós teremos de realizar boas escolhas. Se o tema das conversas é um livro, se a livraria é lugar para passear, se autores são convidados a visitarem a escola, se a biblioteca está de portas e braços abertos para seus frequentadores, a atmosfera será sugestiva por si mesma.


O pré-requisito a ser respeitado me parece evidente. Alguém precisa estrear. Alguém tem de começar, antes, mais e melhor, a fazer da coisa boa uma coisa real. A leitura deixará de ser simples moldura; será agora atividade pela qual configuro minha vida, e minha vida de leitor falará por si mesma, levando outros alguéns a tomarem iniciativa.


Cada professor que lê antes, mais e melhor, mais e melhor influencia seus alunos. Nem todos. Jamais ao mesmo tempo. Mas vai somando leitores multiplicadores, e estes vão tecendo manhãs, tornando a vida menos seca, menos casmurra, ensaiando visões.
As mais convincentes formas de incentivar a leitura nascem de uma convicção anterior e interior. A convicção pessoal, sua, minha, de que ler é ganhar tempo.

*Gabriel Perissé é doutor em Filosofia da Educação (USP) e pesquisador do Núcleo Pensamento e Criatividade (NPC) – www.perisse.com.br

Autor

Gabriel Perissé


Leia Exclusivo Assinantes

DSC_0018

Escolas oferecem disciplinas para facilitar ingresso em universidades...

+ Mais Informações
Maria Montessori

Pedagoga e psicanalista apostaram em experiências educativas libertárias...

+ Mais Informações
Gerundio 1 iStock_000005825672

O “gerundismo” é fruto de influência do inglês?

+ Mais Informações

Mapa do Site

Conteúdo acessível em Libras usando o VLibras Widget com opções dos Avatares Ícaro, Hosana ou Guga. Conteúdo acessível em Libras usando o VLibras Widget com opções dos Avatares Ícaro, Hosana ou Guga.