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Com a supressão das distâncias e a gratuidade na distribuição do conhecimento, a tecnologia desafia instituições de ensino a se reinventarem sob pena de ficarem à mercê do mercado por Edson Fregni A educação se apresenta como a nova fronteira onde as mudanças profundas provocadas […]

Publicado em 22/04/2013

por Redação Ensino Superior

Com a supressão das distâncias e a gratuidade na distribuição do conhecimento, a tecnologia desafia instituições de ensino a se reinventarem sob pena de ficarem à mercê do mercado

por Edson Fregni

A educação se apresenta como a nova fronteira onde as mudanças profundas provocadas pela tecnologia estão em curso. Nela, o processo de mudança radical parece estar ganhando força neste início de década. Alguns movimentos já podem ser notados. A profusão de cursos on-line gratuitos, principalmente nos Estados Unidos, é um sinal importante de que a lógica da web, de “faça grátis no início e mais tarde monetize a operação”, está tomando o setor. A partir destas demonstrações gratuitas, as escolas conquistam, ganham novos adeptos, fidelizam os futuros clientes.

As grandes e tradicionais universidades americanas, desde o início dos anos 2000, embarcaram nessa proposta. Agora, a prática se difunde em muitas escolas e organizações não governamentais, como a Khan Academy, o Coursera (criado na Universidade Stanford, o berço da Google), o EDX (de Harvard mais MIT), entre outros, com o propósito de distribuir cursos das universidades em geral, muitos deles gratuitos. Com o recurso da gratuidade, essas universidades aprendem a produzir conteúdo, moldam o processo educacional e desenvolvem técnicas para distribuição em massa de seus produtos. Mais tarde, elas descobrirão formas de ganhar dinheiro com o processo. Não foi este o caminho percorrido por Google, Facebook e Twitter, entre outros canais de sucesso que hoje são ícones da web?

A popularidade dos cursos da Coursera, apenas uma de tantas, está crescendo de maneira vertiginosa. O modelo adotado por eles é oferecer uma escola on-line para escolas tradicionais hospedarem seus cursos; uma espécie de terceirização da oferta de cursos. Segundo dados da própria empresa (coursera.org), em meados de março de 2013 (cerca de um ano após sua criação), eles já contam com três milhões de estudantes, em 328 cursos de 62 universidades espalhadas pelo mundo, em muitos idiomas. O Coursera é apenas uma de várias organizações similares.

No Brasil, temos desafios particulares para diferentes organizações de educação. Existem os grandes grupos, as editoras de “sistemas de ensino” e as escolas independentes, sendo que cada uma dessas categorias enfrenta questões distintas. Podemos, no entanto, nos arriscar na afirmação de que todas elas já estão sendo profundamente impactadas pelos processos digitais e pela internet.

Tome-se o caso da adoção de recursos tecnológicos, por parte de uma escola, na forma de cursos on-line, ou como complemento de cursos presenciais. Com eles, a instituição muda radicalmente, não apenas em função da oferta dos cursos, mas também pela transformação de seu processo educacional – antes apoiado apenas em professores e aulas –, que a partir de então passará a contar com métodos on-line para a realização de trabalho dos estudantes em ambientes extraclasse. Esse movimento poderá ser desagregador, poderá desorganizar as empresas, já que todos os recursos educacionais serão postos à prova: o modelo de aula, o currículo dos cursos, as salas de aula, a biblioteca, o material de ensino, os processos nas secretarias das escolas. Tudo passará por mudanças.

Essa mudança será mais complicada para quem já tem uma instituição grande, complexa e estabelecida no mercado. Mudar o curso de uma grande organização de ensino, com centenas de milhares de estudantes, milhares de professores, é tarefa gigante que requer estratégia e planejamento. O que uma escola ou um grupo educacional pode fazer é dar início à mudança, promovendo a contaminação controlada do processo atual pelas novas técnicas.

Professores podem atender a cursos de atualização em educação on-line estruturados pela própria escola. Depois, pode-se requerer que todos os cursos tenham uma certa porcentagem de atividades on-line para, em seguida, incluir no currículo disciplinas puramente on-line, entre outras possibilidades. Assim, a escola irá se transformando.

A escola pode ainda começar a mudança a partir da oferta de cursos gratuitos on-line e aprender com a experiência. Com essa prática, a instituição de ensino deve estar disposta a ceder parte de sua riqueza, que é o conteúdo educacional. Assim, os professores podem começar como um treinamento e ir se habituando à novidade. Neste caso, deve-se evitar manter o serviço on-line gratuito como um apêndice isolado da escola tradicional, pois, deste modo, a mudança da escola não terá ocorrido. A gratuidade deve ser utilizada como tática de transformação.

Dez anos à nossa frente, já com a presente transformação concluída, que história poderá ser contada sobre esse mercado? Que nossa educação estabelecida no Brasil se adaptou, transformou-se, e tornou-se ainda mais sólida, ou que as grandes empresas internacionais as alijaram a um papel secundário? Afinal, no mundo on-line a proximidade física não conta e grandes instituições estrangeiras estão a um clique daqui.

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Redação Ensino Superior


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