NOTÍCIA

Gestão

Questões contemporâneas

Individualização ou coletivização dos processos de trabalho e articulação interdisciplinar estão entre os temas mais atuais para os coordenadores

Publicado em 10/09/2011

por Carmen Guerreiro

Muitas redes e escolas têm adotado a bonificação por desempenho, oferecendo recompensa financeira para professores de acordo com o seu desempenho ou de seus alunos, dependendo do caso. Os defensores desse sistema creem que os professores devem ser valorizados por meio de incentivos que recompensem performances positivas frente ao desafio do aprendizado de seus alunos. Contra a bonificação estão aqueles que acreditam que o professor não precisa ser recompensado por algo que já faz parte de seu trabalho. Outro contra-argumento é que a responsabilidade pelo aprendizado do aluno não é apenas de um professor, e sim de toda a equipe pedagógica – e aí entra o coordenador. Sendo assim, oferecer bônus para um professor seria o equivalente a colocar sobre ele a tarefa de, sozinho, fazer o aluno aprender. Por isso, muitas redes dão bônus para todos os professores de uma escola, mas muitas vezes não levam em consideração a realidade socioeconômica local.

“Não acho que o professor tem de ser bom por obrigação. Com uma boa equipe, pode trabalhar para ter maior sucesso, para a escola se sair bem, mas acho que essa forma de trabalho com bônus faz parte de uma tendência de ‘desresponsabilizar’ a escola e o governo daquilo que é uma necessidade atual – ter professores mais bem qualificados”, defende Fernanda Liberali, pesquisadora da PUC-SP e membro do grupo de estudos sobre Linguagem em Atividades do Contexto Escolar (Lace), que discute, entre outros temas, o ofício da coordenação pedagógica.

Fernanda diz que existe uma cultura de se apontar culpados pelo mau desempenho dos alunos, mas falta a todos assumir a dimensão da responsabilidade coletiva. “Ninguém tem de ganhar prêmio por ser um bom professor ou um bom aluno – a bonificação vem da vida.”

Para Renata Cunha, da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep), um dos problemas da bonificação por desempenho é não levar em conta outros fatores que também têm influência sobre o aprendizado, já que os critérios de bom desempenho estão relacionados apenas aos índices de aprovação dos alunos e de avaliação externa. “Responsabilizar exclusivamente o professor pela aprovação e aprendizagem dos alunos é desconsiderar as políticas de financiamento e gestão da educação, as condições de trabalho dos professores e socioculturais dos alunos”, observa. De seu ponto de vista, a política de bonificação ignora as condições concretas da vida da escola e dos alunos e, ao responsabilizar exclusivamente o professor pelos resultados, exime-se da responsabilidade de rever a gestão dos sistemas de ensino e das políticas sociais.

A dissolução das disciplinas
A crítica de muitos educadores ao sistema de bonificação está focada no fato de que o professor faz parte de uma equipe pedagógica que trabalha em conjunto para atingir esse objetivo. Nesse contexto, o coordenador deve assumir as rédeas de outra grande questão essencial na educação de hoje: a interdisciplinaridade. Para atender os reclamos do mundo contemporâneo, o aluno precisa aprender a conectar conhecimentos de diferentes campos para saber aplicá-los em sua vida.

Como a escola formal ainda é dividida em disciplinas, cabe ao coordenador articular os professores de diferentes matérias para trabalhar em conjunto. “Isso significa construir espaços de encontro em que os diferentes pontos de vista possam ser discutidos e negociados a favor de uma escola democrática. A interdisciplinaridade, compreendida como articulação entre disciplinas, só pode ser construída a partir desse diálogo entre professores que se propõem a superar a fragmentação do conhecimento e a rever as fronteiras entre as disciplinas”, afirma Renata. O principal passo para isso seria criar situações de trabalho coletivo, com tempo e espaço para pensar, conversar, planejar, produzir material e avaliar.

Nesse processo, um caminho com cada vez mais adesões é o dos projetos temáticos, bons objetos para que se transcendam os limites da disciplina e se pesquise e reflita sobre questões de alcance comunitário ou social. “Ao problematizar questões gerais do mundo os professores buscam nas disciplinas respostas à indagação inicial que o projeto colocou”, diz Sonia Penin, da Feusp.

Conteúdo não engessado
Outro desafio do coordenador pedagógico é trabalhar o currículo com os professores de forma que uma aula não seja igual em duas turmas. Para isso, o coordenador precisa levar em conta o projeto pedagógico da escola, o contexto da comunidade e a experiência e personalidade docentes. Ainda que exista um conteúdo programado para ser trabalhado na aula, a equipe pedagógica precisa focar o processo de aprendizado dos alunos, e não a quantidade de páginas de uma apostila.

“Muitos coordenadores cobram dos professores a aplicação das apostilas e a homogeneização do ensino e da avaliação porque terão de prestar contas aos seus superiores”, afirma Renata. Para ajudar o professor a personalizar determinadas atividades e intervenções o coordenador precisa ajudá-lo no diagnóstico das dificuldades e potencialidades dos alunos, e organizar uma rotina para que esse professor possa, em determinados momentos, ficar com menos alunos na sala de aula, providenciar materiais de apoio e outras estratégias alternativas para atingir fins específicos.

De acordo com Fernanda Liberali, é importante que o coordenador acompanhe o trabalho do professor para não deixar que o material didático dite sozinho como será a aula. Mesmo com sistemas de ensino que utilizam apostilas, é possível fazer um trabalho de reflexão em cima do material. “Um sistema apostilado prevê que aquele conteúdo, não importa o contexto, vai dar certo”, preocupa-se. Mas ressalva que, com a intervenção docente, é possível sempre fazer a ponte entre o conteúdo do material didático e o universo dos alunos. Assim como os coordenadores devem fazer com o material teórico que trazem para os docentes. Ou seja, em ambos os casos a principal missão é criar pontes para dar significado ao conhecimento. 


+ Leia mais:


– O papel do coordenador pedagógico


– Coordenadores pedagógicos não têm formação específica


– Entenda o processo seletivo dos coordenadores pedagógicos

Autor

Carmen Guerreiro


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Luciana Machado

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