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O duro ofício de, realmente, ser um educador

Publicado em 10/09/2011

por José Pacheco

Aqui vai mais um textinho azedo, para variar…  A semana foi dura, muito por obra e graça do talibanismo de certos “professores”. “Professores” (com aspas!) eivados de viciosos fundamentalismos, presumindo que a escola sempre foi assim e assim continuará a ser…

Felizmente, serão minoria. Prefiro escutar os professores sem aspas. Como o Carlos:

Ao regressar à escola, deparei com uma realidade estagnada no tempo. Deparei com uma escola culturalmente insignificante para as crianças. Deparei com um mundo que julgava ultrapassado. O que mais me espantou foi a falta de profissionalismo dos professores e a sua ligeireza de comportamentos! Fiquei siderado com coisas a que assisti e outras que vim a saber. Percebi que, no tempo em que estive afastado da escola, defendi, freqüentemente, autênticos assassinos de futuros.


No entanto, foi mais que óptimo sentir aquele prazer diário de voltar à escola!!! Sentir-me um Peter Pan que, todos os dias, mergulha num mundo mágico e leva consigo a Fada Oriana para mostrar às crianças que há outra escola na escola. Pensei que uma nova escola se poderia construir rapidamente e em qualquer lado. Daí que, ao fim de pouco tempo, tenha ficado ligeiramente desanimado. Há séculos a percorrer. Mas lembrei-me de um poema da Clarice Lispector, que nos diz que mais importante que a velocidade é a direcção. E fui construindo um caminho feito de pequeninos passos, quantas vezes feitos de pequenos desânimos…

As escolas são lugares habitados por sombras e rituais cinzentos. Os professores com aspas são minoria, mas uma minoria bem activa. É sabido que qualquer mudança só será possível com os professores que temos, que a mudança acontecerá quando os professores quiserem. Mas também sabemos que há quem não queira e se arrogue o direito de não querer.

Que dizer aos professores lesados pelos que “não querem”? Que hei-de dizer à Laura, que me escreve, indignada:


Nesta escola, eu estou a empedrecer. Vê lá tu que um aluno – o Alex –  ficou sem intervalo e sem aula de Educação Física. Foi mandado, de castigo, para a biblioteca. Só porque a professora não quis saber por que razão o aluno não tinha feito os deveres de casa. O aluno passava a noite na rua, catando papelão.

Neste ano, já mudaram de turma quatro alunos. E mandaram outros quatro para outras escolas. A directora da escola mandou um “convite” à mãe do Alex, para que ela o mudasse para outra escola. Um “convite”! Que cobardia! Ficou um clima difícil de aguentar, quando eu defendi os direitos do Alex. Ele estava sendo maltratado pela professora da sua classe, só porque “não acompanhava a turma”… Ameaçaram-me por eu o ter defendido. E perguntaram-me se eu o queria na minha turma. Eu respondi que sim. E, no dia seguinte, ele já estava na minha sala. Até hoje, o Alex nunca me desrespeitou. E eu encontro sempre um tempo para o ajudar.

Professoras como a Laura fazem-me sentir orgulhoso de ser professor. Por ela e por outros professores é que eu escrevo. E não me venham dizer que só falo sobre o que está errado. Não é verdade. E a quem convém branquear o que é cinzento?

Que hei-de responder? Talvez que tudo o que ela denuncia é aprendizagem. E que, como diria Cecília Meireles, “aprender é sempre adquirir uma força para outras vitórias, na sucessão interminável da vida”.

Autor

José Pacheco


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